Nº06 – Ecoturismo

Selva de perto

Lei cria Polo de Turismo para promover uma das últimas grandes áreas verdes de São Paulo

Gisele Machado | gisele@saopaulo.sp.leg.br
Colaborou Bruna Cavalini

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BILLINGS – No extremo sul de São Paulo, o encontro da cidade com a mata atlântica nativa

Gute Garbelotto/CMSP

A 30 quilômetros da Praça da Sé, ainda na cidade de São Paulo, uma pequena trilha por um denso bambuzal leva ao silencioso esconderijo de bugios-ruivos. Mais alguns passos, e chega-se à praia onde as garças pescam a comida de seus filhotes, que lutam para se equilibrar no alto das árvores. Esse tesouro natural fica na Ilha do Bororé – uma península banhada pela Represa Billings que, desde janeiro, integra o Polo de Ecoturismo Parelheiros/Marsilac/Ilha do Bororé, criado no extremo sul da capital paulista pela Lei 15.953/2014. “Quando você chega à região, sente como se estivesse em uma cidade pequena do interior”, descreve o autor da legislação, vereador Alfredinho (PT), da Câmara Municipal de São Paulo (CMSP).

A mata atlântica, um dos biomas mais ricos e ameaçados do planeta, é o palco do tranquilizante e onipresente canto dos pássaros – às vezes combinado com o som das nascentes que alimentam as Represas Billings e Guarapiranga. Essa formação florestal ocupa grande parte das Áreas de Proteção Ambiental (APAs) Bororé-Colônia e Capivari-Monos, que formam o Polo juntamente com o restante da Subprefeitura de Parelheiros (veja mapa abaixo).

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Na Capivari-Monos, a maior área de proteção ambiental de São Paulo, além das propriedades de cultivo agrícola, a floresta abriga espécies animais como a onça-parda, a jaguatirica e o mono-carvoeiro, o maior macaco das Américas. Todos são considerados ameaçados de extinção pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama). A APA Bororé-Colônia tem aspecto mais urbano, mas lá são comuns animais como gato-do-mato (ameaçado de extinção), pavão-do-mato, anta e bugio-ruivo, cujo poderoso grito pode ser ouvido em toda a mata.

Rota de jesuítas e índios entre os séculos 16 e 19, devido à qualidade dos rios, cachoeiras e riachos, por toda a região também podem ser encontrados outros bichos característicos: tucano, periquito, joão-de-barro e a perereca-flautinha, cujo nome remete ao seu belo canto. Ao lado dessas atrações naturais, há ainda duas aldeias indígenas e pontos de visitação históricos, religiosos, gastronômicos e culturais (veja os roteiros no final).

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AUTOR – Vereador Alfredinho, idealizador do Polo de Ecoturismo

Gute Garbelotto/CMSP

Os 361 km² do Polo são habitados por 139 mil pessoas, pouco mais de 1% da população paulistana. Esses números referem-se somente à Subprefeitura de Parelheiros, cujos distritos (Parelheiros e Marsilac) ocupam a maior parte do Polo e 24% do território paulistano. Há pelo menos uma década, esse espaço passou a receber também os ecoturistas.

A estrutura do local ainda é incipiente para receber os visitantes. Há pousadas, restaurantes e guias turísticos, mas é difícil conseguir informação e a sinalização praticamente inexiste. Sua grande extensão torna mais complicado estruturar um roteiro. A lei, entretanto, vem para disciplinar e normatizar o uso turístico do patrimônio natural, para gerar recursos, negócios, renda e empregos, com respeito ao meio ambiente e seguindo o conceito de ecoturismo do Ministério do Meio Ambiente.

Passos iniciais

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O projeto aprovado na CMSP, sancionado pelo Executivo e à espera de regulamentação, prevê que a proteção e utilização do local incluam melhorias de sinalização turística, segurança, transporte, informação, conservação, limpeza, hospedagem de baixo custo e combate à exploração de crianças e adolescentes. No documento, a Prefeitura se compromete a buscar incentivos fiscais, especialmente, para microempresas de hotelaria, artesanato, comércio, turismo e eventos.

O primeiro passo já foi dado. O Fundo de Desenvolvimento Urbano (Fundurb) da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU) acaba de liberar R$ 15,5 milhões à Subprefeitura de Parelheiros para construir quatro portais de acesso ao turista, três conjuntos de banheiros e vestiários para suporte turístico, 120 km de ciclovias e alargamento do último trecho da Avenida Sadamu Inoue, principal via de acesso ao Polo. “Essa ciclovia deve começar na Sadamu Inoue e ir até a barragem onde estão as duas aldeias indígenas do Polo”, explica Alfredinho. O vereador diz que as vias de acesso às aldeias estão abandonadas. Afirma, ainda, que existem problemas de saúde entre os indígenas, como o alcoolismo: “A intenção da lei é também melhorar a infraestrutura das comunidades, a condição de vida dos índios, desde saúde até educação”.

Para a coordenadora de Planejamento e Desenvolvimento Urbano da Subprefeitura de Parelheiros, Loide Cruz Vidal Parlato, a destinação de verba indica vontade política de viabilizar o Polo de Ecoturismo. Agora, o Município pode fazer também convênios, com órgãos estaduais e federais, em projetos de desenvolvimento sustentável para a região delimitada pela Lei 15.953.

Em cinco anos a partir da criação do Polo, os empresários da região esperam receber 1 milhão de turistas anualmente. Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), o ecoturismo é o que mais cresce no mundo, em média 20% ao ano. “A ideia da lei é que a região passe a ser do conhecimento da cidade de São Paulo; que todo paulistano desfrute desse trecho da cidade, que é muito belo”, diz Alfredinho.

Transporte hidroviário

O Projeto de Lei (PL) 54/2013, em tramitação na CMSP, prevê infraestrutura de transporte para a região do Polo. O PL cria o Sistema de Transporte Público Hidroviário nas Represas Guarapiranga e Billings e nos Rios Tietê e Pinheiros. O texto considera o uso de embarcações que se desloquem tanto na água quanto no solo, para conseguir transpor as barreiras nos cursos dos rios.

O sistema hidroviário seria integrado ao de transporte coletivo municipal. O objetivo é oferecer uma alternativa menos poluente e com grande capacidade de transporte – até 200 pessoas por embarcação. O PL, do vereador Ricardo Nunes (PMDB), já foi aprovado em primeira votação.

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Área de Proteção Ambiental (APA)

Unidade de conservação que funciona em parceria com a comunidade, destinada a proteger e conservar a qualidade ambiental e os sistemas naturais ali existentes, para a melhoria da qualidade de vida da população local e para a proteção dos ecossistemas regionais. Inclui áreas públicas e privadas. O uso dos recursos naturais não é proibido, mas regulado.

Ecoturismo

Todas as formas de turismo em que a motivação principal do turista é a observação e apreciação da natureza, de forma a contribuir para a sua preservação e minimizar os impactos negativos no meio ambiente natural e sociocultural onde se desenvolve.

Fontes: Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo e Organização Mundial do Turismo

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