Encontro na Câmara discute importância da bengala verde para pessoas com baixa visão

Luiz França/CMSP

Projeto foi divulgado neste sábado na Câmara

DOUGLAS MATOS
DA REDAÇÃO

Você saberia distinguir um cego na rua de uma pessoa com baixa visão? Muita gente nunca ouviu falar, mas a diferença pode ser identificada, de imediato, pela simples cor da bengala. Se ela for verde, isso quer dizer que a pessoa teve uma grande perda da visão, mas com alguma funcionalidade preservada, o que não costuma chegar a 30% no melhor olho, mesmo após cirurgias corretivas ou uso de óculos especiais.

Além da dificuldade óbvia e das incontáveis barreiras do cotidiano, os mais de 6 milhões de brasileiros que sofrem com a baixa visão ainda têm de conviver com o preconceito, geralmente causado pela falta de informação.

André Bueno/CMSP

Encontro reuniu dezenas de pessoas na Câmara de São Paulo

Tendo uma doença degenerativa da retina e após ter passado por algumas cirurgias na coluna por falta de mobilidade, Cesar Siboglo perdeu a maior parte da capacidade visual. Não conseguindo mais ler, mas com um resíduo visual, Cesar passou a usar a bengala para caminhar com mais segurança. Ele relata, por exemplo, que já foi acusado de se fingir de cego por quem não entendia o problema dele.

“Agora, como usuário de bengala verde, eu quero me identificar para a sociedade. Quero que ela saiba o que é a baixa visão. As minhas necessidades são diferentes de uma pessoa cega. Então, a partir do momento em que a sociedade entende o que é a baixa visão, ela não vai mais causar alguns constrangimentos que eu ainda tenho de passar às vezes”.

Cesar é um dos voluntários do Grupo Retina São Paulo, uma organização não governamental que dá apoio a pessoas com problemas oculares. Neste momento, a entidade está engajada na divulgação do Projeto Bengala Verde.

“Quando passei a ter baixa visão eu tinha vergonha de começar a usar uma bengala. E o Projeto Bengala Verde acabou me facilitando essa etapa, essa fase pela qual todas as pessoas [com o mesmo problema] passam no início. Com a bengala verde comecei a ter mais liberdade. Agora as pessoas me ajudam mais e começaram a compreender o que é a baixa visão”, contou.

O objetivo da campanha é promover a conscientização e a inclusão social de quem tem dificuldades visuais severas. Neste sábado (30/9), o Grupo Retina Brasil, em parceria com o braço paulista da entidade, realizou mais um evento de divulgação.

Desta vez o encontro ocorreu na Câmara Municipal. O presidente da ONG em São, Paulo Rodrigo, Bueno destacou que o trabalho tem sido construído fundamentalmente sobre dois pilares: o científico e o social.

Luiz França/CMSP

Vereador Paulo Frange

“A ideia é desenvolver pesquisas científicas em busca de tratamento para as doenças degenerativas e melhorar a qualidade de vida das pessoas com baixa visão. E esse evento, além de passar muita informação, tem o objetivo também de apoiar o Projeto de Lei do vereador Paulo Frange (PTB), que vai dar notoriedade e vai fazer com que a sociedade cada vez mais perceba esse público. Esse é o grande propósito que está por trás desse Projeto”.

A iniciativa do encontro na Câmara foi de Frange, autor do Projeto de Lei (PL) 567/2017, que institui a bengala verde como instrumento de orientação e reconhecimento das pessoas com baixa visão.

“Queremos incluir a bengala verde em toda a rede municipal de São Paulo, nas UBS’s (Unidades Básicas de Saúde), nos programas de saúde da família, incluindo os centros de oftalmologia. É um Projeto muito viável porque quase não representa impacto financeiro e tem um grande alcance social”.

Frange acredita que São Paulo pode seguir o exemplo dos países vizinhos sul-americanos, onde a bengala verde já faz parte da realidade e do cotidiano das pessoas.

“A bengala verde nasceu em 1996 na Argentina e virou lei em 2002. Depois disso, o sistema de saúde deles abraçou a causa. Em 2011 foi a vez do Uruguai. Lá a bengala é oferecida até pelos planos de saúde. Aqui em São Paulo ainda estamos na fase de levar essa informação ao público, por isso apresentei esse Projeto de Lei”.

O caso argentino, citado por Frange, teve sucesso graças a uma mulher chamada Perla Mayo. Ela foi uma das convidadas do evento, realizado no auditório Prestes Maia. Ela conta que o Projeto Bengala verde já se espalhou por dez países do Cone Sul e acaba de chegar na Espanha. Perla disse como surgiu a ideia.

“Sou professora de cegos e deficientes visuais. Mas quem tinha baixa visão usava a mesma bengala branca para locomoção. E isso criava algumas situações difíceis porque eles acabavam confundidos com cegos. Então tive a ideia de pintar a bengala de verde, por ser uma cor bonita e que remete à esperança. Entreguei essa bengala a uma aluna e quando ela atravessou a avenida, as pessoas começaram a perguntar o porquê da cor verde. E ela respondeu: porque não sou cega, apenas tenho baixa visão. E foi assim que tudo começou”, lembrou Perla.

Otimista, o voluntário Sonny Polito, que ajuda a promover o projeto no Grupo Retina São Paulo, também fala da bengala verde com assertividade e esperança, em sintonia com a cor que deu nome ao instrumento.

“Chegou a hora da pessoa com baixa visão, o momento de ela se sentir acolhida. Eu acredito que, com esse instrumento, essas pessoas vão poder finalmente mostrar à sociedade que nós existimos. Porque sempre ficamos dentro de casa, e quando saímos na rua ninguém sabe da nossa deficiência. E tenho certeza que agora isso começa a mudar, não só em São Paulo, mas em todo o País”.

3 Contribuições

Adriano Trintin

Parabéns pela reportagem e por nos receber tão bem na Câmara Municipal, realmente precisamos que ações como essa se propague em todos os setores da sociedade.

Responder
fatima

A conscientização é o melhor caminho para que vivamos todos na sociedade de forma respeitável.

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Daniel

Excelente iniciativa. Importante conscientizar as pessoas sobre o assunto, para promover inclusão social e diminuir o preconceito a respeito.

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