Nº21 – Premiação

Ideias verdes

Prêmio Responsabilidade Socioambiental homenageia iniciativas que contribuem para preservação do meio ambiente

Gisele Machado | gisele@saopaulo.sp.leg.br

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SUSTENTÁVEL - Numa cidade dominada pelo concreto, o Centro Cultural São Paulo destaca-se pela horta coletiva no telhado e vizinhança arborizada Fotos: Carlos Rennó/CCSP
SUSTENTÁVEL – Numa cidade dominada pelo concreto, o Centro Cultural São Paulo destaca-se pela horta coletiva no telhado e vizinhança arborizada
Fotos: Carlos Rennó/CCSP

 

A sabedoria acumulada por um grupo indígena do Xingu (MT) ensinou que, quando a população aumenta muito, é hora de criar outra aldeia pra abrigar parte dos integrantes. Assim, eles evitam chegar ao ponto em que estão São Paulo e outros grandes centros, que sofrem com a intensa poluição. “É um despropósito que uma cidade cortada por dois rios não possa usar um litro dessa água para beber”, lamenta Washington Novaes, jornalista e há mais de 30 anos documentarista ambiental dedicado, principalmente, à causa indígena.

“Os índios que moram na cidade de São Paulo têm modos de vida igual ao dos brancos, mas muitas coisas a nos ensinar”, acredita Novaes . Em junho, ao lado da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) e do programa Repórter Eco, da TV Cultura, ele recebeu o Prêmio Responsabilidade Socioambiental, criado pela Resolução nº 2 de 2011 da Câmara Municipal de São Paulo (CMSP). Os eleitos são escolhidos por uma comissão com membros do Legislativo, Executivo, da imprensa, da área acadêmica e da sociedade civil organizada.

ANÁLISE - Segundo Otávio Okano, da Cetesb, automóveis são os maiores poluentes do ar Foto: Divulgação Cetesb
ANÁLISE – Segundo Otávio Okano, da Cetesb, automóveis são os maiores poluentes do ar
Foto: Divulgação Cetesb

 

Atualmente semanal, o Repórter Eco surgiu em 1992 para fazer a cobertura diária da Eco-92, Conferência Mundial das Nações Unidas sobre meio ambiente realizada no Rio de Janeiro. Suas reportagens e análises falam sobre qualidade de vida e meio ambiente ao abordar temas como o localismo, que pressupõe concentrar as atividades diárias ao redor de onde se vive, com ganhos ambientais e de qualidade de vida. De acordo com o movimento localista, “o morador terá como opção deixar o carro na garagem, e o resultado é economia de tempo e dinheiro, além de reduzir a poluição”, diz a editora-chefe do programa, Vera Diegoli.

Outra solução para melhorar a vida nas grandes cidades, as hortas urbanas comunitárias também já foram tema do Repórter Eco. Em uma das edições, os jornalistas mostram que grupos organizados em alguns bairros de São Paulo já começam a aproveitar os espaços públicos ociosos para plantar alimentos orgânicos, livres de agrotóxicos. “Diante do caos urbano, pessoas sensíveis e exigentes procuram reproduzir o antigo costume de seus antepassados, imigrantes italianos ou portugueses, que aqui se estabeleceram e trouxeram o hábito de cultivar hortaliças no quintal ou em algum pequeno espaço de casa”, explica Diegoli.

Com a autorização da Prefeitura, o grupo Hortelões Urbanos, assunto de outra edição do Repórter Eco, transforma terrenos baldios abandonados em solo descontaminado e fértil para o plantio de verduras e legumes, sem o uso de agrotóxicos. A colheita é, depois, compartilhada entre os vizinhos. “Além do resgate desse hábito saudável, o movimento acaba por incentivar o cuidado e o carinho dos moradores para com a cidade que os acolhe”, comenta a editora-chefe.

