Sobreviventes do Holocausto refugiados em São Paulo são homenageados

André Bueno | REDE CÂMARA SP

DANIEL MONTEIRO
DA REDAÇÃO

Uma Sessão Solene realizada nesta segunda-feira (27/2) na Câmara Municipal de São Paulo homenageou os sobreviventes do Holocausto que se refugiaram na capital paulista. A solenidade foi promovida pelo vereador Daniel Annenberg (PSB) em parceria com o Memorial do Holocausto, Federação Israelita do Estado de SP, UNIBES (União Brasileiro Israelita do Bem Estar Social) e StandWithUs Brasil.

Nas décadas de 1940 e 1950, entre 300 e 500 sobreviventes do Holocausto (perseguição sistemática e assassinato de 6 milhões de judeus europeus – e outras minorias étnicas – pelo regime nazista alemão, seus aliados e colaboradores, entre os anos de 1933 a 1945 em toda a Europa) de diferentes nacionalidades, como judeus alemães, húngaros, poloneses, romenos e holandeses, se refugiaram na cidade de São Paulo. Aqui, conseguiram reconstruir suas vidas sem sofrer as ameaças e perseguições vividas na Europa apenas por serem judeus.

De forma a exaltar essa história, a homenagem desta segunda-feira concedeu um certificado de reconhecimento a cerca de 20 sobreviventes que compareceram à Câmara, por sua contribuição para o desenvolvimento da cidade de São Paulo. “É um evento muito importante para homenagear e para lembrar. É muito importante lembrar para não esquecer o que aconteceu e que não faz tanto tempo assim”, comentou o vereador Daniel Annenberg. “É importante lembrarmos disso, porque esse discurso de ódio está retornando agora. Nós temos aqui no Brasil muitas células neonazistas e não podemos deixar isso voltar a acontecer”, completou o propositor do evento.

A iniciativa também integra a campanha “Obrigado Paulistanos”, idealizada pelo escritor, cineasta, curador do Memorial do Holocausto de São Paulo e membro do Conselho Acadêmico da StandWithUs Brasil, Marcio Pitliuk. “São Paulo é uma cidade que recebe todos os imigrantes de braços abertos. Meu pai chegou aqui na década de 1930, ainda antes da guerra, ele não passou pelo Holocausto, e foi muito bem recebido. Meus tios, avós, japoneses, espanhóis, italianos, alemães, suíços, todo mundo é bem recebido em São Paulo. E, para quem conhece a Europa, conhece outros países, sabe que isso é uma dádiva porque, em geral, esses outros países sempre têm problemas com estrangeiros, e o Brasil não. O Brasil abraça a todos, recebe igualmente, todo mundo se sente brasileiro aqui”, destacou Pitliuk.

Uma das sobreviventes do Holocausto homenageadas durante a Sessão Solene foi a professora Ariella Pardo Segre. Natural de Trieste, na Itália, ela veio para o Brasil junto com sua família no momento em que a perseguição contra judeus na Europa começou a acentuar. “Em 1938 veio uma lei de que os judeus não eram mais italianos. Então o que eles eram? Meus pais nasceram em Trieste, eu nasci em Trieste. Meus pais lutaram pela resistência italiana, pela Itália, pois eu ainda não tinha nascido na resistência italiana. E, de uma hora para outra, os judeus não eram mais italianos e foram considerados inimigos da Itália”, contou.

Na cidade de São Paulo, Ariella disse ter encontrado acolhimento e respeito, independente de sua origem. Tanto que optou por se naturalizar brasileira. “A primeira vez que timidamente fui fazer uma compra de bananas, eu tinha um sotaque do qual tinha vergonha. Eu não falava ‘eu quero bananas’ (com sotaque italiano). Eu fui no quitandeiro e falei ‘por favor, uma dúzia de bananas’ (tentando imitar a pronúncia e o sotaque brasileiro). E o quitandeiro meu falou: ‘italiana! Minha avó era italiana! Fale italiano comigo!’. Nossa, para mim, eu não era mais a judia. Eu era a italiana!. Aí me senti bem nesse primeiro encontro em São Paulo com italianos”, lembrou emocionada.

Outra homenageada, a bailarina húngara Marika Gidali também tem boas recordações de sua chegada a São Paulo. “[A cidade me recebeu] de braços abertos. Maravilhosamente bem. E aqui fiquei. Para mim é o que há de bom”, sintetizou.

Ela ainda falou sobre os laços com sua terra natal e o vínculo desenvolvido com o Brasil. “A origem está dentro de mim, tanto como judia, quanto como húngara. Eu sou tudo isso. Mas, mais do que tudo isso, eu sou brasileira, porque eu luto pela cultura brasileira. Meu grande trabalho é o Brasil e a sociedade”, concluiu Marika.

O evento também contou com a presença do vereador Eduardo Suplicy (PT); da secretária municipal de Justiça, Eunice Prudente; do presidente da FISESP (Federação Israelita do Estado São Paulo), Marcos Knobel; do vice-presidente da CONIB (Confederação Israelita do Brasil), Daniel Bialski; do rabino David Weitman, representante do Memorial do Holocausto de São Paulo; da diretora de Comunicação e Cultura da StandWithUs Brasil, Sabrina Abreu; da representante da UNIBES, Fanny Terepins; e do vice-presidente do Congresso Judaico Mundial, Jacques Terpins.

A íntegra da Sessão Solene pode ser conferida no vídeo abaixo:

Uma Contribuição

Marcos L Susskind

À Câmara Municipal de São Paulo
Por e-mail

Ref. : *Apreciação e Respeito pelo Ato de Hoje*

Senhores Vereadores:

Quem lhes escreve é Marcos L Susskind, diretamente da cidade de Holon em Israel.

Tenho imenso um prazer em escrever esta mensagem de apoio e parabenizo a iniciativa da Câmara Municipal de São Paulo de homenagear os Sobreviventes do Holocausto.

O Holocausto foi sem dúvida nenhuma o momento mais negro da história da humanidade, ultrapassando inclusive momentos negros como a inquisição e outras atrocidades cometidas contra seres humanos.

É muito digno reconhecer os sobreviventes desta terrível chacina, pessoas que passaram pelo inferno e que devem ser homenageadas não só por terem sobrevivido mas principalmente pela forma como sobreviveram às perseguições, fuzilamentos, enforcamentos, câmaras de gás, fome e marchas de morte.

Apesar de todas estas provações inigualáveis, jamais vistas na história da humanidade, conseguiram reconstituir o seu mundo, formar famílias, ter filhos, criá-los e dar ao mundo novas novos cientistas, comerciantes, músicos, artistas plásticos, médicos, advogados, pesquisadores e tantos outros benfeitores que nasceram em lares de pessoas destroçadas pela fera nazista mas resilientes e capazes de reconstruir um mundo melhor.

Portanto, para mim é motivo de prazer e orgulho saber que a Câmara Municipal de São Paulo presta essa justa homenagem a esses sobreviventes e ao mesmo tempo se une numa lágrima àqueles 6 milhões que infelizmente não conseguiram sair vivos do inferno Europeu.

Queira D’us que jamais atos racistas e xenófobos roubem vidas, e que São Paulo e Brasil possam desfrutar de paz e progresso.

Marcos L Susskind
27/02/2023

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