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Pandemia do novo coronavírus está em desaceleração na maior parte do país, aponta pesquisa

Por Daniel Monteiro | 21/09/2020

Dados mais recentes da pesquisa Epicovid-19 BR mostram que o percentual de brasileiros que apresentam anticorpos contra o novo coronavírus caiu de 3,8% em junho para 1,4% em agosto. Para os autores do estudo o resultado, divulgado na última terça-feira (15/9), é um forte indício de que a epidemia está em desaceleração na maior parte do país.

A quarta fase da coleta de dados do projeto incluiu 33.250 participantes de 133 cidades e foi conduzida entre os dias 27 e 30 de agosto por uma equipe coordenada pelo reitor da UFPel (Universidade Federal de Pelotas), Pedro Hallal.

Nas três etapas anteriores – uma concluída em maio e outras duas no mês de junho, nas mesmas 133 cidades – a soroprevalência havia seguido tendência de elevação: 1,9%, 3,1% e 3,8%, respectivamente. A exceção foi a região Norte, onde algumas localidades fortemente afetadas no início da pandemia registraram queda na proporção de soropositivos entre a segunda e a terceira fases do estudo. Outras duas etapas de coleta devem ser realizadas nos próximos meses, com apoio da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).

Os resultados mais recentes também revelam uma mudança na faixa etária dos infectados entre junho e agosto. Nos primeiros meses da pandemia, a soroprevalência foi maior entre pessoas de 20 a 50 anos, justamente aquelas em idade produtiva e que tiveram mais dificuldade para aderir ao isolamento social. Agora, o percentual diminuiu nesse grupo e aumentou entre crianças e idosos. Do ponto de vista socioeconômico, a tendência se manteve estável em todas as fases da pesquisa: pessoas cujas famílias se encontram entre as 20% mais pobres da população apresentam prevalência mais de duas vezes superior à observada entre os 20% mais ricos.

Houve uma queda importante da prevalência entre indígenas nos últimos meses – reflexo da desaceleração da epidemia na região Norte. Por outro lado, pretos e pardos continuam a apresentar maior chance de infecção em comparação aos brancos. Para os autores, a quarta da pesquisa deixou clara a interiorização da pandemia, uma vez que, hoje, o vírus está muito mais forte nos municípios do interior do que nas capitais – diferente do que foi observado nas fases anteriores.

As cidades com maior soroprevalência na última medição foram Juazeiro do Norte (8%) e Sobral (7,2%) – ambas no Ceará. Na sequência estão as paraenses Santarém (6,4%) e Altamira (5,2%). No Estado de São Paulo, a primeira colocada é Ribeirão Preto (2,8%), seguida por Araçatuba (2%), Campinas (0,8%) e capital (0,8%).

MAIS SOBRE O CORONAVÍRUS

De acordo com boletim diário desta segunda-feira (22/9) publicado pela Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo sobre a pandemia do novo coronavírus (causador da Covid-19), a capital paulista contabiliza 12.368 vítimas da Covid-19.

Há, ainda, 321.013 casos confirmados de infecções pelo novo coronavírus e 387.344 casos suspeitos sob monitoramento. Até o momento, 423.785 pessoas receberam alta após passar pelos hospitais de campanha, da rede municipal, contratualizados e pela atenção básica do município.

Abaixo, gráfico detalhado sobre os índices da Covid-19 na cidade de São Paulo nesta segunda-feira.

Crédito: Prefeitura de SP

Em relação ao sistema paulistano de saúde pública, nesta segunda-feira a taxa de ocupação de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) destinados ao atendimento de pacientes com Covid-19 na Grande São Paulo é de 47%.

No último domingo (20/9), o índice de isolamento social na cidade de São Paulo foi de 50%. A medida é considerada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e autoridades sanitárias a principal forma de contenção da pandemia do novo coronavírus.

A aferição do isolamento é feita pelo Sistema de Monitoramento Inteligente do Governo de São Paulo, que utiliza dados fornecidos por empresas de telefonia para medir o deslocamento da população e a adesão às medidas estabelecidas pela quarentena no Estado.

MAIS SOBRE O CORONAVÍRUS

No último domingo (20/9), o Governo do Estado anunciou que São Paulo deve receber, já em outubro, 5 milhões de doses da vacina CoronaVac, que está sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan (na capital paulista), em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac Biotech.

A previsão da administração estadual é de que haja 46 milhões de doses disponíveis até dezembro. A ampliação de vacinas será possível em virtude da transferência de tecnologia da farmacêutica para o instituto, que passará a produzir o imunizante.

Na última segunda-feira (14), o governo paulista informou que o instituto irá iniciar, em novembro, obras para ampliar sua estrutura física do Instituto Butantan, a fim de acelerar a produção de vacinas. A expectativa da administração estadual é que a reforma seja finalizada ainda neste mês.

A CoronaVac já está na fase 3 de testes em humanos. Os estudos, de responsabilidade do Instituto Butantan, começaram a ser feitos no Brasil em julho e serão aplicados em 9 mil voluntários. A testagem foi organizada a partir de 12 centros de pesquisas, localizados em São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná.

AÇÕES E ATITUDES

Um estudo envolvendo o Departamento de Engenharia de Transportes da Poli (Escola Politécnica) e o CEM (Centro de Estudos da Metrópole), ambos da USP (Universidade de São Paulo) na capital paulista, avalia as importantes mudanças no sistema de transportes com a flexibilização decorrente da pandemia do novo coronavírus.

A pesquisa foi realizada no momento da pandemia em que muitas pessoas, dependendo do transporte público, voltaram às suas atividades presenciais, e evidenciou uma desigualdade estrutural na sociedade.

Segundo o estudo, pessoas com níveis de renda e educacional mais altos conseguiram permanecer em casa e fazer seus trabalhos remotamente. No entanto, grande parte da população, cuja presença física era essencial para a continuidade dos trabalhos, teve de continuar se movimentando pela cidade a despeito dos altos riscos de contágio.

A pesquisa, que faz parte da Rede de Pesquisa Solidária, busca contribuir com a discussão de como ter uma reorganização para que o risco de contágio dessas pessoas no trajeto para o trabalho seja minimizado, especialmente profissionais essenciais como os da área da saúde e de serviços básicos.

Uma das missões da pesquisa era analisar a questão intraurbana, o que acontecia em termos de distribuição espacial das desigualdades socioterritoriais dentro das cidades, e como as políticas que foram adotadas estavam afetando especificamente as populações que dependem do transporte público.

Outra preocupação do estudo era não estigmatizar o transporte público, na medida em que esse é um serviço essencial. Um exemplo apontado foi a ação, em São Paulo, que reduziu a frota para acompanhar a redução da demanda. No entanto, houve uma diminuição homogênea na cidade, que não considerou as diferenças entre centro e periferia, onde há uma demanda muito maior pelo transporte público. Além disso, com a redução na frota, há o problema de menor arrecadação, já que a receita vem das tarifas pagas pelos usuários.

A pesquisa continua em andamento e, além do estudo ligado à Rede de Pesquisa Solidária, há um projeto específico sobre desigualdades sociais no transporte urbano em produção.

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