Estado terá toque de restrição de circulação das 23h às 5h a partir da próxima sexta
A partir da próxima sexta-feira (26/2), o Governo de São Paulo vai endurecer as regras da quarentena em todo o Estado com a adoção de um toque de restrição de circulação das 23h às 5h. A medida é válida até o dia 14 de março. A informação foi dada em coletiva realizada no início da tarde desta quarta-feira (24/2) no Palácio dos Bandeirantes.
Também foi reforçada a proibição de aglomerações em qualquer horário e a aplicação de multas por descumprimento do Plano São Paulo. Para isso, será realizada uma força-tarefa de fiscalização entre a Vigilância Sanitária, a Polícia Militar e o Procon-SP para que essas medidas sejam seguidas
As medidas de restrição de circulação das 23h às 5h serão complementares às ações já previstas pelo Plano São Paulo, que determina as regras de funcionamento dos diferentes setores da economia em cada região do Estado, segundo sua classificação no plano. Atualmente, a capital paulista (região da Grande SP) está classificada na fase amarela, na qual é permitido o funcionamento de restaurantes e comércios até 22h. “Lembro que várias cidades europeias, regiões e países também adotaram medidas restritivas de circulação. E o mesmo já vem ocorrendo aqui no Brasil e em São Paulo, em algumas cidades e em alguns Estados”, argumentou o governador João Doria (PSDB).
O Governo de São Paulo justificou que o aumento das restrições se dá após o Estado registrar, desde o início da pandemia, um recorde de internações por Covid-19 no sistema hospitalar em todo o território paulista, registrando também o maior número de pacientes internados em leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Entre as semanas epidemiológicas 6 e 7, houve aumento de 5,5% no número de novas internações e, entre as semanas 7 e 8, esse crescimento foi de 9,1%. Além disso, nos últimos 10 dias, mais de 660 pessoas foram hospitalizadas em unidades de terapia intensiva, totalizando nesta quarta 6.657 pacientes em UTIs no Estado. “Nós não temos nenhuma satisfação em adotar uma medida como essa, mas temos a necessidade de aplicar essa medida para proteger vidas”, destacou Doria.
“Nós estamos extremamente preocupados. O Estado de São Paulo ainda tem um número bastante considerável de leitos disponíveis, mas se nós olharmos para o futuro, nós temos uma previsão bastante preocupante, que é de poder esgotar os recursos de leitos de UTI em aproximadamente três semanas”, alertou o coordenador geral do Centro de Contingência do Covid-19, Paulo Menezes.
“O que nós queremos é reduzir as aglomerações e encontros que possam ocorrer, principalmente no período noturno. Isso evita tanto grandes aglomerações, festas clandestinas, por exemplo, como também aquelas reuniões que parecem inofensivas, reuniões de 10, 15, 20 pessoas que vão até mais tarde, mas é onde ocorre grande transmissão do vírus em muitas situações”, completou Menezes.
De acordo com o coordenador executivo do Centro de Contingência, João Gabbardo, há uma grande preocupação que se repita em São Paulo o que vem ocorrendo em algumas regiões do país, que têm registrado piora em seus sistemas de saúde, como a região norte e a região sul. “Não pode assistir passivamente ao que está acontecendo ao nosso redor e achar que no Estado de São Paulo isso não vai ocorrer”, explicou.
“Então, essas medidas que foram sugeridas pelo Centro de Contingência tem um objetivo não só de ampliar a oferta de serviços, o que é necessário, mas, fundamentalmente, de poder agir na redução da transmissibilidade da doença, inclusive dessa variante que tem acontecido já com alguma incidência elevada em algumas regiões e que pode se expandir para outras regiões”, finalizou Gabbardo.
O Governo do Estado enfatizou, ainda, a importância da colaboração da população no combate à pandemia, tanto respeitando as medidas de restrição implementadas, quanto auxiliando a fiscalização através do disque-denúncia 0800-771-3541, para notificar as autoridades sobre qualquer tipo de infração ao Plano São Paulo.
Vacinas
Também na coletiva, o Governo do Estado confirmou a entrega, nesta quarta-feira, de mais 900 mil doses prontas da vacina do Instituto Butantan para o Ministério da Saúde. As doses deverão ser disponibilizadas a todo o país no âmbito do Programa Nacional de Imunização.
Segundo a administração estadual, até o dia 5 de março o Butantan chegará à marca de 15,4 milhões de doses distribuídas da vacina do Butantan e, até 30 de abril, deverá entregar as 46 milhões do imunizante previstas no contrato com o Ministério da Saúde.
Também participaram da coletiva secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn; a secretária estadual de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação, Patricia Ellen; o secretário estadual de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi; o coordenador executivo do Centro de Contingência do Covid-19, João Gabbardo; a coordenadora do Centro de Controle de Doenças do Estado, Regiane de Paula; o secretário estadual da Segurança Pública, general João Campos; o diretor-executivo do Procon São Paulo, Fernando Capez; e a diretora do Centro de Vigilância Sanitária do Estado, Cristina Megid.
