Estudo pretende avaliar se vacina do Butantan auxilia na redução do contágio pelo novo coronavírus
O Governo de São Paulo vai realizar, a partir de 17 de fevereiro na cidade de Serrana (SP), um amplo estudo da vacina do Instituto Butantan para avaliar se o imunizante também é capaz de reduzir o contágio pelo novo coronavírus na população. O anúncio ocorreu em coletiva realizada nesta segunda-feira (8/2) no Palácio dos Bandeirantes.
Conforme explicou Dimas Covas, diretor-presidente do Instituto Butantan, todos os estudos clínicos de fase três que foram apresentados até o momento, por todas as vacinas, tiveram o objetivo de avaliar a eficácia do imunizante. “Determinar qual é o nível de proteção que a vacina tem em relação à doença, as manifestações clínicas, a gravidade da doença, a internação…”, disse Covas.
Segundo o diretor-presidente do Butantan, nenhum dos estudos foram desenhados para se observar a eficiência da vacinação, ou seja, determinar qual o efeito dessa imunização em massa sobre a evolução da epidemia. “Normalmente, esses dados aparecem após os programas de vacinação. Ou no final do ano, no começo do ano que vem, em meados do próximo ano, nós teremos os dados de eficiência obtidos de forma indireta de várias dessas vacinas”, completou.
Como forma de antecipar a obtenção desses resultados, o Governo do Estado informou que desenhou há 7 meses, além do estudo de eficácia da vacina, um estudo de eficiência da vacinação. “O estudo que foi planejado vai responder isso muito rapidamente, não vamos ter que esperar o ano que vem para ter essa resposta, vamos começar a ter essas respostas em três meses”, destacou Covas.
De acordo com o diretor-presidente do Butantan, a iniciativa em São Paulo é o primeiro estudo dessa natureza que vai ser feito no mundo. “É um estudo inovador, chamado Estudo Escalonado por Conglomerados. Ele pretende avaliar a transmissão da infecção, a redução do uso do sistema de saúde – o que nós chamamos de carga de doença epidemia -, a imunidade de rebanho, se vai ocorrer ou no bairro ocorrer, e outros efeitos indiretos da vacinação”, afirmou.
O estudo também visa determinar o que a vacinação vai impactar em termos de efeitos indiretos na economia, na circulação de pessoas, na aceitação da vacinação, na ocorrência de efeitos que porventura não tenham sido previstos anteriormente. “Vai permitir acompanhar todos esses aspectos, agora em nível populacional”, comentou Covas.
A opção pela realização do estudo na cidade de Serrana, no interior do Estado (próxima a Ribeirão Preto), atende alguns critérios técnicos para viabilização da pesquisa: o município deveria ser um município pequeno, por conta da necessidade de um grande quantitativo de vacinas a serem utilizadas; deveria ter uma taxa de infecção elevado, possibilitando avaliar rapidamente o efeito da vacinação; e deveria estar próximo ou conter um centro de pesquisa, de preferência ligado ao Estado.
“A cidade de Serrana tem 45 mil habitantes, fica a 10 quilômetros de Ribeirão Preto, possui um Hospital Estadual que já faz pesquisa, do ponto de vista acadêmico, e tinha a maior taxa de infecção quando nós iniciamos o estudo. Naquele momento ela era o dobro de todos os municípios do entorno. Uma outra característica é que a maior parte da população trabalha fora do município. Ela não reside, mas trabalha em outros municípios, principalmente em Ribeirão Preto. Então essas características permitiram escolher essa cidade e desenhar o estudo”, justificou o diretor-presidente do Butantan.
O público-alvo do estudo de eficiência será a população adulta de Serrana – em torno de 30 mil pessoas com idade acima de 18 anos. Para a realização da pesquisa, a cidade foi dividida em quatro regiões e essas regiões foram subdivididas. A ideia é começar a vacinação por regiões, em intervalos de sete dias entre cada uma.
Durante todo esse período, a epidemia vai ser acompanhada. Para isso, foi montado um sistema de vigilância ativa onde todos os moradores foram submetidos a um senso e a um processo de georreferenciamento. “Então nós vamos, à medida que prossegue a vacinação, controlando o que vai acontecendo com a epidemia, o número de casos, número de exames positivos, número de internações, número de consultas médicas e assim por diante. E vamos comparando uma região com a outra região, que vai nos permitir dar a resposta que todos queremos nesse momento: o que vai acontecer com epidemia com a vacinação em massa”, ressaltou Covas.
