Crise pode levar Brasil a queda de até 10% da atividade econômica
Segundo Simão Silber, o ano será apenas de sobrevivência e o governo deve enfrentar dificuldade para contornar crise devido à economia já fragilizada antes da pandemia
A economia brasileira tem sido fortemente afetada pela pandemia. Especialista prevê queda de até 10% da atividade econômica do País num possível cenário grave, o que pode consolidar a crise como uma das piores dos últimos 100 anos. O segundo semestre de 2020 deve ser o pior do ano, apesar da fraca retomada de setores econômicos como o comércio e a indústria.
Para Simão Silber, do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, em entrevista ao Jornal da USP no Ar, o fundo do poço já passou. “Os dados de maio indicam recuperação do comércio e da indústria, mas numa base tão pequena que vamos terminar o ano muito pior do que começamos. O fundo do poço já foi neste período do segundo trimestre. No final do ano, vai ser a pior queda do nível de atividade econômica e do emprego na nossa história moderna em 120 anos. O ano que vem, se um núcleo importante da economia sobreviver, a gente tem o mínimo de musculatura para crescer, mas, veja, crescer como está se prevendo 3% ou 3,5% de uma base pequena não é muita coisa, mas é crescimento.”
Silber acredita que a grande tarefa do governo em todas as áreas, inclusive na área sanitária, é tentar salvar a maior parte dos agentes econômicos: as empresas e a população. “Se sumir um ou outro, acabou o jogo, não tem economia.”
O professor afirma que o Brasil está num chão escorregadio, ou seja, repleto de incertezas, e as previsões de instituições internacionais são de forte queda do nível de atividade econômica no País: “Os números que estão saindo sobre o Brasil lá fora, como os do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, variam de 6% a 10% de queda do nível de atividade econômica. É um tombo para machucar. Nós não temos isso na nossa história. Houve eventos parecidos, mas a intensidade é de tal forma que a gente não tem paralelo na história, nem com a grande depressão nem com a gripe espanhola”.
Segundo Silber, a economia brasileira já estava fragilizada antes da pandemia, o que intensifica a queda. “A economia não crescendo antes do evento já deixa o governo mais fragilizado, porque, se a economia não deslancha, a arrecadação não deslancha. Ele complementa: “O déficit primário deve ser de 10% do PIB, ou seja, vai faltar dinheiro para pagar juros e isso representa 10% do PIB, R$ 800 milhões. A dívida dispara. Num cenário muito ruim, a dívida do governo este ano chega a 100% do PIB”.
Apesar da iminente crise, o professor acredita que o objetivo atual deve ser o de manter a sobrevivência da economia ao invés de levantá-la: “No inverno, quando o urso não tem alimento, ele hiberna para sobreviver. Então, nós temos que hibernar, mas como o inverno é rigoroso, é preciso que alguém dê o cobertor, e esse alguém chama-se governo, [que pode fornecer] crédito e transferência de renda para que pessoas e empresas, num momento adequado, estejam vivos para recomeçar a vida. A nossa luta a curto prazo é pela sobrevivência”.
Ouça a entrevista na íntegra neste link.