MAIS SOBRE O NOVO CORONAVÍRUS
De acordo com o boletim diário mais recente publicado pela Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo sobre a pandemia do novo coronavírus, nesta quarta-feira (24/2) a capital paulista totaliza 18.433 vítimas da Covid-19.
Há, ainda, 624.076 casos confirmados de infecções pelo novo coronavírus e 786.735 casos suspeitos sob monitoramento. Até esta quarta, 891.779 pessoas haviam recebido alta após passar pelos hospitais de campanha, da rede municipal, contratualizados e pela atenção básica do município.
Abaixo, gráfico detalhado sobre os índices da Covid-19 na cidade de São Paulo.
Em relação ao sistema público de saúde, nesta quarta-feira (24/2) a taxa de ocupação de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) destinados ao atendimento de pacientes com Covid-19 na Grande São Paulo é de 70%.
Já na última terça (23/2), o índice de isolamento social na cidade de São Paulo foi de 38%. A medida é considerada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e autoridades sanitárias a principal forma de contenção da pandemia do novo coronavírus.
A aferição do isolamento é feita pelo Sistema de Monitoramento Inteligente do Governo de São Paulo, que utiliza dados fornecidos por empresas de telefonia para medir o deslocamento da população e a adesão às medidas estabelecidas pela quarentena no Estado.
AÇÕES E ATITUDES
Municípios do Estado de São Paulo que realizam o isolamento social de forma mais severa não tiveram pior desempenho econômico, aponta um estudo realizado em parceria entre a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e a Universidade do Texas e publicado no dia 17 de fevereiro no periódico Plos One. Os resultados também apontam que a eficácia do isolamento social na contenção da pandemia é maior quando a política é articulada regionalmente, e não apenas em nível municipal.
Foram avaliados na pesquisa os impactos econômicos agregados nos municípios, verificando que alguns setores tendem a ser mais afetados que outros. Os resultados partiram da análise de indicadores econômicos, de isolamento social e de saúde.
Para o levantamento, foram observados dados de 104 municípios de São Paulo, nos quais se concentraram cerca de 91% dos casos da Covid-19 entre março e junho de 2020. Os índices de isolamento social foram obtidos junto à SEADE (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados). Já os indicadores econômicos levados em consideração foram a arrecadação municipal do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e os dados de empregos formais do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).
Os pesquisadores encontraram evidências de que, ao relaxar o isolamento social, há um aumento substancial do número de casos e, do ponto de vista econômico, não há muitas mudanças, porque a dinâmica econômica acaba sendo afetada pela dinâmica regional. Os indicadores também mostram que, quanto maior o isolamento, menor o número de casos e de mortes. Por outro lado, quando é relacionado o que aconteceria com o município em termos econômicos se ele não tivesse intensificado o isolamento, foi observado que não haveria mudanças significativas.
Os autores do estudo frisam que isso não quer dizer que não houve um grande impacto econômico causado pela pandemia, mas que este impacto não está atrelado exclusivamente ao isolamento social. O estudo aponta que houve uma queda geral na arrecadação de impostos, mas não foi o fato de um município ter ficado mais isolado que outro que fez com que tivesse desempenho econômico pior. Não há evidências de que os municípios que adotaram isolamento mais severo tiveram pior dinâmica econômica, mostra a pesquisa. Dessa forma, o isolamento acaba sendo a melhor estratégia enquanto não há uma intervenção farmacológica, como a vacina, para parte significativa da população.
Outro resultado do estudo indica que a eficácia do isolamento no controle da pandemia é melhor quando há ações regionais, e não focadas apenas no município. Assim, medidas de controle da Covid-19 não devem se restringir às fronteiras municipais e precisam ser coordenadas regionalmente já que, ao tomar uma decisão local, no município, o impacto é muito menor. Ações descoordenadas entre nível estadual e federal a respeito do distanciamento social também são evidenciadas como limitadoras no controle da epidemia no país.
Os pesquisadores observaram ainda que o isolamento foi mais eficaz no controle da pandemia nos municípios mais vulneráveis no Estado. Uma hipótese é que é muito mais difícil manter regras de distanciamento em locais mais vulneráveis, então nesse caso a melhor estratégia parece ser o ‘fique em casa’, observa o estudo. Por isso, a pesquisa indica que as políticas de controle da pandemia precisam levar em conta desigualdades socioeconômicas, já que as populações mais pobres em geral têm maior risco de infecção.
O estudo integra um projeto que conta com financiamento do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e do Ministério da Saúde.
*Ouça abaixo a versão podcast do boletim Coronavírus