Eu curto a Câmara
Conheça pessoas que gostam de acompanhar de perto o trabalho dos vereadores – por cidadania e por paixão
Fausto Salvadori Filho | fausto@saopaulo.sp.leg.br
Quem viveu a primeira legislatura da Câmara Municipal de São Paulo (CMSP), entre 1948 e 1951, conta que acompanhar as discussões entre vereadores era um programa habitual de muitos paulistanos, que enchiam as galerias para presenciar os embates. “A Câmara (daqueles anos) foi um verdadeiro Parlamento. Tanto assim que as galerias viviam lotadas, as pessoas tinham interesse em assistir às sessões”, lembra Edson Ravena, funcionário aposentado da CMSP, no livro São Paulo na tribuna – Primeira legislatura.
Hoje, os que seguem os trabalhos legislativos costumam ser, na maioria, visitantes ocasionais interessados em votações específicas ou pessoas que cumprem algum dever de profissão (como jornalistas) ou de militância (caso dos membros de ONGs e partidos). Mas ainda existem aqueles que ficam de olho no trabalho parlamentar simplesmente porque curtem.
“Gosto de política desde pequeno”, conta o estudante Gabriel Alves Pandini, 14 anos, enquanto assiste a uma sessão plenária transmitida pela TV Câmara, na sua casa em Santana (zona norte da capital paulista). O jornalista Luiz Alberto Pandini, 46, pai de Gabriel, confirma: “Com 4 anos, ele brincava de comentar as pesquisas eleitorais”. Diante da tevê, o garoto mostra intimidade com o trabalho dos vereadores. “Essa sessão vai cair por falta de quórum”, diz. Segundos depois, o presidente encerra os trabalhos.
Gabriel conta que virou um tira-dúvidas para assuntos políticos entre os colegas de escola. “Perguntaram como ficariam as eleições depois da morte de Eduardo Campos ou o que eu achava do beijo gay na novela”. E ele gosta: “É muito bom poder conversar e ser respeitado sobre esses assuntos. A política é o que move o País e não pode ser desvalorizada”.
Embora prefira os políticos do Partido dos Trabalhadores (PT), acompanhar as atividades realizadas no Palácio Anchieta (sede da CMSP), tanto pela TV como pela Apartes, levou Gabriel a ampliar sua visão da política. Entre os vereadores favoritos, cita tanto os petistas José Américo e Alfredinho como o tucano Floriano Pesaro. “Conhecendo os trabalhos dos vereadores aprendi a respeitar pessoas de outros partidos”, explica.
“Acompanhar o que se passa na Câmara me dá uma sensação de pertencimento à cidade”, conta o analista judiciário José D’Amico Bauab, o Zezinho, 48 anos e pesquisador do Centro de Memória Eleitoral (Cemel) do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP). Ele é um apaixonado pela CMSP. “O que me fascina é o debate em torno das grandes questões municipais, que influenciam milhões de pessoas”, afirma. Zezinho tinha 19 anos quando entrou pela primeira vez no Palácio Anchieta, acompanhando seu pai no lançamento da candidatura de Jânio Quadros a prefeito, em 1985. Hoje, sempre que pode acompanha sessões solenes, audiências públicas e reuniões das comissões que mais interessam. Como bom fã, tem os seus favoritos. Para ele, os melhores oradores que viu na tribuna foram Brasil Vita, Gabriel Ortega e Adriano Diogo. “Todos eram muito sinceros na defesa de suas posições.”
Zezinho não descansa nem nos finais de semana: “Aos sábados, vejo na TV Câmara as reprises das sessões plenárias que aconteceram na semana”. Ele conta que a paixão virou “objeto de gozação” entre seus amigos. “Eles acham estranho e perguntam se não tenho nada melhor para fazer.” Piadas à parte, Zezinho considera muito mais estranho quem não se interessa pelo trabalho dos políticos. “Não acompanhar o Legislativo é isolar-se da cidadania”, afirma.
Tanta paixão pelo tema já levou Gabriel e José Bauab a pensarem em trocar as galerias pelo Plenário 1º de Maio. Bauab chegou a cogitar a hipótese, mas deixou de lado: “Já pensei em ser candidato, mas os anos me afastaram da ideia, até por conta do meu ingresso na Justiça Eleitoral, que nos proíbe inclusive a filiação partidária”. Já para Gabriel o sonho de ser vereador segue firme. “Vou achar muito legal ver aprovada uma lei que eu criei e que ajude a população”, anima-se. E o pai, o que pensa disso? “É uma escolha dele. Se ele se tornar político, que faça direito”, responde Luiz. “Mas se fizer algo errado, vai apanhar na frente das câmeras”, promete o pai do futuro candidato.
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