Apartes recebe o Prêmio Herzog
Em sua primeira edição, revista leva menção honrosa com matéria sobre a Comissão Municipal da Verdade
Sândor Vasconcelos | sandor@saopaulo.sp.leg.br
Premiado: Fausto Salvadori Filho recebe diploma de menção honrosa de Antonio Funari Filho, ouvidor da Polícia Militar
Ricardo Rocha/CMSP
Jornalistas de todo o Brasil se reuniram na noite de 22 de outubro, no Auditório Simón Bolívar do Memorial da América Latina, para a entrega do 35º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Entre os profissionais contemplados estava Fausto Salvadori Filho, jornalista efetivo da Câmara Municipal de São Paulo (CMSP) e autor da matéria Em Busca da Verdade, que traz os resultados da primeira fase dos trabalhos realizados pela Comissão Municipal da Verdade Vladimir Herzog. A reportagem, publicada na Apartes, ficou entre as três finalistas da categoria revista e recebeu menção honrosa.
“A premiação é um sinal de amadurecimento da comunicação feita na Câmara Municipal e da própria comunicação pública realizada no País”, analisa Fausto. Para ele, reforça a tese o fato de que nos últimos anos as premiações jornalísticas passaram a contemplar veículos de órgãos públicos, como a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), a Rádio Senado e, agora, a Apartes. “A comunicação pública começa a conquistar um espaço próprio, separado do marketing político, com o qual costumava ser confundida. Passa a ser vista como um serviço à sociedade”, complementa o jornalista, que finaliza: “É muito bom receber o Vladimir Herzog, é um reconhecimento disso”.
A cerimônia de entrega, conduzida pelos jornalistas Juca Kfouri e Mônica Teixeira, teve início com homenagem a Antonio Maschio, agitador cultural falecido no dia anterior. O primeiro a se pronunciar foi José Augusto de Camargo, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo. Ele citou recentes atos de violência e desrespeito contra jornalistas no exercício da profissão, como os agredidos nas manifestações populares de rua que vêm ocorrendo pelo Brasil, e lembrou que Vladimir Herzog, o Vlado, é um símbolo da resistência contra tais arbitrariedades.
IN MEMORIAM: O agitador cultural Antonio Maschio, que morreu na véspera da entrega do Prêmio, é homenageado
CCI.1/CMSP
Representando a família do jornalista que dá nome ao prêmio estava Lucas Herzog, neto de Vlado. Além dos contemplados pelos trabalhos veiculados na imprensa, também foram premiados na categoria especial, por relevantes serviços prestados às causas da democracia, paz e justiça,
Perseu Abramo (in memoriam), criador do Prêmio e representado por sua viúva, Zilah Abramo, Marco Antônio Tavares Coelho e
Raimundo Rodrigues Pereira.
Marco Antônio Coelho, aos 88 anos, contou sobre quando foi eleito deputado federal, em 1962, e sofreu cassação em 1964. Narrou, orgulhoso, o tempo em que editava o informativo Notícias Censuradas, que circulava clandestinamente e publicava as matérias da revista Veja vetadas pelos militares. Já Raimundo Pereira alertou que, “no regime de concentração de capital, a imprensa tem de fazer um esforço maior para cumprir o seu papel”.
Um dos momentos de mais destaque e emoção foi protagonizado pela jornalista Marilu Cabañas, que venceu a categoria rádio pela Brasil Atual com a reportagem Voz Guarani-Kaiowá. O final do discurso de Marilu foi feito na língua guarani, traduzido por uma descendente indígena, e pregou respeito aos nativos.
Jovens jornalistas
Juntamente com o Herzog, foi entregue o 5º Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão. Quatro projetos de estudantes foram escolhidos e viraram reportagens graças ao apoio financeiro do Prêmio. A reportagem Travestis e Transexuais: Luta por Respeito nas Salas de Aula, das estudantes Mariana de Camargo e Marina Yoshimi, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), foi eleita como o melhor trabalho e ganhou uma viagem para conhecer o Museu do Apartheid, na África do Sul. As quatro matérias finalistas estão disponíveis em http://jovemjornalista.org.br.
