Projetos que mudam vidas
Prêmio Chico Xavier reconheceu 21 iniciativas humanitárias neste ano
Gisele Machado | gisele@saopaulo.sp.leg.br
Marcelo Ximenez/CMSP
No dia 11 de junho, a publicação de uma portaria do Ministério da Saúde trouxe a promessa de ajudar pequenos brasileiros com doenças cardíacas. Na data, o governo incorporou o teste do coraçãozinho à triagem neonatal do Sistema Único de Saúde (SUS), para detectar cardiopatias graves que, sem diagnóstico, podem levar à morte ainda no primeiro mês de vida do bebê. O pontapé inicial dessa conquista foi dado na Câmara Municipal de São Paulo (CMSP).
“O interessante é que começou aqui, na Câmara Municipal, que lançou a ideia em forma de projeto de lei (PL) pela primeira vez no Brasil”, diz Maria Adriana Rebordões, uma das fundadoras e presidenta da Associação de Assistência à Criança Cardiopata Pequenos Corações. Ela, que perdeu um filho com cardiopatia em 2009, conta ter escrito uma proposta de PL com a ajuda de médicos e apresentado ao vereador Eliseu Gabriel (PSB). O parlamentar transformou a sugestão no PL 436/2011, que obriga a realização do exame de oximetria de pulso para detectar cardiopatia congênita nos nascidos em maternidades da cidade de São Paulo.
O projeto, segundo Maria Adriana, foi replicado em diversas casas legislativas pelo País até ser incorporado pelo Ministério da Saúde. Para Eliseu Gabriel, a sociedade civil organizada se fortalece ao atuar nos parlamentos. “O texto foi aprovado em várias cidades graças à militância”, diz. Para estimular parcerias como essa, a CMSP instituiu, pela Resolução 8/2013, o Prêmio Chico Xavier de Reconhecimento Humanitário, entregue pela primeira vez em 30 de junho passado. A entidade de Maria Adriana foi uma das premiadas.
A honraria, idealizada pelo vereador Calvo (PMDB), é destinada a pessoas ou entidades com destaque em ações solidárias, de estímulo à elevação espiritual e à harmonia entre os indivíduos. O nome do prêmio é uma homenagem a Francisco Cândido Xavier, propagador da filosofia espírita, indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 1981. Na época, 2 mil obras sociais haviam sido fundadas ou eram mantidas com o apoio do médium mineiro.
Cada vereador pode indicar um homenageado por ano. Um grupo composto por membros de cinco comissões permanentes da CMSP avalia se os projetos concorrentes se enquadram no foco da premiação, se apresentam soluções inovadoras e criativas, se propiciam melhoria de vida aos atendidos e têm efeito multiplicador. “Queremos a Câmara mais perto da população, estimulando os bons”, diz Calvo, cujo homenageado foi o Centro Espírita Nosso Lar – Casas André Luiz, que oferece 2 mil atendimentos gratuitos por mês a pessoas com deficiência intelectual. A entidade abriga outras 600 pessoas em sua unidade de longa permanência, dedicada aos que precisam de cuidados por toda a vida. O local é hoje “um centro médico, de pesquisa, reconhecido mundialmente”, diz o parlamentar.
Além de Calvo, assinaram a proposta de criação do prêmio Arselino Tatto (PT), Eliseu Gabriel (PSB), Milton Leite (Democratas), Paulo Frange (PTB) e Antonio Carlos Rodrigues (PR – licenciado), além dos ex-vereadores Alcides Amazonas, Domingos Dissei, Farhat, Havanir Nimtz, José Mentor, Raul Cortez, Ricardo Montoro e Wadih Mutran.
Na primeira edição, o Prêmio Chico Xavier homenageou 21 iniciativas. Entre elas, a Oficina Profissionalizante Clube de Mães do Brasil, presidida por Maria Eulina. Ela conta que a entidade dá tratamento a dependentes químicos e os emprega em atividades de reciclagem no Mercado Municipal: “Eles têm documento, conta bancária, já não moram mais nas ruas nem em albergues. Estão contribuindo com o Estado”.
VITÓRIA – À direita, Maria Adriana Rebordões, da premiada Associação Pequenos Corações Marcelo Ximenez/CMSP |
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Paulistano honorário e candidato ao NobelFrancisco de Paula Cândido nasceu em 2 de abril de 1910, na cidade de Pedro Leopoldo, interior de Minas Gerais. Em 1966, mudou oficialmente seu nome para Francisco Cândido Xavier. Sua primeira obra psicografada foi publicada em 1932, a coletânea Parnaso de além-túmulo. Quarenta anos depois da estreia de Chico como escritor, a CMSP concedeu a ele o Título de Cidadão Paulistano. Em um vídeo da época, a reportagem da TV Tupi descreve que a entrega da honraria, ocorrida em maio de 1973 no ginásio do Pacaembu, foi acompanhada por uma “pequena multidão” formada por autoridades federais, estaduais e municipais, representantes de pelo menos 300 entidades espíritas do Brasil e admiradores. Em 1981, uma campanha nacional apoiada por 2 milhões de pessoas indicou Chico Xavier ao Prêmio Nobel da Paz, com o respaldo das 2 mil obras sociais fundadas ou mantidas com o seu suporte. “Ajude e será ajudado”, dizia o médium. Até a morte, em 30 de junho de 2002 na cidade mineira de Uberaba, Chico havia psicografado mais de 400 livros, traduzidos para vários idiomas e com vendas acima de 25 milhões de exemplares. Toda a renda foi repassada a instituições de caridade, com registro em cartório. Sempre recusou, também, o pagamento pelos atendimentos mediúnicos. Começou a trabalhar aos nove anos, como tecelão. De 1935 até a aposentadoria, sustentou-se com o salário de escrevente-datilógrafo do Ministério da Agricultura. |
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