Paulistanos do mundo inteiro
Honraria reconhece trajetória de notáveis nascidos fora da capital
Gisele Machado | gisele@saopaulo.sp.leg.br
CONSTRUÇÃO – Lima Duarte mudou-se para a capital aos 15 anos e sente que ajudou a construí-la: “É um amor quase físico”
Acervo CMSP
Ele é nascido em uma pequena vila da África do Sul, ganhou o Prêmio Nobel da Paz, viveu e morreu em seu país como um respeitado líder. Desde 1990, é também um cidadão paulistano honorário. Há seis décadas, Nelson Mandela e outras personalidades que não nasceram em São Paulo, mas prestaram grandes serviços à humanidade ou à sociedade brasileira, podem compartilhar simbolicamente a mesma cidadania dos paulistanos.
Para conceder um Título de Cidadão Paulistano (TCP), o vereador da Câmara Municipal de São Paulo (CMSP) deve apresentar Projeto de Decreto Legislativo e receber voto favorável de, pelo menos, 37 parlamentares em votação única. É necessário comprovar a concordância do possível homenageado ou de seu representante. Também é preciso anexar a biografia do futuro cidadão paulistano, para mostrar que é digno da honraria, além de certificar que ele não está no exercício de cargos ou funções executivas. Cada vereador pode conceder até oito honrarias – entre elas o TCP – ao longo dos quatro anos do mandato.
Desde os anos 1950, ganharam o título personagens como o maestro carioca Villa-Lobos, o jornalista paraibano Assis Chateaubriand, o escritor baiano Jorge Amado, o reverendo norte-americano Martin Luther King Junior, o médium mineiro Chico Xavier, o rei do baião pernambucano, Luis Gonzaga, o ex-jogador mineiro Pelé, o professor pernambucano Paulo Freire, o ator mineiro Lima Duarte e a cantora baiana Daniela Mercury.
Em 2007, ao receber sua cidadania paulistana, Lima Duarte, nascido em Sacramento (MG), fez um discurso emocionado: “Minha relação com São Paulo é de um amor quase físico, pedra por pedra, paralelepípedo por paralelepípedo, esquina por esquina, bonde por bonde, mulher por mulher, luz… Tudo nesta cidade foi feito por mim”. O ator mudou-se para São Paulo aos 15 anos, sozinho, por ordem do pai e transportado em um caminhão de manga. Nos primeiros dias, dormiu na rua, em frente ao Mercado Municipal, que acha “lindíssimo”.
A despeito de unanimidades como Lima Duarte, o título de cidadão paulistano já foi alvo de polêmica ao homenagear, por exemplo, o presidente da Federação Internacional de Futebol (Fifa), o suíço Joseph Blatter. A honraria foi recebida em 2013 por seu representante, o secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, sob protestos de populares que questionavam a realização da Copa do Mundo no Brasil. Outro ponto fora da curva é o médico Roger Abdelmassih, renomado especialista em reprodução assistida que acabou condenado em 2010 por abusar sexualmente de suas pacientes. Ele recebeu o TCP em 2002, mas a homenagem foi revogada em 2009.
De modo geral, os homenageados costumam trazer muitos admiradores às sessões em que recebem a cidadania honorária. A chefe do Cerimonial da CMSP, Cecilia de Arruda, conta que as solenidades já lotaram, simultaneamente, dois auditórios da Câmara, que, somados, têm cerca de 600 assentos. “Trata-se de um título que só a Câmara Municipal pode dar. Por isso, quem recebe, seja uma excelência nas Artes, Direito, Medicina, Esporte ou em tantas outras áreas, tem um mérito muito grande, fica honrado pelo reconhecimento de sua importância para a nossa cidade, que é a maior da América Latina”, diz a cerimonialista.
Algumas personalidades que receberam o TCP
Fotos: Acervo CMSP