Comissão da Verdade debate ossadas de vítimas da ditadura

 

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Audiência pública reuniu representantes do Ministério Público e do serviço funerário da prefeitura
Fotos: André Bueno / CMSP


DA REDAÇÃO

A Comissão da Memória e Verdade, instalada em setembro de 2014 pela prefeitura de São Paulo e que realiza suas audiências na Câmara Municipal de São Paulo, debateu o tema ‘cemitérios’ em sessão realizada na tarde desta segunda-feira (2/5), no Salão Nobre da Casa. O fórum busca entender os fatos ocorridos no período do regime militar, em especial, com relação às ossadas encontradas em cemitérios da cidade.

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Eliana Vendramini, do Ministério Público do Estado de São Paulo

Eliana Vendramini — que atua no Ministério Público do Estado de São Paulo, no programa de Localização e Identificação de Desaparecidos — participou da audiência e explicou a atuação do órgão na busca por pessoas, supostamente mortas e enterradas como indigentes no período de ditadura.

“Tudo isso faz parte do direito à verdade e à memória do município, mas que se suplanta a isso e vira uma história brasileira. Nós trabalhamos num programa de localização e identificação dos desaparecidos, para além da tragédia de Perus, que já é paradigmática. O nosso programa no Ministério Público descobriu os desaparecidos da democracia, dita em aspas, também inumados [enterrados] como desconhecidos no mesmo cemitério de Perus e que poderiam, por falha do estado, ter essa inumação evitada, as famílias estavam procurando há 15 anos”, disse.

De acordo com superintendente Lúcia Sales França Pinto, o serviço funerário da prefeitura, naquela época, teve ‘uma triste participação nos fatos’ e há, segundo ela, um recorte ‘abissal’ entre o que era o serviço à época e o que é hoje. O serviço funerário do município, por outro lado, tem se empenhado atualmente em ações para contribuir com pesquisas e homenagem às vítimas.

“Nós fizemos o Jardim Cálice, muito bacana, lá no cemitério de Perus, todo ele cheio de simbologia, próximo da vala [onde foram encontrados corpos de presos políticos]. Fizemos o Jardim Para Não Dizer que Não Falei das Flores, na Vila Formosa, em homenagem às famílias do Virgílio e do Sérgio, que foram barbaramente mortos na ditadura. Além disso, a gente contribuiu vivamente com todos os trabalhos feitos pela UNIFESP com relação às ossadas de Perus.

‘Vala’ de Perus

Conhecida como “vala de Perus”, a cova comum foi descoberta em cinco de setembro de 1990, no cemitério Dom Bosco, em Perus, zona norte de São Paulo. Além das 1.049 ossadas de adultos que foram encontradas, havia cerca de 500 restos mortais de crianças com menos de 10 anos.

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Ex-deputado Adriano Diogo (PT)

Para Adriano Diogo, ex-deputado estadual e integrante da Comissão, sobre as mortes que ocorreram naquele período e as vítimas taxadas como indigentes ainda têm muitas questões a serem respondidas. Ele responsabiliza o poder público, à época, por tudo o que aconteceu.

“Embora tenha se passado mais de 50 anos dos fatos, a prefeitura de São Paulo era a maior máquina de apoio à ditadura no regime militar. Todas as pessoas que eram assassinadas no DOI-CODI (órgão de repressão da ditadura) eram enterradas como indigentes nos cemitérios da cidade, a ponto de ter sido criada uma vala com 1.500 sacos de ossos para enterrar as vítimas da ditadura, do esquadrão da morte e até as crianças vítimas de meningite que a prefeitura não queria revelar”, pontuou Diogo.

A comissão da Verdade é presidida por Teresa Lajolo (ex- vereadora e professora, também integrou a secretaria municipal de Transportes na época de Erundina). Além dela, Adriano Diogo (ex-deputado estadual), Fermino Fecchio (advogado e ex- ouvidor nacional da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República), Audálio Dantas (ex-deputado federal e ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo) e Camilo Vannuchi (jornalista) também fazem parte da comissão.

Veja entrevista do ex-deputado Adriano Diogo à TV Câmara:

 

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