Moradores da zona leste criticam Cetesb e relatam à CPI problemas causados pelo Polo Petroquímico 

Richard Lourenço | REDE CÂMARA SP

Reunião da CPI da Poluição Petroquímica desta quinta-feira (25/8)

DANIEL MONTEIRO
DA REDAÇÃO

Nesta quinta-feira (25/8), a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Poluição Petroquímica ouviu relatos de quatro moradores da zona leste da capital paulista sobre os problemas causados pela poluição emitida pelo Polo Petroquímico localizado na região. Além disso, eles criticaram a postura dos órgãos públicos responsáveis por fiscalizar o funcionamento do complexo industrial, em especial a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo).

Douglas Alves Mendes, morador de São Mateus há 29 anos, falou em seu depoimento sobre o tipo de poluição que afeta os moradores locais. “O que a gente tem na região são doenças, fumaça, poluição sonora, poluição na atmosfera e nenhum de nós, enquanto moradores daqui, sabemos o que se solta naquelas chaminés durante a produção da indústria”, destacou.

Mendes também atribui a piora na poluição à ampliação do Polo Petroquímico. “Em 2002 houve uma ampliação e o polo teve uma convivência pacífica durante um certo período. Depois dessa ampliação, de 2002 a 2018, a planta da indústria teve uma expansão e, com isso, houve uma total mudança no clima da nossa região. A poluição, então, se tornou exagerada”, disse, acrescentando que o barulho no complexo industrial à noite é maior, em relação ao dia.

Por fim, o morador de São Mateus afirmou se sentir desamparado em relação aos órgãos de fiscalização, principalmente a Cetesb. “O que eu sinto, é uma angústia que vou dizer agora, é omissão dos órgãos de fiscalização, e o nosso órgão maior, que é a Cetesb”, finalizou Mendes.

Na sequência, Maria Eneida Santos Chiaroni, moradora do Parque São Rafael há 51 anos e atualmente vizinha do Polo Petroquímico, apontou os impactos do complexo industrial na região. “A problemática dali já começa nas moradias, começa justamente em não ter uma área ambiental… Ali não foi programado para ser daquele tamanho. Foi programado, sim, para ter uma indústria, mas não daquele porte. E o bairro cresceu em volta, porque as pessoas realmente acreditavam que morando próximo da empresa iam ter emprego. Não acontece isso”, relatou.

Ela também lembrou que, desde a construção do polo, sempre houve poluição no local. “A poluição sempre teve. Só que nos últimos anos piorou, e muito. Eu sempre convivi com a poluição lá. Sempre teve”, enfatizou.

Maria Eneida ainda citou os problemas de saúde enfrentados por moradores locais, comentou episódios que causaram estranheza e insegurança na população do entorno – como sirenes noturnas, explosões, clarões e cheiro de gás vindo do polo – e criticou o tratamento dado pela Cetesb. “Eles reclamam que eu liguei. Outra vez eu liguei e uma pessoa de lá [Cetesb] falou assim: ‘você quer que eu faça o que?’. Se ela está no trabalho dela e não sabe o que tem que fazer, eu que estou na minha casa recebendo aquele odor vou ter que saber o que fazer?”, contestou.

A terceira oitiva ocorreu com Carmen Rosa Olivares Cornejo Guilherme, morada do Jd. Elizabeth 1 há 27 anos. Ela reforçou que a poluição na região piorou nos últimos anos. “Nas duas últimas décadas, nós temos visto maior fuligem negra, estrondos à noite. Eu posso dizer pois sou noturna, não durmo antes das 3h”, ressaltou.

No depoimento, ela falou especificamente sobre uma fuligem preta que sai do polo e suja as casas da região. “Nos últimos dois anos para cá, quando houve o problema da fuligem preta, não foi um fato pontual. Isso já ocorreu em anos anteriores”, apontou. “Quando a fuligem vem, é muito difícil retirar, é muito gordurosa. Você não tira só com água, você precisa de produtos para limpar isso e esfregar, porque ele encrosta. É uma sujeira que realmente é ruim. Se eu vejo isso no chão, o que nós respiramos?”, questionou.

Carmen também endossou as críticas à Cetesb. “Nós temos uma dificuldade de ter um agente fiscalizador quando está no ato [dos incidentes envolvendo o polo]. Temos que ter, na minha ignorância, um apoio e uma fiscalização muito mais assídua e próxima”, opinou. “Se nós temos um polo daquele tamanho, deveríamos ter uma agência ou um ponto mais próximo”, concluiu a moradora do Jd. Elizabeth 1.

Por fim, Ademilson Ferreira da Silva – conhecido como Baia -, presidente da Associação dos Moradores do Jd. Elizabeth 2, destacou que ainda há muito desconhecimento em relação à  poluição produzida pelo polo. “Os moradores não têm ciência dos problemas que o polo está trazendo para a gente. Por que? O bairro era rua de terra, muitas casas estão em construção ainda, então as pessoas não sabem o que está acontecendo”, comentou.

Baia ainda relatou casos de moradores que desenvolveram diferentes doenças, cujas causas são atribuídas à poluição do polo. “Muitos moradores vêm me relatar que seus filhos estão com nariz escorrendo, olho ardendo, a pele manchada… Eles acham que é uma sarna na pele da criança, mas eu tenho uma neta com o mesmo problema e isso não é sarna, isso é coisa do polo. Só que não temos como provar”, denunciou.

Presidente da CPI, o vereador Alessandro Guedes (PT) criticou a omissão do Poder Público na região. “Assustador define a reunião da CPI, principalmente quando eles trazem as queixas que eles fazem ao órgão de fiscalização, que é a Cetesb, de que são maltratados pelos atendentes ou não tem a sua queixa atendida. Relatos absurdos que chegaram até nós hoje e nos preocupam bastante”, refletiu Guedes.

Na mesma linha se posicionou o relator dos trabalhos, vereador Marcelo Messias (MDB). “A Cetesb não está respondendo a contento aquelas pessoas que estão ali sofrendo. É muito fácil você estar a duas horas, uma hora de distância do Polo Petroquímico e não atender às necessidades daquelas famílias que ali moram”, ponderou Messias.

Também participaram o vice-presidente da Comissão, vereador Professor Toninho Vespoli (PSOL), a sub-relatora, vereadora Sandra Tadeu (UNIÃO), e o vereador Xexéu Tripoli (PSDB), membro do colegiado. A íntegra da reunião está disponível no vídeo abaixo:

Sobre a CPI

A CPI da Poluição Petroquímica busca investigar denúncias sobre a poluição e a contaminação ambiental no entorno do Polo Petroquímico que supostamente vem prejudicando a saúde de moradores de bairros da zona Leste da capital localizados próximos ao polo.

Denúncias

É importante ressaltar que a CPI da Poluição tem um canal específico para coletar contribuições e manifestações das pessoas que vivem nos bairros do entorno da petroquímica que sofrem consequências da poluição, com o objetivo de subsidiar as investigações da Comissão.

A população pode fazer denúncias sobre a poluição, trazer informações sobre questões de saúde dos moradores dos bairros vizinhos e apresentar sugestões para redução da poluição pelo e-mail cpi-poluicaopetroquimica@saopaulo.sp.leg.br ou neste link.

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