PREMIADA - Vera Diegoli (à esquerda), editora-chefe, e Teresa Cristina de Barros, pauteira do Repórter Eco, programa que traz soluções ecológicas para os centros urbanos Foto: Jair Magri/TV Cultura
PREMIADA – Vera Diegoli (à esquerda), editora-chefe, e Teresa Cristina de Barros, pauteira do Repórter Eco, programa que traz soluções ecológicas para os centros urbanos
Foto: Jair Magri/TV Cultura

 

A Cetesb, terceira premiada pela CMSP, é a agência do governo do Estado responsável pelo controle, fiscalização, monitoramento e licenciamento de atividades geradoras de poluição, com o objetivo de preservar e recuperar a qualidade das águas, do ar e do solo. Segundo seu presidente, o engenheiro Otávio Okano, os veículos automotores são a principal fonte de emissão de poluentes atmosféricos na cidade. Por isso, além do controle já exercido pelo governo, ele acredita ser fundamental uma mudança na cultura dos paulistanos.

Para Okano, a melhora do ar exige priorização do transporte coletivo, da bicicleta, da caminhada e de outros meios de transporte menos poluentes. “Acrescente-se que a população ainda pode adotar algumas medidas simples, como manter seu veículo regulado, evitar trafegar em horário de pico e oferecer carona ao vizinho”, sugere.

 

“Não há em São Paulo uma restauração da qualidade do ar” Foto: João Novaes
“Não há em São Paulo uma restauração da qualidade do ar”
Foto: João Novaes

Entrevista
Washington Novaes

Ganhador do Prêmio Responsabilidade Socioambiental da CMSP, Washington Luíz Rodrigues Novaes já recebeu também, por sua série de documentários Xingu – A terra mágica, as medalhas de ouro no Festival de Cinema e TV de Havana de 1990 e no Festival Internacional de TV de Seul, Coreia do Sul, de 1985. Seu conjunto de artigos sobre a Eco-92 para o Jornal do Brasil venceu, em 1992, o Prêmio Esso Especial de Ecologia e Meio Ambiente. Abaixo, a entrevista concedida à Apartes:

Entre todas as questões ambientais da cidade, qual a mais preocupante?

São Paulo não tem um Plano Diretor para toda a cidade, [que inclua também] a região metropolitana e a Grande São Paulo, porque não consegue fazer uma ligação mais ampla das questões. Sem isso, uma área vai receber da outra problemas como esgoto, drenagem urbana, poluição do ar.

Como tem evoluído o reflorestamento na cidade e ao seu redor?

Na cidade de São Paulo, na Grande São Paulo, nas áreas com alta densidade de ocupação não tem reflorestamento, nem preservação. Tem um pouco de mata atlântica nas áreas mais altas, na Serra do Mar, e isso faz muita falta para a cidade. Não há uma restauração da qualidade do ar através dos serviços da mata.

Quais ações ambientais trazem alguma esperança?

Começa-se a tratar da legislação de ocupação do solo: onde pode ser ocupado, como, quais são os limites de ocupação, inclusive verticais. Esse avanço em direção a uma legislação mais eficiente é para dar trabalho e esperança. Estabelecer limites e fiscalizar é uma coisa muito importante. Quando não se obedecem as porcentagens de ocupação do solo, que é impermeabilizado com asfalto e concreto, a água da chuva não tem como se infiltrar e tem que correr para as margens dos rios, provocando inundações nesses caminhos.

Como vê a questão indígena na capital?

Os índios que moram na cidade de São Paulo têm poucas áreas demarcadas e modo de vida igual ao dos brancos, mas têm muitas coisas a nos ensinar. Índio é muito cuidadoso quando vive no seu hábitat primitivo, de acordo com seus modos de vida tradicionais. Numa aldeia do Xingu, quando se chega a um determinado número de habitantes que pode criar problemas, parte da população fica e parte vai para outro lugar. É uma medida de sabedoria não deixar acontecer os problemas que pode haver nas nossas cidades. Um dos que acho muito preocupantes é a questão da água. É um despropósito que uma cidade cortada por dois rios como Tietê e Pinheiros não possa usar um litro dessa água para beber.

 

SAIBA MAIS

Sites
Cetesb. http://www.cetesb.sp.gov.br
Repórter Eco. http://tvcultura.com.br/programas/reportereco