O início do estudo de eficiência será no dia 17 de fevereiro. No último sábado foi feita a apresentação do projeto para a comunidade local e realizado o sorteio das regiões. “Teve que ser um processo aleatório, controlado pela própria comunidade que agora tem que se envolver no programa de vacinação voluntariamente”, finalizou o diretor-presidente do Butantan.
Vacinação e novas doses
O Governo de São Paulo informou que começou, nesta segunda-feira, a vacinação no sistema de drive-thru dos idosos com mais de 90 anos no estádio do Pacaembu, na capital paulista. A iniciativa é realizada em conjunto com a Prefeitura de São Paulo.
Na coletiva, além do início da vacinação drive-thru, o Governo do Estado informou que vai adquirir 20 milhões de doses adicionais da vacina do Butantan, além das doses já contratadas pelo Ministério da Saúde. “São 100 milhões de doses da vacina do Butantan que irão para o Plano Nacional de Imunização. Os 20 milhões adicionais são responsabilidade do Governo do Estado, como medida acautelatória e preventiva. Havendo necessidade, nós utilizaremos as 20 milhões de vacinas para imunizar os brasileiros de São Paulo”, disse o governador João Doria.
Volta às aulas
Com base no calendário escolar já anunciado, o Governo de São Paulo informou que, nesta segunda-feira, retomou a volta gradual às aulas na rede pública estadual de ensino e na rede privada. De acordo com a administração estadual, a retomada das aulas não foi afetada por uma paralisação de professores convocada para hoje.
Assim, um total de 3 milhões de alunos da rede estadual de ensino deverão voltar gradualmente às aulas em 4,5 mil escolas autorizadas em todo o território paulista. Importante destacar que a volta às aulas presenciais está condicionada às autorizações das prefeituras do Estado de São Paulo, que têm autonomia na gestão da pandemia.
Economia
O banco Desenvolve São Paulo, vinculado ao Governo do Estado, começou hoje a concessão do crédito de R$ 100 milhões para micro e pequenas empresas no Estado de São Paulo. Parte de um pacote de resgate econômico aos empreendedores paulistas, o crédito tem o objetivo de reduzir os impactos econômicos causados pela pandemia.
O crédito está disponível para empresas com faturamento de R$ 81 mil até R$ 4,8 milhões. Todas as solicitações podem ser feitas 100% on-line através do site www.desenvolvesp.com.br. O crédito está disponível imediatamente e será concedido através de ordem de chegada dos pedidos.
Também estiveram presentes à coletiva o secretário estadual da Educação, Rossieli Soares; a secretária estadual de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, Patricia Ellen; a coordenadora do Centro de Controle de Doenças do Estado, Regiane de Paula; o secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn; o secretário estadual de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi; Paulo Menezes, coordenador do Centro de Contingência do Covid-19; e João Gabbardo, coordenador executivo do Centro de Contingência do Covid-19.
MAIS SOBRE O CORONAVÍRUS
Até o fechamento desta matéria, o boletim diário mais recente publicado pela Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo sobre a pandemia do novo coronavírus trazia informações do último domingo (7/2). De acordo com o documento, a capital paulista totaliza 17.611 vítimas da Covid-19.
Há, ainda, 585.180 casos confirmados de infecções pelo novo coronavírus e 725.217 casos suspeitos sob monitoramento. Até domingo, 818.216 pessoas haviam recebido alta após passar pelos hospitais de campanha, da rede municipal, contratualizados e pela atenção básica do município.
Abaixo, gráfico detalhado sobre os índices da Covid-19 na cidade de São Paulo.
Em relação ao sistema público de saúde, nesta segunda-feira (8/2) a taxa de ocupação de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) destinados ao atendimento de pacientes com Covid-19 na Grande São Paulo é de 65,6%.
Já no último domingo, o índice de isolamento social na cidade de São Paulo foi de 47%. A medida é considerada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e autoridades sanitárias a principal forma de contenção da pandemia do novo coronavírus.
A aferição do isolamento é feita pelo Sistema de Monitoramento Inteligente do Governo de São Paulo, que utiliza dados fornecidos por empresas de telefonia para medir o deslocamento da população e a adesão às medidas estabelecidas pela quarentena no Estado.
ATUAÇÃO DO MUNICÍPIO
Em ação conjunta da Prefeitura de São Paulo, CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), GCM (Guarda Civil Metropolitana) e do Comando de Policiamento de Trânsito da Polícia Militar, serão realizadas ao longo desta semana, até sexta-feira (12/2), blitz educativas com enfoque na prevenção da Covid-19.
