A era das novas arenas
Após Allianz Parque e Arena Corinthians, Pacaembu pode ser o próximo estádio da cidade a se modernizar
Fausto Salvadori Filho | fausto@saopaulo.sp.leg.br
Colaborou Sândor Vasconcelos | sandor@saopaulo.sp.leg.br
Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas
Seu nome oficial é Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, em homenagem ao chefe da delegação brasileira nas Copas de 1958 e 1962, vencidas pela seleção canarinho. Mas pode chamá-lo de Pacaembu, que em tupi-guarani significa “terras alagadas”, nome do bairro com o qual sua história se mistura e o apelido pelo qual é conhecido.
O Pacaembu já foi a casa do “bando de loucos” corintianos, durante os anos em que abrigou a maioria dos jogos do Timão. Recebeu, também, as partidas com mando do Palmeiras, no período em que o Palestra Itália estava em reforma para se tornar o Allianz Parque. Mas, desde que ambos os clubes passaram a jogar em suas próprias arenas, no ano passado, o velho Paca, que em abril completará 75 anos, está em busca de uma nova identidade.
A Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação lançou em janeiro um chamamento público de concessão do Pacaembu à iniciativa privada. O objetivo é revitalizá-lo e deixá-lo no padrão das novas arenas multiuso, para que possa receber competições internacionais e sirva de espaço para eventos culturais.
Os projetos podem ser apresentados por empresas nacionais e estrangeiras. Além dos aspectos relacionados a arquitetura e engenharia, as propostas devem conter o modelo operacional, análise de projeção de receitas, viabilidade econômicofinanceira, impactos e riscos. Também devem constar melhorias como cobertura do estádio, instalação de assentos numerados, implementação de estacionamento com no mínimo 2 mil vagas, aprimoramento na acessibilidade, construção de salas VIP e criação de um centro de mídia, além da disponibilização de mais banheiros e wi-fi gratuito, entre outras. Até o fechamento desta edição, a Prefeitura não havia anunciado as empresas escolhidas para apresentar os estudos. Após o anúncio, elas terão 90 dias para encaminhar as análises ao Executivo.
“O Pacaembu é um equipamento importante, emblemático, com uma localização muito especial, mas está defasado do ponto de vista tecnológico”, avaliou o prefeito Fernando Haddad (PT), em entrevista coletiva no lançamento da chamada pública. Segundo ele, a intenção é discutir, com a sociedade civil e com a Câmara Municipal de São Paulo (CMSP), o futuro do estádio, com base em propostas concretas. “Isso pode desembocar na manutenção do Pacaembu como é hoje ou em uma reconfiguração”, explica Haddad, desde que “não leve transtornos para o bairro”, ressalta.
“A concessão que estamos propondo não tira o Pacaembu das mãos do Município em hipótese nenhuma”, garante o secretário municipal de Esportes e vereador licenciado, Celso Jatene. “A prioridade é resgatar a origem do Pacaembu, que tem vocação esportiva, cívica e cultural”, completa. A Prefeitura gasta R$ 9 milhões por ano para manter o estádio. Estima-se que o investimento para a modernização fique entre R$ 200 e R$ 300 milhões. Os projetos para as obras não contarão com recursos públicos e deverão respeitar as diretrizes de tombamento do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), feito em 1998. O Museu do Futebol, gerido pelo governo estadual, será mantido no estádio e não fará parte da concessão.
“MELHOR DO MUNDO”
Os debates em torno do futuro do estádio ocorrem na CMSP desde 2009, quando vereadores trabalharam na Comissão de Estudos sobre a Destinação do Estádio do Pacaembu. Durante 60 dias, os parlamentares ouviram moradores do bairro, jornalistas, representantes da Prefeitura e dos clubes, entre eles o Corinthians, que na época se candidatava a receber uma concessão para administrar o local.
Com presidência de Dalton Silvano (PV), vice-presidência de Toninho Paiva (PR) e relatoria de Antonio Goulart (PSD), a comissão concluiu que a melhor alternativa era ceder o Pacaembu à iniciativa privada. Em voto contrário, o vereador Marco Aurélio Cunha (PSD) defendeu um consórcio entre os principais times paulistas para a utilização do estádio, sem concessão.
