Comissão da Verdade investigou morte de JK

Investigações sobre o financiamento do regime militar e a morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek foram destaques dos trabalhos realizados durante esse ano pela Comissão da Verdade Vladimir Herzog da Câmara Municipal.

O colegiado, presidido pelo vereador Natalini (PV), iniciou as atividades em março e realizou 23 reuniões e ouviu mais de 35 pessoas. Entre os principais depoimentos estão os relatos do ex-governador de São Paulo entre os anos de 1975 a 1979, Paulo Egydio Martins, e do ex-secretário de Juscelino Kubitschek, Serafim Jardim, que foram fundamentais para que dois assuntos o financiamento da ditadura e a morte de JK – fossem investigados com mais detalhes.

Em depoimento aos parlamentares, Martins revelou que a ditadura era financiada por grandes empresários. As pessoas físicas é que doavam o dinheiro diretamente para os coronéis, declarou o ex-governador. Trabalhamos muito na tentativa de buscar o canal de financiamento desse regime e no próximo ano daremos continuidade a essas investigações para tentar descobrir quem eram esses empresários que contribuíram com a ditadura, afirmou Natalini.

Em relatório divulgado neste mês, a Comissão da Verdade concluiu que a morte de Kubitschek e seu motorista, Geraldo Ribeiro, em 1976 em um acidente de carro, foi assassinato. O documento reuniu 90 provas para contestar a versão oficial apresentada durante a ditadura militar. As investigações desse caso começaram depois que o secretário particular de JK (Serafim Jardim) nos procurou e pediu para retomarmos o caso. E como vários fatores envolvem São Paulo, como o fato de o ônibus que supostamente bateu no carro de JK ter saído daqui, nos sentimos na obrigação de investigar, explicou Natalini.

Entre as principais provas destacadas no relatório, estão os depoimentos do ex-motorista da Viação Cometa Josias Nunes de Oliveira que relatou o momento em que o carro em que estava JK “ultrapassou o ônibus pela direita e não fez a curva”; do ex-secretário de JK, Serafim Jardim, que revelou que o ex-presidente recebia ameaças e estava sendo vigiado por agentes do governo militar; além do perito criminal Alberto Carlos de Minas que relatou ameaças para não vincular o “acidente automobilístico a um atentado político.

O relatório será encaminhado aos presidentes da república, Dilma Rousseff, do Congresso, Renan Calheiros e do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. Queremos que a presidente reconheça nosso relatório. Se isso vai acontecer ou não, não sabemos. Mas vamos fazer a nossa parte, sinalizou Natalini.

A Comissão da Verdade da Câmara Municipal, além de ouvir os depoimentos e buscar dados sobre o período do regime militar, também realizou um levantamento de nomes de ruas e logradouros que homenageiam pessoas ligadas à ditadura para que essas denominações sejam mudadas.

Os vereadores do colegiado também apresentaram um ofício para que o  DOI-Codi – centro de repressão do Exército durante a ditadura , localizado na região central de São Paulo, seja transformado em um memorial de mortos e desaparecidos no período.

Para o historiador da Câmara Municipal Ubirajara de Farias Prestes Filho, o trabalho da Comissão da Verdade é fundamental para promover a educação, a cidadania e a democracia. O Brasil precisa desse debate como forma de consolidar a democracia, construir a cidadania e estimular a participação das pessoas, explicou.  A função dos legislativos é promover valores. Quando olhamos a história, percebemos que cada época expressa certos valores. Agora, quando a Câmara fala em fazer revisão dos nomes de logradouros para retirar homenagens que foram feitas àqueles que participaram e colaboraram com a ditadura é uma forma de mostrar os valores da democracia, é uma maneira de sinalizar para as gerações os valores atuais, disse.

Depoimentos
Os trabalhos da Comissão da Verdade serão realizados até a conclusão dos trabalhos da Comissão Nacional que também realiza as mesmas investigações. Para o próximo ano, Natalini adiantou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será convidado a prestar esclarecimentos sobre denúncias feitas pelo ex-secretário nacional de justiça, Romeu Tuma Júnior, que também deve ser ouvido pelo colegiado, de que o petista passava informações da classe operária ao regime militar.

Os trabalhos da Comissão da Verdade também são realizados pelos vereadores Calvo (PMDB), Laércio Benko (PHS), Ricardo Young (PPS) e José Police Neto (PSD). A vice-presidente do colegiado é a vereadora Juliana Cardoso (PT) e o relator Mario Covas Neto (PSDB).

(26/12/2013 – 09h05)

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