As ações de conscientização ocorrerão das 7h às 9h em vias das zonas Sul, Leste, Oeste, Sudeste e Centro. A medida tem caráter preventivo e também é uma forma de conscientizar a população sobre os riscos da doença.
As intervenções possibilitam a exibição de mensagens por profissionais de saúde aos motoristas, lembrando sobre as medidas essenciais para prevenir a disseminação da doença. A CET também colocará um painel móvel em cada um dos locais com a mensagem “previna-se do coronavírus, use máscara sempre”.
AÇÕES E ATITUDES
Teve início no dia 25 de janeiro o estudo EPICOVID-19 BR 2: Inquérito Nacional de Soroprevalência de Acesso Expandido, que representa a fase final do projeto EPICOVID-19 BR, conduzido em 133 municípios brasileiros ao longo de 2020. Este é o mais abrangente estudo epidemiológico sendo feito no Brasil com relação à epidemia do novo coronavírus no país.
Originalmente projetado em seis etapas, o EPICOVID-19 BR tem como objetivo estimar o percentual de brasileiros infectados pelo novo coronavírus por idade, gênero, condição econômica, município e região geográfica; determinar o percentual de assintomáticos; avaliar sintomas e letalidade, além de oferecer subsídio para políticas públicas e medidas de isolamento social. Nas quatro fases iniciais, foram testadas quase 100.000 pessoas em todo o território nacional.
Coordenada pelo professor Marcelo N. Burattini, da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) – Campus São Paulo, que integra também a equipe de coordenação das etapas iniciais do estudo EPICOVID-19 BR, a última etapa da pesquisa conta com apoio da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e seguirá a mesma metodologia dos inquéritos anteriores, para permitir agregar informações aos dados levantados anteriormente.
Para isso, serão avaliados os níveis de infecção nos mesmos 133 municípios já estudados. Cada município será dividido em 25 setores censitários, nos quais serão selecionados aleatoriamente oito domicílios. Em cada um dos domicílios, os participantes da pesquisa responderão a um questionário com 15 questões sobre escolaridade, cor da pele, atividade econômica e condições de saúde, e todos os moradores serão testados para a identificação de anticorpos contra o novo coronavírus.
O inquérito utilizará testes sorológicos para identificação dos anticorpos do novo coronavírus da classe IgG presente no soro. Esses testes permitirão aos moradores saberem se já tiveram contato com o vírus e se desenvolveram resposta imune ao mesmo, indicando uma proteção eventual.
Os três primeiros inquéritos realizados identificaram uma prevalência média de contágio de 3,8% no conjunto da população da amostra. Na calha do Amazonas, no entanto, a média foi de 20%. Já na cidade de Breves, no Pará, por exemplo, 24,8% das pessoas testadas apresentaram anticorpos contra o novo coronavírus.
Entre o primeiro e o último levantamento, a prevalência da infecção dobrou na população como um todo: os percentuais passaram de 1,9% (1,7- 2,1%, pela margem de erro) na primeira etapa, para 3,1% (2,8 – 4,4%) na segunda e alcançaram 3,8% (3,5 – 4,2%) na última etapa. Nesse mesmo intervalo, o distanciamento social caiu de 23,1% para 18,9%.
Os resultados também demonstraram que, no período coberto pelo inquérito, várias epidemias estavam em curso no país. Enquanto no Norte 10% da população, em média, tinha ou já havia contraído o novo coronavírus, no Sul esse percentual ficava em torno de 1%. Em todas as fases da pesquisa, os 20% mais pobres apresentaram o dobro do risco de infecção em comparação aos 20% mais ricos. No caso dos indígenas, o risco de contrair a doença mostrou-se cinco vezes maior do que os brancos.
A pesquisa também estimou que aproximadamente 60% dos casos apresentaram sintomas. Metade dos entrevistados com anticorpos para a Covid-19 declarou ter dor de cabeça (58%), alteração de olfato ou paladar (57%), febre (52,1%), tosse (47,7%) e dor no corpo (44,1%).
O estudo EPICOVID-19 BR 2: Inquérito Nacional de Soroprevalência de Acesso Expandido representa o final do projeto EPICOVID-19 BR e é o mais importante da série de quatro fases realizada até agora.
Segundo os coordenadores do estudo, o levantamento acontece em um momento estratégico ao final do primeiro ano da epidemia e antes do início da vacinação de massa. A análise também representará a avaliação de aproximadamente 149.280 indivíduos nos 133 municípios pré-selecionados, equivalente a acréscimo de 50% nos indivíduos testados em relação às quatro fases anteriores conjuntas.
*Ouça a versão podcast do boletim Coronavírus neste link