Violência de gênero na política é tema de seminário na Câmara

Seminário sobre violência de gênero na política

MARIANE MANSUIDO
DA REDAÇÃO

Nesta terça-feira (26/3), foi realizado na Câmara Municipal de São Paulo o seminário Violência de Gênero na Política, com a presença de parlamentares, lideranças de movimentos sociais, Defensoria do Estado de São Paulo e ONU Mulheres Brasil. Foram debatidos os desafios a superar para as mulheres ocuparem mais cargos políticos e ampliarem a participação na vida pública.

Em seu terceiro mandato, a vereadora Juliana Cardoso (PT) relatou no seminário a sua experiência como parlamentar no Legislativo paulistano. Segundo a vereadora, lançar uma candidatura feminina é um desafio que começa dentro do próprio partido. “Além de cumprir a cota de 30% de candidatas mulheres, é essencial o suporte financeiro para viabilizar as campanhas, e isso nem sempre acontece”, afirmou.

Juliana destacou a experiência de se tornar mãe durante o exercício do mandato. “Após a minha gravidez, não pude tirar licença-maternidade porque esse é um direito que ainda não existe para nós vereadoras. Situações como essa dificultam a nossa ocupação desses espaços”, declarou a vereadora, que apoiou a realização do seminário na Câmara.

Também presente ao evento, a vereadora Adriana Ramalho (PSDB), em seu primeiro mandato, disse que as mulheres, mesmo eleitas, lutam de forma mais intensa para serem ouvidas dentro do Parlamento. “Temos muitas dificuldades para participar das comissões de maior destaque aqui na Câmara, como a de Constituição e Justiça e a Comissão de Finanças. O desafio é ainda maior para ocupar a presidência ou vice-presidência [das comissões]. Precisamos agir de forma muito intensa para dialogar com os colegas e mostrar que somos tão competentes quanto eles”, relatou Adriana.

Erica Malunguinho, a primeira deputada transexual do Brasil, participou do debate para contar um pouco da sua trajetória até ocupar uma cadeira na ALESP (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo).

Eleita pelo PSOL, Erica falou que a sociedade deve se comprometer com a desconstrução das violências estruturais. “As construções sociais nos distanciam dos nossos lugares de pertencimento, é por isso que temos que lutar para reafirmar a nossa identidade. Nesses primeiros dias de mandato, percebi que há uma naturalização da ausência dos discursos de gênero e raça na Assembleia. Por isso que a nossa luta deve ser construída além da institucionalidade”, afirmou a deputada.

Para Amelinha Teles, presidente da União de Mulheres de São Paulo, uma das organizações responsáveis pelo evento, a sociedade deve ficar alerta para não perder conquistas. “As mulheres são maltratadas na política porque esse é um espaço de poder. De um modo geral, existe uma afirmação dessa violência, seja por meio do discurso ou dos próprios atos”, disse Amelinha, para quem é necessário chamar atenção para o que está acontecendo na política brasileira atual. “Temos que evitar retrocessos e garantir o que já conquistamos”, afirmou.

A gerente de projetos da ONU Mulheres Brasil, Fernanda Papa, apresentou dados da América Latina sobre a ocupação de cargos políticos por mulheres e a violência política de gênero. Segundo ela, as últimas eleições brasileiras foram históricas. “Pela primeira vez, o Brasil chegou a 15% de representação das mulheres na Câmara Federal”, disse ela. Hoje são 77 deputadas eleitas, e na legislatura anterior foram 54. “Precisamos fortalecer as políticas conquistadas para que as mulheres possam competir e permanecer nesses espaços”, afirmou Fernanda.

Defensora pública do NUDEM (Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher), Paula Machado disse que o Brasil também precisa avançar na legislação sobre o assunto. Segundo Paula, outros países da América Latina, como a Bolívia, estão preocupados com o tema, tendo aprovado leis para fiscalizar e punir a violência política de gênero. “Lutamos por muito tempo para que mulheres pudessem participar da política. Agora, temos que garantir que essa violência não aconteça para as mulheres que já conseguiram ocupar o debate político. É a forma de também garantir que outras mulheres se interessem e se envolvam com a política”, afirmou a defensora pública.

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