Memória: praça Benedito Calixto foi criada após requerimento de Oswald de Andrade

DA REDAÇÃO

A Praça Benedito Calixto, na zona oeste, possui uma das feiras de antiguidades mais conhecidas de São Paulo. Frequentado todos os sábados por paulistanos e turistas, o local expõe desde móveis rústicos e artesanatos até obras de arte, louças e brinquedos.

Mas o que nem todos sabem é que a praça só existe por causa da iniciativa de um morador ilustre da região. Em 1919, ninguém menos que Oswald de Andrade, um dos líderes do movimento modernista brasileiro, pagou uma taxa pública de mil réis e protocolou um requerimento na Câmara Municipal de São Paulo para dar início ao processo de construção da área.

À época, o escritor e dramaturgo era apenas um jovem recém-formado em Direito e amante declarado das artes.

No documento, ele solicitou que uma praça planejada para a Rua Mourato Coelho fosse construída na Rua Lisboa, em frente à Igreja do Calvário, no bairro Cerqueira César. Oswald justificou o pedido destacando que a mudança de local era um desejo dos moradores.

Vale lembrar que o pai do modernista, José Oswald Nogueira de Andrade, vereador por quatro mandatos, foi o responsável pela criação do bairro, em 1890.

Longo processo

Apesar do prestígio do pai como reconhecido parlamentar da cidade, o requerimento de Oswald não foi atendido facilmente. Depois de tramitar na Câmara, um parecer da então Comissão de Justiça, em março de 1920, rejeitou a proposta.

Um ano depois, as Comissões Reunidas de Obras e Finanças declararam que o local era “inconveniente” e que a transferência ficaria muito cara. O requerimento acabou arquivado.

Retomada

Embora rejeitada inicialmente, a ideia de Oswald, agora já reconhecido como líder modernista, voltou a ser analisada pelos vereadores em 1925, quando o vereador Júlio Silva apresentou um requerimento pedindo a regularização do trecho da Rua Lisboa, entre as Ruas Teodoro Sampaio e Cardeal Arcoverde.

Em junho daquele mesmo ano, o proprietário da área ofereceu à administração municipal uma faixa de terreno de 30 metros ao longo da Rua Lisboa, para viabilizar a construção da praça.

Desta vez, com aval das comissões de Obras e Finanças, a Prefeitura aprovou o Projeto com a justificativa de que o bairro teria seu primeiro espaço livre regularizado e a Rua Lisboa ganharia um perfil econômico, evitando que se transformasse em um grande aterro.

Além disso, a Câmara entendeu que um pequeno gasto seria suficiente para garantir a reforma da Praça e criar uma saída direta para a Rua Teodoro Sampaio no novo Santuário que estava sendo construído pela Congregação dos Padres Passionistas.

Após mais de 10 anos, o prefeito Fábio da Silva Prado finalmente determinou que a praça iria se chamar Benedito Calixto, em homenagem a um artista e pintor paulista e decorador de templos religiosos.

Veja o requerimento que, futuramente, abriu caminho para a construção da Praça Benedito Calixto.

Excelentíssimo Senhor Presidente e mais membros da Câmara Municipal de São Paulo.

O abaixo-assinado, atendendo às solicitações dos moradores da Vila Cerqueira César, vem propor que a praça que deve ser aberta na Rua Mourato Coelho, entre as Ruas Teodoro Sampaio e Artur Azevedo, nos termos da Resolução nº 115, de 5 de março de 1918, seja transferida para o local em frente à Igreja do Calvário, também em terrenos de sua propriedade, prontificando-se o requerente a fazer as permutas que para isso forem necessárias.

Por ser de justiça, pede deferimento.

São Paulo 30 de agosto de 1919

José Oswald de Souza Andrade

Para saber mais sobre essa e outras histórias do Legislativo Paulistano acesse aqui o Centro de Memória da Câmara e leia a reportagem produzida pela revista Apartes.

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