São Paulo nas telas
Recém-criada, agência SPCine pretende impulsionar setor audiovisual da cidade
Rodrigo Garcia | rodrigogarcia@saopaulo.sp.leg.br
PONTE ESTAIADA: Cena do filme Ensaio sobre a Cegueira, com a ponte Octávio Frias de Oliveira ao fundo
Divulgação
Mesmo quem nunca esteve em Nova York facilmente reconhece a cidade quando vê seus pontos turísticos, como o Central Park ou a Estátua da Liberdade, no cinema. Essas lembranças surgem porque muitas cenas de filmes e seriados são feitas nesses locais graças à ajuda, por parte do governo municipal, às produtoras.
Já a cidade de São Paulo, como ainda não contava com esse auxílio, tem pouca presença nas telas do mundo e até do País. Para tentar solucionar essa carência, a Prefeitura e os governos estadual e federal se uniram para criar a Empresa de Cinema e Audiovisual de São Paulo, a SPCine. A principal missão será facilitar e desburocratizar a economia audiovisual da cidade.
O prefeito Fernando Haddad (PT) queixou-se do número excessivo de licenças exigidas atualmente para se filmar na capital paulista. “Não podemos ter tantas”, disse ele na cerimônia de entrega do Projeto de Lei (PL) 772/2013, que cria a SPCine, ao presidente da Câmara Municipal de São Paulo (CMSP), José Américo (PT), em 31 de outubro, no Palácio das Artes, com a presença de várias autoridades e cineastas. “Nos últimos anos, a Câmara vem aprovando vários projetos sobre a cultura, mas havia uma lacuna em relação ao cinema; a SPCine chega em muito boa hora”, afirmou Américo na ocasião.
Em 3 de dezembro, os vereadores aprovaram o projeto por unanimidade, sob os aplausos de vários diretores e produtores que lotaram as galerias da Câmara. O prefeito deve sancionar a lei em breve e a previsão é que a SPCine comece a funcionar nos primeiros meses de 2014.
Toni Venturi, ex-presidente da Associação Paulista de Cineastas (Apaci), é um dos diretores de cinema que ajudaram a montar o PL. “Passei a frequentar essa Casa há alguns anos, lutando pela emancipação do cinema, e hoje eu me sinto muito à vontade aqui. Este é um lugar onde a gente encontra respaldo.”
Na sessão em que o projeto foi aprovado, o vereador Orlando Silva (PCdoB) ressaltou que sua expectativa é que a SPCine tenha como marca a eficiência. “Nos debates com representantes do setor, sempre percebi uma preocupação com a eficiência, com a agilidade, com a capacidade operacional que essa empresa deve ter, e isso está plenamente contemplado nesse projeto.”
O vereador Andrea Matarazzo (PSDB) declarou ser fundamental que a SPCine não se transforme em uma agência aparelhada. “É importante que não tenha grupos que se assenhorem dela, que seja absolutamente transparente e democrática. Que seus recursos sejam canalizados para a atividade fim, o cinema.”
Na cerimônia de entrega do projeto, a ministra da Cultura, Marta Suplicy (PT), declarou que a indústria cinematográfica “traz como resultado um produto que alegra a alma e enriquece nossa cultura”. Segundo ela, “o cinema é um dos meios mais eficazes de criar uma imagem do País, registrando movimentos históricos e características culturais, e São Paulo poderá contribuir muito com isso”.
Por sua vez, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse que o projeto celebra a união de esforços. “Estamos por terra, mar e ar”, disse, em uma referência às três esferas de governo envolvidas no projeto. “Estamos imitando o cinema, que sempre trabalha em equipe, pois esse projeto não é trabalho isolado.”
Muitas plataformas
A SPCine investirá em produtos e serviços ligados a atividades audiovisuais, apoiará eventos promocionais no Brasil e no exterior, promoverá formação e capacitação profissional, subsidiará pesquisa e desenvolvimento científicos e financiará ou apoiará a construção de espaços físicos. Terá, ainda, atuação como film comission, órgão que facilita as filmagens nos espaços públicos da cidade de São Paulo.
De acordo com o prefeito, a SPCine vai fomentar a produção cinematográfica, publicitária, televisiva, de games, de animação e de conteúdos transmídia, criados para serem veiculados em diferentes plataformas, das telas do cinema às dos aparelhos celulares. “A SPCine é para todo mundo: para quem está produzindo audiovisual com complexidade para ter penetração internacional, até para aquela garotada que está na periferia esperando recursos para se desenvolver. Vai ter espaço para todo tipo de produção”, disse Haddad. “É um enxoval completo.”
