Religiosos de cultos afro-brasileiros querem processar o País na Corte Interamericana

André Bueno/CMSP

O lançamento público da petição ocorreu no Salão Nobre da Câmara Municipal de São Paulo

DOUGLAS MATOS
DA REDAÇÃO

Em 2015, a menina Kailane Campos, de 11 anos, levou uma pedrada na cabeça quando saía de um terreiro de candomblé, no subúrbio do Rio. Segundo a avó da garota, que é mãe de santo, as ofensas começaram somente porque ela estava vestida de branco.

No ano passado, em Salvador, templos de Umbanda foram depredados e pichados. Neste ano, sete ataques semelhantes foram registrados nos últimos meses em Nova Iguaçu, na região metropolitana da capital fluminense.

A escalada da violência como resultado da intolerância religiosa acendeu um sinal de alerta em todo o País. Recentemente, grupos de diversas religiões de matriz africana e lideranças do movimento negro e de combate ao racismo se uniram para tentar dar um basta ao preconceito. Eles vão processar o Brasil na Corte Interamericana por violação dos direitos humanos.

O lançamento público da petição ocorreu nesta segunda-feira (30/10) na Câmara Municipal de São Paulo.

O evento mobilizou centenas de sacerdotes e adeptos no Salão Nobre da Casa Legislativa para chamar a atenção da sociedade para o problema e aumentar a adesão ao movimento, que já conta com a simpatia de ativistas, entidades civis e ONGs de vários estados.

André Bueno/CMSP

Hédio Silva Júnior

A ação está nas mãos do jurista Hédio Silva Júnior, ex-secretário de Justiça de São Paulo. De acordo com o advogado, a base do processo é o crescimento da perseguição aos cultos afro-brasileiros e a propagação cada vez mais frequente do discurso de ódio religioso no País.

“Esse ódio corrói a democracia e compromete a paz. Então, entendemos que o Brasil precisa ser responsabilizado internacionalmente, para ver se assim o Governo enfrenta esse problema da intolerância”.

Júnior explica que o objetivo maior do processo não é a cobrança de indenização às vítimas. “Embora ela seja necessária, porque muitos templos foram depredados e é preciso reconstruí-los, o pedido principal é para que o Brasil seja obrigado a programar políticas públicas preventivas. A ideia é que  adultos e crianças possam conviver em harmonia. O ódio religioso não é algo que você consegue superar só com a Lei penal”.

O encontro na Câmara teve o apoio do vereador Toninho Vespoli (PSOL). O representante do gabinete do parlamentar na defesa dos povos e comunidades tradicionais de matriz africana em São Paulo, Walmir Damasceno, acredita que a denúncia contra o Brasil é extremamente necessária para chamar a atenção da comunidade internacional.

“Porque a agressão sistemática aos terreiros de Candomblé e Umbanda acontece com a conivência do estado brasileiro. Hoje você não tem mais sequer condições de tocar os seus atabaques. E esse processo vai mostrar às cortes internacionais o que está acontecendo aqui. Estamos dando um grito de basta a essa violência e marginalização que os povos de religião africana vêm sofrendo”.

A sacerdotisa Gersonice Azevedo Brandão, conhecida como Equede Sinha, veio da capital baiana somente para participar do evento. O terreiro dela – Casa Branca do Engenho Velho – é a primeira casa de Candomblé oficial do Brasil, fundada em 1830. Representante da Comissão dos terreiros de Salvador, ela diz que a intolerância religiosa chegou a um patamar inadmissível.

“A gente não pode mais deixar que isso aconteça. Acho que está na hora de nós estarmos juntos e lutarmos pela mesma causa”, disse.

Perguntada se está otimista com o futuro do processo, dona Gersonice responde de imediato: “Não há a menor dúvida. Quem tem fé não perde a esperança nunca”.

5 Contribuições

Mônica de Carvalho Costa

Exigimos respeito a nossa liberdade de Culto, igualdade de Direitos que estão sendo suprimidos pela bancada evangélica.

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Elaine lima

Todos nós somos filho de Deus por isso vamos para ruas “Intolerância Religiosa” isso tem q acabar .

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Paulo Filizola

Já é hora, ou melhor, já passou. Temos que combater essa perseguição as religiões de matrizes africanas. Pois sabemos de onde partem. Assim fica mais fácil, né?

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Elaine Cristina Pinto

Muito bom saber que existe a quem recorrer,pois não podemos deixar esse mal crescer sem sair da inércia, parabéns aos idealizadores pela iniciativa,esperamos que os resultados sejam favoráveis a fé e a liberdade de cada ser.Axé.

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