Como Palmeiras, Corinthians e São Paulo têm suas casas próprias, atualmente Goulart defende que o Pacaembu seja administrado pelo Santos. O clube é dono do estádio Vila Belmiro, mas possui mais torcedores em São Paulo do que na sua cidade natal. “O Santos atravessa um momento financeiro difícil, mas poderia encontrar parceiros para a reforma”, afirma o vereador, que é fã do estádio: “O Pacaembu ainda é o melhor lugar do mundo para ver um jogo”. Marco Aurélio Cunha concorda que o melhor caminho é o Santos assumir o local, que “pode ser locado ou gerido parcialmente, com apoio da iniciativa privada, porque não adianta querer que o Estado banque tudo”.
A maior inovação dos últimos anos em relação ao Pacaembu é fruto de um projeto de Goulart: a criação do Museu do Futebol, em 2008. Atualmente, tramita pela Casa um projeto de lei (PL) semelhante, o 497/2011, de Dalton Silvano, que prevê a criação do Museu do Futebol Amador. O objetivo é “transmitir às gerações futuras o conhecimento e a cultura de verdadeiros celeiros de craques, mas, ao mesmo tempo, templos de amizade”.
FUTEBOL – Para Toninho Paiva, o esporte “possui o encanto de ser assunto obrigatório em todo o País”
Mozart Gomes/CMSP
Por sinal, o futebol jogado nas periferias, que tanto pode ser chamado de “amador”, por ser jogado com muito amor e pouca grana, como “de várzea”, em referência às partidas travadas nas margens do Rio Tietê, recebeu outra homenagem na CMSP, com a aprovação da proposta que criou o Dia do Futebol de Várzea (22 de setembro). A iniciativa partiu do vereador Eliseu Gabriel (PSB), para quem é o futebol de várzea que “mantém viva a chama do esporte bretão no coração dos brasileiros”.
Outro parlamentar, Toninho Paiva (PR), propôs a lei que criou, em 1997, o Dia do Futebol, comemorado em 19 de julho. “Praticado e acompanhado por milhões, possui o raro encanto de ser o assunto obrigatório em todos os cantos do País”, justifica Paiva, corintiano e conselheiro vitalício do clube. Naquele mesmo ano, ele conseguiu aprovar também a Lei 12.341, que oficializou a realização da Copa São Paulo de Futebol Júnior, principal torneio da categoria no Brasil e considerada por Paiva “o vestibular do futebol”.
Para resolver essa situação, uma lei proposta por Vavá , a 15.778/2013, obriga as empresas e cooperativas de ônibus coletivos públicos a oferecerem, aos seus funcionários, instalações sanitárias, água potável e abrigo contra intempéries nos pontos finais. Para o vereador, a preservação da saúde e segurança dos trabalhadores do transporte é, na maioria das vezes, ignorada e tratada como matéria secundária, mesmo que a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) defina a necessidade de se garantir proteção e higiene aos trabalhadores.
POLÍTICA E FUTEBOL
Além do destino do Pacaembu, o vereador Marco Aurélio Cunha conta que discute com a Prefeitura uma alternativa para outro importante palco futebolístico paulistano: o Canindé, da Portuguesa, clube que hoje tem mais carisma do que renda.
Parte da área ocupada pelo campo da Lusa fica em um terreno cedido em comodato pela Prefeitura. Segundo a proposta do vereador, essa área seria entregue à iniciativa privada para um empreendimento imobiliário, integrado ao projeto do Arco do Tietê, idealizado pelo Executivo. “De uma coisa que hoje está parada, a gente iria melhorar a região, com um centro de convenções, um hotel e apartamentos de classe média alta, valorizando o bairro sem povoá-lo demais”, explica.
Aproveitando que Marco Aurélio é conselheiro vitalício do São Paulo, a Apartes perguntou sobre os planos para o maior estádio da capital, o Morumbi. “Ele é maravilhoso e impecável. Para mim, basta uma cobertura. Não precisa mais do que isso”, afirmou. A obra que, segundo ele, deve ser feita com recursos próprios. “O São Paulo tem receita para construir essa cobertura do mesmo jeito que fez o Morumbi, paulatinamente”, acredita.
