Em reunião, familiares que perderam entes para Covid-19 denunciam tratamento da operadora de saúde Prevent Senior  

Richard Lourenço | REDE CÂMARA SP

Reunião da CPI da Prevent Senior desta segunda-feira (29/11)

MARCO CALEJO
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Representantes de diferentes esferas do Poder Legislativo se reuniram na Câmara Municipal de São Paulo, na tarde desta segunda-feira (29/11), para ouvir denúncias de pessoas contra a operadora de saúde Prevent Senior em relação ao tratamento da Covid-19. Participaram da reunião o deputado federal Alexandre Padilha (PT), que mediou os relatos, o deputado estadual Paulo Fiorilo (PT), e o vereador Antonio Donato (PT), presidente da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) Prevent Senior no Parlamento paulistano.

Antonio Donato ressaltou que o objetivo da CPI Prevent Senior na Câmara não é prejudicar a operadora de saúde, mas sim defender os associados, apurar quem são os responsáveis pelas falhas no tratamento de pacientes com Covid-19 e punir os eventuais culpados.

“Não quero adiantar uma posição. A gente tem procurado fazer uma CPI que ouça as partes e escute o contraditório. Não queremos antecipar conclusões, mas não podemos naturalizar as mortes, achar que elas eram inevitáveis e que aconteceriam de qualquer maneira”, falou Donato.

O deputado estadual Paulo Fiorilo é o autor da proposta que solicitou a abertura de uma CPI na ALESP (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) para investigar a Prevent Senior. Porém, o Legislativo paulista ainda não votou o requerimento do parlamentar para criar a Comissão. “Se não tem CPI na Assembleia, tem na Câmara e eu acho que a gente ganha com isso. Muita coisa ainda vai ser trazida ao debate”.

Já o deputado federal Alexandre Padilha, que coordenou os trabalhos da reunião, agradeceu a Câmara Municipal de Paulo por abrir o espaço para ouvir as denúncias de pessoas contra o tratamento adotado pela Prevent Senior no combate ao coronavírus.

“Mais uma vez agradecer a disponibilidade da Câmara Municipal, parabenizar pelo trabalho da CPI e dizer que estivemos hoje no Ministério Público. Um conjunto de informações está sendo recolhido na Câmara dos Deputados por outras comissões. Podem contar conosco para colaborar com o trabalho e ação aqui da Câmara Municipal de São Paulo”, disse Padilha.

Relatos

A médica veterinária Débora Pimenta perdeu a mãe para o coronavírus neste ano. Segundo Débora, após passar por um longo período lutando contra um câncer, a mãe dela contraiu o vírus dentro de um hospital da Prevent Senior e não recebeu o tratamento adequado. “Ela faleceu de Covid. Ela foi totalmente negligenciada e abandonada. A minha luta é para que as pessoas não tenham que passar por isso”.

O piloto de avião da Prevent Senior, Joaquim Michels, de 29 anos, morreu em janeiro deste ano decorrente das complicações da Covid-19. A mãe do rapaz, Dione Michels, de 64 anos, compartilhou a dor de perder um filho e criticou a conduta da operadora de saúde. “Mesmo antes de pegar o resultado do teste, deram para o meu filho o kit Covid”. Em outro momento, Dione disse que “eles (a empresa) negligenciaram, não se incomodaram em perder a vida de um jovem de 29 anos. Eles não nos procuraram, nunca nos deram apoio”.

Os pais de Katia Shirlene Castilho dos Santos também morreram em decorrência do coronavírus. O pai dela faleceu em um hospital público. Já a mãe, conveniada da Prevent Senior há 14 anos, morreu em uma unidade particular da empresa em São Paulo. “Uma coisa que me deixou bastante preocupada foi quando eu li o prontuário. Eles colocaram a minha mãe em tratamento paliativo desde o dia 23 de abril. Nós nunca autorizamos nenhum tratamento paliativo, nunca fomos procurados para assinar nenhum documento”.

Renato Simões representou a Associação Vida e Justiça, criada há seis meses para apoiar e defender os direitos das vítimas da Covid-19. A entidade está presente em 10 Estados brasileiros. “Nós não somos uma comissão apuradora, somos uma comissão de entidades e de vítimas de familiares. Unidos, queremos levar adiante essa batalha”.

Advogada de 12 médicos da operadora de saúde que denunciam a Prevent Senior, Bruna Mendes Morato contou algumas situações relatadas pelos profissionais. “Quanto mais eu ouço, mais claro se torna para mim que existem casos em que essas mortes certamente seriam evitadas. Não se justifica. Há casos de pacientes muito jovens que deixaram de ser tratados. O tratamento paliativo, que seria conceder uma morte digna a alguém, deixa de ser paliativo porque não existe dignidade quando você impede alguém de receber o tratamento adequado”.

Irene Abramovich, presidente do CREMESP (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), disse que as investigações correm sob sigilo. No entanto, Irene afirmou que no momento há 30 sindicâncias em andamento e destacou algumas preocupações documentadas pelos conselheiros durante as fiscalizações feitas em hospitais da rede da Prevent Senior.

“Uma coisa que está nos preocupando é a normatização, qual é o critério que alguém vai para o (tratamento) paliativo. Parece que isso não existe aqui (na Prevent Senior)”, disse Irene Abramovich.

O presidente do COREN-SP (Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo), James Francisco, também informou na reunião que há sigilo nas investigações. Entretanto, James disse que foram feitas 25 denúncias contra a operadora de saúde.

“Estão relacionadas a diversos temas. Dentre eles, falta de EPI (Equipamento de Proteção Individual), condições de trabalho, falta de local de descanso, sobrecarga de profissionais e subdimensionamento de profissionais”, relatou o presidente do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo.

A íntegra da reunião está disponível aqui.

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