A profissão de jornalista acabou, diz Paulo Markun

Luiz França / CMSP

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Apesar de acreditar que hoje a imprensa tem liberdade para fazer seu trabalho, Paulo Markun afirma que a profissão de jornalista acabou. Para ele, o que existe atualmente nas redações é apenas um resquício da carreira. O ex-presidente da TV Cultura foi convidado para participar nesta terça-feira (15/4) do Ciclo de Debates em Comunicação da Câmara Municipal de São Paulo, que discutiu o tema Jornalismo e Resistência: a relação entre mídia, ditadura e democracia.

Durante a palestra, o jornalista e escritor disse que não defende mais a obrigatoriedade de diploma para exercer a profissão e apontou para a necessidade de reformulação nos cursos de comunicação. Isso acontece por força de uma mudança tecnológica, hoje todos são produtores de informação e estamos em uma crise na publicidade, que era o que sustentava os jornais, disse. Ele acredita que os estudantes que cursarem universidades mais ousadas terão mais chances de se desenvolver no mercado de trabalho. Os modelos de faculdade estão em crise, assim como a profissão, acrescentou.

Vítima do regime militar, Markun acredita que a imprensa nos dias de hoje consegue aproveitar a liberdade que tem. Não existe notícia que não seja de conhecimento de todos, se ela existe, ela vai ser divulgada. Os meios de comunicação vão além da imprensa. No entanto, não acho que um jornal, revista ou blog publicará algo que seja contra seu interesse, declarou.

Ditadura
Paulo Markun foi preso em 1975, uma semana antes da detenção, tortura e assasinato do também jornalista Vladimir Herzog. No debate desta terça-feira, ele relembrou os dias em que ficou no DOI-Codi – centro de repressão do Exército durante a ditadura junto com sua esposa Diléa Frate.

Em 1975 já estava casado e a minha filha, Ana, tinha acabado de nascer. Na época, Vlado assumiu a direção da TV Cultura e me convidou para trabalhar com ele. No entanto, a imprensa começou a noticiar que os comunistas haviam tomado conta da emissora. Muitos dirigentes de partidos comunistas já tinham sido presos e eu sabia que eu também seria. Mas a minha maior tristeza foi o fato de minha mulher ter sido levada junto e colocada em uma cela ao lado, sendo torturada também, contou. De acordo com ele, era uma prática comum para obrigar as pessoas a revelarem tudo o que sabiam.

O jornalista também comentou a atuação da imprensa nesse período. Para ele, tiveram momentos de coragem e outros que não foram assim. É fácil falar depois que tudo aconteceu. Mas acho que o fato de os jornais publicarem os nomes dos que foram presos foi uma maneira de garantir a sobrevivência deles, foi muito corajoso. Mas em outros momentos, a imprensa não fez o que poderia ter feito, declarou.

(15/04/2014 – 13h12 – atualizada 13h54)

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