CPI da Câmara de SP ouve vítima de áudio misógino no Corinthians e representantes de Atléticas de Medicina

André Bueno | REDE CÂMARA SP

Cintia Montino, em depoimento nesta quinta-feira (23/11) para a CPI da Violência e Assédio Sexual Contra Mulheres

CAROL FLORES
DA REDAÇÃO

A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Violência e Assédio Sexual Contra Mulheres da Câmara Municipal de São Paulo recebeu nesta quinta-feira (23/11) duas mulheres envolvidas em casos de machismo e misoginia no Sport Club Corinthians e representantes das Atléticas de Medicina das universidades São Camilo, Unifesp e Santa Casa para falarem de atos obscenos e de importunação sexual nos jogos da Calomed, que aconteceram entre os dias 28 de abril e 1º de maio deste ano.

A primeira a ser ouvida pela Comissão foi Cintia Montino, associada do Sport Club Corinthians, que falou sobre as agressões verbais que sofreu em áudio divulgado em redes sociais. Segundo a depoente, Augusto Pereira Melo, candidato à presidência do clube, a difamou com palavras de baixo calão. O acusado que foi convocado pela segunda vez para prestar seu depoimento na CPI não compareceu.

Com a permissão da vítima, o áudio difamatório foi apresentado durante a reunião. Cintia contou como ficou sabendo do material e dos impactos que o áudio trouxe para vida dela e dos familiares. “Fiquei sabendo sobre o áudio no último feriado. Desde lá, estou sofrendo ameaças e tomando medicação contra ansiedade. Meu filho de 12 anos também está abalado e sofrendo bullying”, desabafou Cintia, que ainda contou que registrou Boletim de Ocorrência e que está dando encaminhamento jurídico para o caso.

A vítima ainda afirmou que relatou o caso para o Corinthians e que recebeu apoio tanto do clube quanto das associadas e da torcida feminina. “Os representantes do clube me disseram que todas as medidas ligadas a ética serão tomadas e as associadas estão ao meu lado. São apoios muito importantes como o de estar aqui nessa reunião. Tudo isso me fortalece”, contou.

Outra mulher que denunciou assédio dentro do clube do alvinegro paulistano foi Susy Miranda Sanchez, conselheira do clube, que citou alguns episódios que ela e outras mulheres que compõe o conselho passaram, como gritos e ameaças de agressões físicas feitas por alguns conselheiros. “Eu denunciei o caso para o conselho de ética dos conselheiros e não queria que o caso vazasse. Quando saiu na mídia fiquei com depressão e dias sem sair de casa”, contou.

Calomed

Ainda durante a reunião, as vereadoras ouviram representantes das Atléticas de Medicinas das universidades São Camilo, Unifesp e Santa Casa para falarem dos atos obscenos e de importunação sexual durante o torneio Calomed, que foram divulgados nas redes sociais.

Representando a Atlética Unifesp, Ronaldo Vinkolf, que assume a presidência em 2024, afirmou em seu depoimento que a entidade não participou do torneio Calomed. Ainda sim, após a repercussão do caso, a agremiação tem tomado medidas para coibir o comportamento de assédio contra calouras, como explicou a advogada da Atlética, Graziela Fanti. “Hoje apresentamos algumas propostas para coibir essas ações como a criação de uma comissão de anti-opressão dentro dos jogos universitários e alteração do código de ética. Consideramos de extrema importância para mudarmos a cultura do estupro e da violência contra a mulher dentro das faculdades de medicinas do Brasil”.

Sofia Moreli, presidente da Atlética de Medicina do Centro Universitário São Camilo, entidade que aparece em vídeos nas redes sociais onde calouras são assediadas durante os jogos da Calomed, afirmou que a entidade promove somente trotes solidários com ações sociais e que existe uma outra associação que realiza outros tipos de trotes e que a participação é opcional.

A vereadora Silvia da Bancada Feminista (PSOL) perguntou sobre os atos onde homens abaixaram as calças expondo os órgãos sexuais durante uma partida feminina de vôlei. Em resposta, Sofia disse que estava presente, mas que os homens em questão não fazem parte da entidade.

Questionada pela presidente da CPI, a vereadora Dra. Sandra Tadeu (UNIÃO)sobre as providências tomadas, Sofia disse que houve reuniões noturnas para discutir sobre os casos de importunação, mas que não foram tomadas providências judiciais para não expor as alunas.

Ainda durante a oitiva, a presidente da Atlética São Camilo afirmou que a ação de assédio é uma questão estrutural nos cursos de medicina. “Vamos precisar reformar a cultura de todas as faculdades de medicina no que é considerado tradição. Tudo isso é maior que essa gestão – é estrutural”, explicou.

“O estrutural de uma faculdade de medicina é o que as mulheres sofrem diariamente na rua, nos ônibus, nos clubes e em todos os lugares. As mulheres estão sempre em segundo lugar e temos que ser valorizadas”, destacou Sandra Tadeu.

Ainda durante a reunião, foi aprovado um requerimento de autoria da vereadora Silvia da Bancada Feminista, que intima a presidente da Atlética de Medicina da Unisa (Universidade Santo Amaro), Vittória Carmona, a prestar esclarecimentos sobre o ocorrido durante os jogos da Calomed realizados entre 28 de abril e 1º de maio deste ano.

“Nós fizemos dois convites para a atlética da Unisa que não compareceu e inclusive é a principal envolvida nos vídeos divulgados nas redes sociais sobre abusos. Agora vamos enviar uma intimação endereçada para a presidente da instituição e ela tem que vir na próxima reunião da CPI. Caso não compareça a vinda será coercitiva”, disse Silvia.

Ao final, a presidente da Comissão reforçou que o mundo não pode mais admitir ações de abuso contra as mulheres. “Nós merecemos respeito e é por isso que essa CPI está lutando”, finalizou. Também participaram da reunião as vereadoras Edir Sales (PSD), Ely Teruel (PODE), Sandra Santana (PSDB) e Janaína Lima (MDB). Para conferir a íntegra, clique no vídeo abaixo:

 

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