Começam obras da nova fábrica do Butantan para produção da vacina Coronavac
Nesta segunda-feira (08/11), foi anunciado o início das obras da nova fábrica do Instituto Butantan, na capital paulista, para produção da vacina Coronavac. Com capacidade de produção de 100 milhões de doses por ano, a planta será construída com doações da iniciativa privada.
Com cerca de 10 mil m² a nova fábrica do Butantan, além de produzir as doses da vacina contra a Covid-19, poderá produzir outros imunizantes fabricados no Instituto. A previsão de conclusão das obras é de até 10 meses, com um custo de R$ 160 milhões, sendo que já foram arrecadados até o momento R$ 130 milhões com doações de 24 empresas dos mais diversos setores da economia.
Desenvolvida em parceria pelo Instituto Butantan com a farmacêutica chinesa Sinovac Life Science, a Coronavac está em fase final de testes clínicos que, quando finalizados, serão submetidos para aprovação e registro da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Somente após essas aprovações, as doses serão disponibilizadas para a aplicação.
Após autorização da Anvisa e das autoridades sanitárias da China, o Instituto Butantan receberá as primeiras 120 mil doses da Coronavac, com chegada prevista para o dia 20 de novembro no Aeroporto Internacional de Guarulhos.
Além disso, até dezembro de 2020, o Butantan receberá 46 milhões de doses da Coronavac, sendo 6 milhões de doses da vacina já prontas para aplicação e outras 40 milhões que serão formuladas e envasadas em fábrica própria do Instituto. Outras 15 milhões de doses devem chegar até fevereiro de 2021.
Em fase final de estudos clínicos no Brasil, a Coronavac é considerada uma das vacinas mais promissoras no mundo, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), e vem sendo testada em sete Estados brasileiros, além do Distrito Federal.
Coordenado pelo Instituto Butantan, na capital paulista, os testes envolvem 13 mil profissionais de saúde em centros de pesquisa de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. Até o momento, mais de 10 mil pessoas já receberam ao menos uma das duas doses da vacina ou placebo.
Assim que os estudos clínicos comprovarem os índices de segurança e eficácia, a Coronavac será submetida ao devido registro da Anvisa para, somente depois, ser distribuída para a vacinação da população.
MAIS SOBRE O CORONAVÍRUS
De acordo com boletim diário desta segunda-feira (09/10) publicado pela Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo sobre a pandemia do novo coronavírus (causador da Covid-19), a capital paulista contabiliza um total de 13.706 vítimas da Covid-19.
Há, ainda, 367.601 casos confirmados de infecções pelo novo coronavírus e 504.949 casos suspeitos sob monitoramento. Até o momento, 531.181 pessoas receberam alta após passar pelos hospitais de campanha, da rede municipal, contratualizados e pela atenção básica do município.
Segundo informações oficiais, em decorrência de falhas na rede DataSUS, do Ministério da Saúde, não foi possível atualizar os casos confirmados e suspeitos e os óbitos confirmados nos últimos dias.
Abaixo, gráfico detalhado sobre os índices da Covid-19 na cidade de São Paulo nesta quinta-feira.
No último domingo (08/11), o índice de isolamento social na cidade de São Paulo foi de 47%. A medida é considerada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e autoridades sanitárias a principal forma de contenção da pandemia do novo coronavírus.
A aferição do isolamento é feita pelo Sistema de Monitoramento Inteligente do Governo de São Paulo, que utiliza dados fornecidos por empresas de telefonia para medir o deslocamento da população e a adesão às medidas estabelecidas pela quarentena no Estado.
AÇÕES E ATITUDES
Quando se fala na produção de imunidade contra o novo coronavírus, um dos meios de se estimular o desenvolvimento de anticorpos é pela possível vacina, mas existem pessoas que já nascem com maior resistência à Covid-19, ou que criam as defesas após a infecção, e há outras que, mesmo tendo contato com o vírus, criam poucos ou quase nenhum anticorpo.
Por conta disso, segundo Max Igor Banks, responsável pelo Laboratório de Reinfecção do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), ainda não é possível entender plenamente como funciona a produção de anticorpos contra o novo coronavírus no organismo, porque há casos em que acontece a redução da defesa e há alguns em que a produção de imunidade é baixa, de modo a propiciar a reinfecção, portanto, os estudos não são conclusivos quanto a quem produz mais ou menos respostas imunes.
Em entrevista à Rádio USP, o pesquisador explica que algumas pessoas já nascem com a capacidade de se defender contra o novo coronavírus, mesmo sem nunca ter tido contato. E, quando se fala em mecanismos de defesa, isso geralmente se refere à imunidade adquirida ou adaptativa, e essa é moldada pelo organismo para se defender de um patógeno específico, enquanto a imunidade adaptativa é estimulada pela vacina.
Quanto aos casos de reinfecção, Banks informa que, apesar de ser esperada a Covid-19 em sua manifestação mais leve do que no primeiro contágio, tem acontecido o contrário, os casos têm registrado infecção mais intensa no segundo contato com o vírus. Ao todo, foram registrados pelo Hospital das Clínicas da USP cerca de 29 casos de reinfecção por Covid-19 e 80% destes tiveram a doença mais intensa do que na primeira vez.
O pesquisador compartilha que uma das hipóteses é a baixa ou nenhuma produção de anticorpos no primeiro contágio, o que possibilita a manifestação mais intensa da doença na reinfecção: Banks afirma que pessoas que têm quadros muito leves, muitas vezes, não fazem uma imunidade adequada ao vírus. Portanto, segundo a hipótese, os casos que produzem mais resposta de anticorpo são os mais intensos.
Também não há conclusão quanto à persistência dos anticorpos no organismo, já que há registros de queda. Na visão do pesquisador, mesmo que a queda da defesa imunológica ocorra, uma vez que o indivíduo tenha desenvolvido anticorpos suficientes para combater o novo coronavírus, o organismo guarda como se fosse uma espécie de receita para produções futuras de imunidade protetora, os chamados anticorpos neutralizantes, o que significa que, se a pessoa entrar em contato com o vírus, as defesas serão produzidas rapidamente. De acordo com o médico, nos casos em que bebês nascem imunes à Covid-19, os anticorpos podem ser passados da mãe para o feto, caso ela tenha tido contato com o vírus e produzido resposta imunológica.
Para Banks, a possibilidade dessa produção de forma orgânica muda a lógica das vacinas, porque, ao invés de diversas doses para estimular a produção de anticorpos ao longo dos anos – já que o corpo possui a receita de proteção –, as vacinas devem ser eficientes a ponto de não necessitarem de doses de reforço.