Texto: Rodrigo Garcia rodrigogarcia@saopaulo.sp.leg.br
Fotos: Gute Garbelotto
O escritor Daniel Munduruku sentiu uma emoção especial quando conheceu o Parque Ibirapuera, um dos principais de São Paulo. “É um lugar circular, pois todos os seus cantos lembram nossa transitoriedade, nos ensinando que somos parte integrante do planeta e não seus donos. É o que nos dizem as árvores, que já atravessaram o tempo resistindo bravamente, apesar de já terem presenciado o corte de muitas de suas parentas para dar vez à cidade que cresce ao seu redor”, afirmou no livro Crônicas de São Paulo: um olhar indígena.
"Parque Ibirapuera, um dos raros pulmões verdes desta cidade, um dos raros parques destinados à população da nossa cidade nos seus momentos de folga e de recreação, já abriga, aos domingos e feriados, um considerável número de pessoas, de tal forma que é fácil verificar-se o congestionamento em todas as suas ruas de acesso." Vereador Nicolau Tuma, em 1954
O parque foi inaugurado em 21 de agosto de 1954, durante as comemorações do Quarto Centenário da fundação da cidade. Desde então, tem atraído multidões de paulistanos e de turistas, que vão aproveitar a fauna e a flora do lugar. E não só. As pessoas também procuram esportes, shows, ciências, artes plásticas, moda, locais bonitos para tirar fotografias, enfim, viver momentos agradáveis.
Desde o começo do século passado, a Prefeitura e a Câmara Municipal de São Paulo (CMSP) já pensavam em utilizar aquela região da zona sul para fazer um parque. Em 1926, o prefeito José Pires do Rio declarou que pretendia construir um parque “em pleno coração da cidade”. No relatório anual da Prefeitura, fez elogios aos terrenos da região, que “se prestam, admiravelmente, a construção de um imenso jardim ou parque, com área igual ao do Hyde Park de Londres, igual à metade do Bois de Boulogne, de Paris”. Durante seu mandato, Pires do Rio empenhou-se na aquisição de terras para começar as obras.
Outra medida da Prefeitura foi transferir o viveiro municipal, local onde são cultivadas as mudas que serão usadas nas áreas públicas da capital, do Parque da Água Branca, na zona oeste, para a região do Ibirapuera, em 1928. Depois, o viveiro receberia o nome de Manequinho Lopes, como era mais conhecido Manoel Lopes de Oliveira Filho, que foi diretor da Divisão de Matas, Parques e Jardins da Prefeitura. Ele foi responsável por plantar eucaliptos para drenar a região, que alagava com frequência, tornando o local um brejo (Ibirapuera em tupi-guarani quer dizer “madeira podre”).
Antes mesmo da inauguração oficial, o parque já era um sucesso. Em sessão da CMSP em 4 de agosto de 1954, o vereador Nicolau Tuma afirmou que o “Parque Ibirapuera, um dos raros pulmões verdes desta cidade, um dos raros parques destinados à população da nossa cidade nos seus momentos de folga e de recreação, esse parque, hoje, quando ainda não está propriamente aberto ao público, já abriga, aos domingos e feriados, um considerável número de pessoas, de tal forma que é fácil verificar-se o congestionamento em todas as suas ruas de acesso”. Tuma, então, propôs mudanças no trânsito da região.
“É um lugar circular, pois todos os seus cantos lembram nossa transitoriedade, nos ensinando que somos parte integrante do planeta e não seus donos. É o que nos dizem as árvores, que já atravessaram o tempo resistindo bravamente, apesar de já terem presenciado o corte de muitas de suas parentas para dar vez à cidade que cresce ao seu redor." Escritor Daniel Munduruku, em 2004
O prefeito Lino de Matos gostou tanto do parque que resolveu transferir seu gabinete para lá, em janeiro de 1956, num gesto que também serviu para demonstrar poder. A decisão desagradou a muitos intelectuais, defensores da ideia de que no Parque do Ibirapuera ficassem apenas museus.
A Prefeitura ficou localizada no Pavilhão Manoel da Nóbrega, atual Museu Afro Brasil Emanoel Araújo, até 1992, quando sua sede foi transferida para o Palácio das Indústrias, hoje Museu Catavento, no Parque Dom Pedro II, pela prefeita Luiza Erundina. Em 2004, a prefeita Marta Suplicy mudou o gabinete para o Edifício Matarazzo, no Viaduto do Chá, onde continua até hoje.
Ao completar 70 anos de existência, o Parque do Ibirapuera passou por mais uma mudança. Desta vez, simbólica: a Praça da Paz passou a se chamar Praça da Paz – Rita Lee. A mudança ocorreu com a sanção da Lei nº 18.144/2024, originada do Projeto de Lei (PL) 236/2023, de autoria da vereadora Luna Zarattini (PT), com a coautoria dos vereadores Janaína Lima (PP), Manoel Del Rio (PT) e Milton Leite (UNIÃO). Rita, que quando jovem costumava fazer piquenique no parque, citou o Ibirapuera em algumas canções, como Vírus do amor e As mina de Sampa.
O repórter-fotográfico Gute Garbelotto registrou esta crônica em fotografias para mostrar que, aos 70 anos, o Parque do Ibirapuera continua com vida. Muita vida.
Galeria de Imagens:
Edição: Sândor Vasconcelos sandor@saopaulo.sp.leg.br
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