A proteção à Mata Atlântica, bioma de floresta tropical que abrange a costa leste, sudeste e sul do Brasil, foi o principal tema debatido durante o Encontro Nacional sobre Políticas Públicas e Proteção das Florestas Brasileiras, realizado nesta terça-feira (28/5), na Câmara Municipal de São Paulo. A série de debates foi uma iniciativa do vereador Gilberto Natalini (PV), da Rede de ONGs Mata Atlântica e Reserva da Biosfera da Mata Atlântica.
Em cinco mesas de discussão, especialistas convidados se mostraram preocupados com as ações e tendências dos organismos federais sob a atual gestão governamental do país. Preocupação semelhante foi externada por Natalini: “Temos tido um susto por dia nas questões de preservação ambiental no Brasil. Precisamos de uma reorganização e mobilização rápida para combater os dissabores das notícias que surgem, vindas do Planalto”.
Para o arquiteto e ambientalista José Pedro de Oliveira Costa, ex-secretário nacional de Biodiversidade, nem mesmo na época dos governos militares houve uma situação complicada como a atual para a luta contra a degradação ambiental. “A proteção das florestas já é uma espécie de consenso da parte mais civilizada da sociedade brasileira, antes até da Eco 92. E consolidou-se no dever de salvar a Amazônia. Hoje temos outros biomas, como o Cerrado, também em estado de alerta. Mas, apesar de alguns avanços conquistados ao longo dos anos na redução drástica dos índices de desmatamento, estamos diante de discursos que tendem a relaxar essa realidade”, disse Costa.
Segundo o presidente da Rede de ONGs Mata Atlântica, João de Deus Medeiros, o bioma ao qual se dedica é um dos mais maltratados do planeta – e o processo de degradação segue em curso. Segundo ele, os efeitos das alterações, como os climáticos, causam custos cada vez maiores aos entes governamentais. “Já perdemos perto de 90% da área original do nosso bioma para o processo de uso dos recursos naturais e a urbanização. O atual governo, em contrapartida, quer dificultar as ações de combate às ameaças à Mata Atlântica, que é considerada patrimônio nacional”, alertou Medeiros.
Também participante dos debates, o jornalista Aldem Bourscheit lamentou que setores produtores e exportadores de commodities se pronunciem contra a legislação ambiental e façam lobby político com a justificativa de que as vendas externas e os negócios nacionais são prejudicados com as restrições. “Mas o cenário é preocupante. Apesar de as cidades representarem 2% do território do planeta, os impactos causados por essa parcela são em escalas globais. E criam crises como as climáticas e de abastecimento de água”, lembrou o jornalista.
Também participaram do encontro Warwick Manfrinato, engenheiro agrônomo e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP); Claudio Maretti, ex-diretor do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade; Mario Mantovani, diretor da Fundação SOS Mata Atlântica; e Rogério Menezes, presidente da Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente.