Prédios vivos
Uso de vegetação em telhados é uma tendência que promete gerar economia e bem-estar
Gisele Machado | gisele@saopaulo.sp.leg.br
Mozart Gomes/CMSP
Em trinta anos, as edificações paulistanas espelharão um misto de arquitetura e tecnologia voltada à produção de energia, alimentos, cuidado com a água consumida ali e o clima ao seu redor, prevê Paulo Pellegrino, professor doutor na Universidade de São Paulo (USP) e idealizador do LabVerde, que estuda estruturas paisagísticas associadas às edificações. “Os prédios serão quase ciborgues, terão praticamente uma pele viva”, vislumbra o também arquiteto, urbanista e paisagista.
Um dos pilares da chamada bioarquitetura é o telhado verde, cobertura vegetal que substitui desde telhas até as camadas impermeabilizantes nas lajes de concreto. Seu uso já é disseminado em países como Alemanha, Estados Unidos, Holanda e Suíça. A cidade norte-americana de Seattle é uma das pioneiras. Intensos, seus verões e invernos são amenizados pelos tetos ecológicos, que proporcionam menor oscilação de temperatura. A camada de vegetação torna o ambiente abaixo dela menos dependente de aquecedor ou ar-condicionado.
Nas épocas quentes, o resfriamento e a umidificação gerados pela vegetação também suavizam as ilhas de calor nos grandes centros urbanos – consequência da grande impermeabilização do solo. Em uma cidade como São Paulo, outro benefício é reter a chuva nos 15 minutos iniciais, até que ela comece a escoar pelos bueiros, o que diminui o risco de enchente. Boa parte dos telhados verdes devolve pouca água às ruas, já que ela é estocada em reservatórios para uso na limpeza do prédio ou na irrigação das plantas.
Mozart Gomes/CMSP
Consultor técnico em Arquitetura da Câmara Municipal de São Paulo (CMSP), Carlos Minoru Morinaga diz que se a cidade tivesse um corredor de tetos verdes, interligando as matas localizadas ao redor do Município, mais espécies de aves voariam pelos prédios. “O telhado pode criar paisagens urbanas que simulam funções ecológicas e hidrológicas dos ambientes naturais e permitem que animais transitem de uma massa verde a outra”, comenta Morinaga.
Mesmo longe desse cenário ideal, as pequenas manchas verdes das lajes paulistanas já servem como pontos de descanso para as aves e também podem recriar hábitats. O importante é usar vegetação nativa e criar ciclos em que um animal se alimente de outro, para evitar pragas. Na capital paulista, o telhado verde mais famoso é o da Prefeitura, construído há 45 anos, com árvores de grande porte em 487 metros quadrados. Desde então, poucos edifícios aderiram ao conceito na metrópole.
Cultura
Uma cobertura ecológica pode custar menos do que a convencional e ainda protege a laje contra chuva, vento e oscilações térmicas. Sua estrutura tem vida útil equivalente à do prédio e não requer reforma. As vegetações mais elaboradas demandam manutenção como a poda e irrigação, que pode ser automatizada. Mas, se a ideia não é transformar o telhado em área de lazer, não são necessários tantos cuidados.
O peso também não é problema, porque novas tecnologias têm deixado cada vez mais leves o substrato (solo preparado) e os sistemas de impermeabilização e drenagem. Com isso, até a maioria das edificações já existentes podem adaptar-se a um telhado verde, desde que tenham a supervisão de profissionais experientes.
O que falta, então, para os edifícios aderirem às coberturas ecológicas? Segundo especialistas, é necessário mudar a cultura do brasileiro. “São Paulo precisa ter um incentivo do Poder Público, como já ocorre no exterior, para as pessoas se sentirem tentadas a adaptar, porque esses prédios serão menos danosos ao ambiente urbano, consumirão menos energia, trarão uma série de elementos positivos para a cidade”, opina Pellegrino. “Ainda há um longo caminho a ser percorrido para a implantação deste tipo de cobertura, demandando, principalmente do Poder Público, a promoção de incentivos”, concorda Humberto Catuzzo, autor da tese Telhado Verde: Impacto Positivo na Temperatura e Umidade do Ar. O Caso da Cidade de São Paulo, defendida em 2013 na USP.
Alguns projetos de lei (PLs) em tramitação na CMSP atendem a essa demanda (veja box). O PL 115/2009, da vereadora Sandra Tadeu (Democratas), obriga novos condomínios com mais de três unidades verticais a terem telhados verdes. “Queremos aprovar um substitutivo, com a anuência do Executivo, que adicione algum incentivo, como o abate no IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano)”, comenta a parlamentar. Sandra Tadeu defende que o telhado verde pode aprimorar o aspecto urbano e o microclima, com a transformação do dióxido de carbono em oxigênio pela fotossíntese.
O PL 282/2011, do vereador Aurélio Miguel (PR), determina a priorização de telhados verdes na construção dos Centros Educacionais Unificados (CEUs). O vereador conta que, quando era atleta, verificou em suas viagens internacionais que as praças esportivas e outros imóveis dedicados ao serviço público adotam o telhado verde há décadas. Para ele, o Poder Público deve servir de exemplo na busca por melhores condições ambientais. “Os CEUs são uma obra pública de grande visibilidade pela população. Ao garantir que essas iniciativas exibam em si soluções modernas e ecológicas, contribui-se para que essas ideias ganhem corpo e se disseminem pela sociedade”, afirma.
Assessoria de Imprensa Pr. Edemilson Chaves
Juntos, os vereadores Alfredinho (PT) e Pr. Edemilson Chaves (PP) assinam o PL 388/2013, que prevê desconto no IPTU a edifícios com mais de quatro pavimentos que adotem vegetação perene em parte ou totalidade de sua fachada. As paredes ecológicas têm várias vantagens em comum com os telhados verdes, mas podem ser até mais eficientes em quesitos como isolamento acústico, devido à posição entre o edifício e a rua. Chaves acredita que sua proposta tornaria o ar de São Paulo mais puro e a cidade ficaria mais colorida. Ele explica que o incentivo previsto em seu projeto é apenas um “artifício de atração” para que o cidadão se engaje em uma mudança de atitude.
Na parede ou no teto, as coberturas verdes trazem a esperança de transformar as estruturas construídas nas cidades em uma superfície ecologicamente sustentável, destinada ao controle climático e das espécies animais.
Soluções e incentivosNo ano passado, a Escola do Parlamento da CMSP promoveu, em parceria com a empresa Basf e a Fundação Espaço Eco, o Ciclo de Debates Edifícios Sustentáveis. O evento discutiu soluções de arquitetura paisagística para aplicação nos telhados. Abordou, também, os possíveis incentivos fiscais para a construção e manutenção de prédios sustentáveis, entre outras medidas para transformar os edifícios paulistanos em locais mais econômicos, recreativos e arborizados. Os temas debatidos serão publicados em livro neste ano. |
Saiba Mais
Site
Associação Internacional do Telhado Verde – www.igra-world.com
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