Uma praça chamada Vladimir Herzog
Fotos: Fabio Lazzari/CMSP
Em 25 de outubro de 1975, Vladimir Herzog, então diretor de jornalismo da TV Cultura, sucumbiu após interrogatório regado a sessões de tortura pelas mãos da ditadura militar, nas dependências do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi). Exatos 38 anos depois, Herzog recebeu uma homenagem por sua história de luta e deu nome à Praça e Memorial que ficam atrás do Palácio Anchieta, sede da Câmara Municipal. A renomeação da antiga Praça Jardim da Divina Providência ocorreu após aprovação do Projeto de Lei 217/2012, do ex-vereador Ítalo Cardoso (PT), também assinado pela Mesa na época da presidência do vereador José Police Neto (PSD).
Na praça, foi construído pelas crianças do Projeto Âncora um mosaico baseado na obra 25 de Outubro, do artista plástico Elifas Andreato. “A imagem é inspirada naquela foto do Herzog enforcado pela maldita ditadura do Brasil”, explicou Andreato, em seu discurso.
Herdeiro: Natalini (esq.) e Ivo Herzog: “A morte do meu pai teria sido só mais uma se não fosse a coragem de alguns”
Fotos: Fabio Lazzari/CMSP
A família de Vlado foi representada pelo seu filho Ivo Herzog. “A família está muito feliz com a homenagem. A morte do meu pai teria sido só mais uma se não fosse a coragem de algumas entidades e pessoas, como o Sindicato dos Jornalistas, d. Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel e o (reverendo) James Wright”, disse Ivo, referindo-se aos que se recusaram a aceitar a versão oficial dos militares, que afirmavam que Vlado havia cometido suicídio. Essa recusa iniciou os protestos que culminaram com a volta da democracia ao Brasil.
Uma das figuras da linha de frente das manifestações foi o presidente do Sindicato dos Jornalistas na época em que Herzog faleceu, Audálio Dantas. Amigo de Vlado, Dantas ganhou o Prêmio Jabuti 2013, na categoria reportagem, com o livro As Duas Guerras de Vlado Herzog: da Perseguição Nazista na Europa à Morte sob Tortura no Brasil. “Entendo que o nome de Herzog a uma praça, principalmente um recanto como este, por iniciativa da Câmara Municipal, é mais uma conquista das lutas iniciadas com o episódio da morte do Vlado”, diz Dantas. “As lutas de resistência democrática a partir do sacrifício de Herzog tomaram um impulso muito grande, que trouxeram conquistas para a sociedade brasileira e, consequentemente, contrárias à violência da ditadura”, complementa.
Nemércio Nogueira, diretor do Instituto Vladimir Herzog, acredita que a inauguração da praça ficará marcada como um dia de “redenção da memória de Vlado”. Nogueira chamou a atenção para a localização do memorial: “Tem um aspecto dessa praça que é muito significativo, ela dá de frente para um lugar chamado Praça da Bandeira. Acho que tem uma mensagem importante aí”.
Fotos: Fabio Lazzari/CMSP
Vereadores e ex-vereadores também utilizaram o microfone para enaltecer a figura de Vladimir Herzog. Ítalo Cardoso contou que o processo finalizado com a mudança do nome da praça começou com uma conversa entre ele e o jornalista Sérgio Gomes. O presidente da Casa, José Américo (PT), disse que a homenagem é singela e ressaltou que a CMSP vem atuando na área de Direitos Humanos de maneira cada vez mais intensa. Américo citou como exemplo o trabalho da Comissão Municipal da Verdade Vladimir Herzog, cujo atual presidente, vereador Gilberto Natalini (PV), resumiu a importância história de Vlado: “Foi a morte de Herzog que fez transbordar o copo de mágoa e raiva que o Brasil sentia da ditadura”.