No mundo, poucas cidades têm uma instituição para cuidar especialmente do cinema. Entre elas, estão Nova York, Seul, Buenos Aires e Rio de Janeiro, onde desde 1992 existe a RioFilme. Por esse motivo, técnicos da Secretaria de Cultura de São Paulo estudaram o modelo da agência carioca antes da criação da SPCine.
“Seria um erro se apenas copiássemos a RioFilme”, disse o secretário municipal de Cultura, Juca Ferreira. “Analisamos a experiência e extraímos o que achamos de bom. Há uma diferença de perspectiva entre as cidades e as agências. Mas o trabalho será muito mais de cooperação do que de concorrência.” E completou: “Queremos fortalecer os laços não só entre São Paulo e Rio de Janeiro, mas no resto do País”. Também ajudaram no projeto de criação da SPCine associações de cineastas, roteiristas, produtores de TV, animadores e desenvolvedores de jogos digitais.
Com tanto entusiasmo dos profissionais da indústria audiovisual e das autoridades, um dia, quem sabe, os nova-iorquinos assistirão a um filme rodado no Vale do Anhangabaú ou no Parque do Ibirapuera e, rapidamente, reconhecerão São Paulo.
Muitas produtoras, pouca produção
Na justificativa do Projeto de Lei (PL) que enviou à Câmara criando a SPCine, o prefeito Fernando Haddad mostrou um retrato paradoxal da situação audiovisual da cidade: há muitas produtoras e pouca produção.
Segundo ele, São Paulo concentra o maior número de produtoras do Brasil: ultrapassa o número de 500 e reúne as mais importantes em termos de volume de negócios e de geração de empregos e renda. Mas isso não se reflete na bilheteria e na audiência dos filmes. Em 2011, por exemplo, foram produzidos 32 filmes paulistas, ante 43 realizados no Estado do Rio de Janeiro.
Na realidade, percebe-se que nos últimos anos muitas produtoras têm realizado suas filmagens em outras cidades devido às dificuldades de filmar e produzir em São Paulo. Além disso, a capacidade de mobilizar recursos de incentivos fiscais por produtoras paulistanas foi, nos últimos 10 anos, 30% menor do que a das produtoras do Rio de Janeiro, de acordo com dados da Agência Nacional de Cinema (Ancine).
Apesar do crescimento da produção cinematográfica brasileira na última década, com 83 lançamentos nacionais e 15 milhões de espectadores em 2012, existe um estrangulamento na fase da distribuição dos filmes, em um mercado exíguo, competitivo e concentrado em títulos importados, informou Haddad.
Sendo o maior mercado exibidor do Brasil, o Estado de São Paulo é decisivo para impulsionar o desenvolvimento econômico do audiovisual não só local, mas nacional.
Logo, concluiu o prefeito, é necessário um esforço maior para promover e inserir os filmes e conteúdos audiovisuais paulistanos e brasileiros no mercado paulista, o que, segundo ele, é um “fator estratégico para o desenvolvimento econômico e a ampliação do público”.
Haddad também informou que vem aumentando a demanda por roteiristas, quadros técnicos e fotógrafos. Atualmente, a formação na área técnica audiovisual é um dos gargalos do desenvolvimento do audiovisual no País.
Sampa em cartaz
Alguns filmes que mostram a cidade
São Paulo, Sinfonia da Metrópole
O Homem que Virou Suco
São Paulo Sociedade Anônima
O Corintiano
Ensaio sobre a Cegueira
Anjos do Arrabalde
Linha de Passe
Salve Geral
O Signo da Cidade
Chega de Saudade
Antonia
O Invasor
Bem-vindo a São Paulo
Facilitar e desburocratizar
Principais objetivos da SPCine
Elaborar políticas para o desenvolvimento econômico, cultural, tecnológico e científico
Subsidiar e investir na realização de produtos e serviços
Investir em eventos promocionais no País e no exterior
Distribuir produtos audiovisuais
Atuar como film comission, órgão que facilita filmagens em espaços públicos
Apoiar ações de formação de pessoas para a indústria audiovisual
Incentivar ações de pesquisa científica e artística
Investir no desenvolvimento de empresas da atividade audiovisual