Outro episódio que ilustra a forte relação entre políticos e futebol foi a construção da Arena Corinthians. O Timão ganhou sua casa graças à Lei 15.413, proposta pelo prefeito Gilberto Kassab e aprovada em 2011 pela CMSP, depois de muitos debates. A legislação autorizou o Executivo a conceder incentivos fiscais para tornar realidade a arena, que foi uma das sedes e palco do jogo de abertura da Copa do Mundo de Futebol do ano passado. No total, foram concedidos R$ 420 milhões em incentivos para erguer o estádio na zona leste. A construção, finalizada em abril de 2014, foi acompanhada por uma subcomissão de vereadores, criada no âmbito da Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente.
Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas
Maior rival do Timão, o Palmeiras também tem um projeto ligado à sua nova arena, Allianz Parque, inaugurada em novembro. O PL 314/2014 já foi aprovado em primeira discussão e altera a denominação da Rua Turiassu, no trecho compreendido entre os números 1643 e 2237, para Rua Palestra Itália. Essa parte da rua é onde se localiza o estádio palmeirense. A proposta foi apresentada pelos vereadores Nelo Rodolfo (PMDB), Donato (PT), Andrea Matarazzo (PSDB), Antonio Carlos Rodrigues (PR), Calvo (PMDB), Laércio Benko (PHS), Marquito (PTB), Pr. Edemilson Chaves (PP), Reis (PT), Ricardo Nunes (PMDB), Roberto Tripoli (PV), Sandra Tadeu (Democratas), Senival Moura (PT) e Vavá (PT).
A mudança resgata o nome que o clube adotou desde a fundação, em 1914, e que durou até 1942. Naquele ano, o time passou a se chamar Palmeiras, por conta da Segunda Guerra Mundial, na qual o Brasil lutou contra a Itália e os demais países do Eixo. “Mediante tanta história e tradição ligadas ao nome Palestra Itália, faríamos justiça com essa alteração, perpetuando o nome para as gerações que estão por vir e enriquecendo a história paulistana”, afirma Nelo Rodolfo, que é ex-conselheiro do alviverde.
Dois rivais e um museuEspaço que encanta até quem não sabe diferenciar um escanteio de um tiro de meta, o Museu do Futebol nasceu graças a uma alian- ça entre dois torcedores de times arquirrivais: o vereador Antonio Goulart (PSD), conselheiro vitalício do Corinthians e membro fundador da torcida Gaviões da Fiel, e o então prefeito paulistano José Serra, palmeirense desde o berço. No papel, o museu foi concebido em 1999, por meio do PL 271, assinado por Goulart. Até a inauguração do espaço, em 2008, foram nove anos de uma bola que percorreu um longo caminho até dormir no fundo do gol. Aprovado na CMSP em 2002, o PL foi vetado pela prefeita Marta Suplicy, sob alegação de que era inconstitucional, por tratar de matéria administrativa, o que só poderia ser feito pela Prefeitura, e “contrário ao interesse público” por gerar gastos. Em 2005, Goulart procurou o prefeito José Serra, que acabara de assumir, para apresentar a ideia do museu. “Eu disse para ele: ‘Embora você torça para o time errado, sei que é um esportista’”, conta o vereador. Juntaram forças. Enquanto Goulart articulava a derrubada do veto na Câmara, o prefeito buscava o apoio do governo estadual e da Fundação Roberto Marinho. O projeto virou a Lei 13.989/2005, que, três anos depois, deu origem ao Museu do Futebol. “Acompanhei a construção desde a primeira pedra. Vi meu sonho ser realizado aos poucos”, lembra Goulart. O sonho resultou no espaço de 6,9 mil m², instalado embaixo das arquibancadas do Pacaembu, que se tornou um dos passeios obrigatórios da capital. No ano passado, foi eleito o 5º melhor museu do Brasil e o 9º da América do Sul, segundo a avaliação de turistas no site especializado TripAdvisor. |
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