Reforma do Anhangabaú é criticada por entidades da sociedade civil

Foto: Luiz França / CMSP

DANIEL MONTEIRO
DA REDAÇÃO

Representantes de coletivos e entidades da sociedade civil criticaram o projeto de reurbanização do Vale do Anhangabaú, na região central, durante reunião, nesta segunda-feira (17/6). O encontro, promovido pelo vereador Eliseu Gabriel (PSB), na Câmara Municipal de São Paulo, teve a participação de membros da SP Urbanismo, empresa pública ligada à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano.

Na ocasião, o presidente da SP Urbanismo, José Armênio de Brito Cruz, detalhou os planos para a reurbanização do Anhangabaú. O projeto, já licitado e em execução, tem investimento previsto de R$ 80 milhões. A Prefeitura de São Paulo pretende conceder a manutenção do espaço público à iniciativa privada.

Segundo Cruz, a concessão incluirá 13 pontos onde estão localizados prédios públicos, como o Art Palácio, equipamento da Secretaria da Habitação, além da área da esplanada do Vale para a realização de eventos. O local, destacou o presidente da SP Urbanismo, ganhará cafés, quiosques, floriculturas, bancas de revistas, além de sanitários e pontos de atendimento da SMADS (Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social), para atender à população de rua local.

“Foi uma construção coletiva, iniciada em 2005, cuja concretização se deu em 2013, com a realização de cinco oficinas e a participação de mais de 300 pessoas, oito reuniões setoriais, encontros com síndicos de prédios do entorno e entidades. A partir disso, criou-se uma planta, sobre a qual foi desenvolvido o projeto”, disse Cruz.

A afirmação do presidente da SP Urbanismo, contudo, foi rebatida por Róbson Mendonça, representante do Movimento Estadual da População de Rua. “Num espaço onde sequer existem banheiros para atender à população hoje, falar da criação de quiosques de atendimento da SMADS é não escutar a real necessidade do povo. É um projeto sem pé no chão, que não dialoga com a real necessidade das pessoas que frequentam aquele espaço e mostra que não houve participação popular”, enfatizou Mendonça.

Outra crítica veio da arquiteta e urbanista Vanessa Mendes. “Essa concessão à iniciativa privada permitirá a utilização do espaço pelos grupos que hoje frequentam e se apropriam do Vale, como os skatistas ou a população de rua? Quais serão os reais beneficiados com esse projeto?”, indagou Vanessa.

Um dos destaques da reurbanização, segundo Luís Eduardo Bretas, diretor de projetos da SP Urbanismo, será uma fonte com 850 aspersores de água, cujos jatos serão controlados remotamente, por computador. “Com esse sistema, poderemos realizar intervenções e apresentações artísticas com os jatos, além de controlar o fluxo e quantidade de água. Inclusive, se necessário, poderemos desligar a fonte”, ressaltou Bretas.

A preocupação ambiental também foi contemplada pelo projeto. “A água da fonte auxiliará o microclima do Vale, aumentando a umidade relativa do ar. Também haverá a arborização do local, com o plantio de 480 árvores, número esse maior do que o atualmente registrado”, afirmou Bretas.

No projeto, ainda estão contempladas questões ligadas à infraestrutura urbana. “Foi levado em conta o crescimento do município, para que as obras realizadas atendessem às necessidades da população a longo prazo. Melhorias nas galerias, o córrego que passa por baixo do vale, pontos de circulação, tudo foi levado em consideração”, frisou o diretor de projetos da SP Urbanismo.

O engenheiro Sadalla Domingos, membro do grupo Renova Centro, mostrou preocupação pelo fato de o projeto não contemplar questões estruturais do município. “Temos muitos rios e córregos que foram cobertos pela impermeabilização do solo, diretamente ligados ao Anhangabaú. E esse projeto não contempla esse problema como um todo. A forma como isso tem sido feito é um reducionismo, que não estrutura ou oferece a sustentabilidade que a cidade necessita. Parece um urbanismo visto de cima”, opinou Domingos.

O projeto e a execução das obras têm sido alvo de críticas por parte de um grupo de skatistas, que praticam o esporte no Vale do Anhangabaú. Uma petição online organizada por eles reuniu mais de 10 mil assinaturas contra a reurbanização do local e solicitou a manutenção das arquibancadas de mármore utilizadas para a realização das manobras.

Na reunião, o skatista Marcelo Amador, conhecido como Formiga, fez uma defesa enfática do legado histórico do Vale do Anhangabaú para o esporte. “Nós não somos contra a evolução da cidade, mas buscamos a preservação do patrimônio histórico. O Vale é uma referência para a cultura do skate de rua, assim como para a história do município. O que vocês estão fazendo é acabar com as características da cidade”, criticou Formiga.

Na avaliação do vereador Eliseu Gabriel, a reunião serviu para mediar e organizar os diferentes interesses dos que são contrários à reurbanização. “O pessoal foi pego de surpresa com o início das obras e muitos comerciantes, moradores ou frequentadores se sentiram agredidos com uma decisão tão repentina. O que nós buscamos é um entendimento quanto ao que pode ser feito, se é possível promover alguma mudança no projeto. E faltou essa conversa com a população, que está sendo feita agora”, concluiu o vereador.

Como desdobramento, os participantes do encontro organizaram um grupo para tentar dialogar com a SP Obras, empresa pública vinculada à Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras, responsável pela execução da reurbanização, além de fiscalizar as ações no local. O grupo também pretende buscar formas de alterar o projeto e contemplar as demandas discutidas na reunião.

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