Estudo sugere que eficácia da Coronavac pode chegar a 62,3% com intervalo maior entre as doses
Divulgado no último domingo (11/4), um estudo realizado por cientistas do Instituto Butantan e colaboradores indica que a eficácia global da Coronavac pode chegar a 62,3% caso o intervalo entre as duas doses seja igual ou superior a 21 dias.
Segundo o estudo, nos casos em que o intervalo foi de 14 dias, a vacina se mostrou capaz de prevenir o aparecimento de sintomas da Covid-19 em 50,7% dos voluntários. O percentual é levemente superior aos 50,38% informados na análise preliminar que subsidiou o uso emergencial do imunizante no país. Para os casos que requerem assistência médica, a eficácia variou entre 83,7% e 100%.
Os dados foram divulgados na plataforma de preprints da revista The Lancet e ainda estão em processo de revisão por pares. A terceira fase do estudo clínico envolveu mais de 12 mil funcionários de 16 centros de saúde no Brasil e contou com apoio da FAPESP.
A pesquisa foi realizada entre 21 de julho e 16 de dezembro de 2020. Todos os participantes receberam ao menos uma dose da vacina ou placebo. Desse total, 9.823 voluntários receberam as duas doses. Os resultados descritos no artigo também sugerem que a Coronavac é capaz de proteger também contra as variantes P.1. e P.2. do novo coronavírus.
Outro estudo realizado no Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo) mostrou que, entre o grupo dos profissionais de saúde, a Coronavac demonstrou efetividade de 73,8%. O número e o método para se chegar a ele é diferente da eficácia de 50,38% apresentada em janeiro pelo Instituto Butantan, mas especialistas enxergam como positivo um indicativo de que a eficácia pode ser maior. Hoje, é a vacina mais usada no Brasil para a Covid-19.
Também é importante destacar que os estudos ainda estão em andamento, portanto, a redução de casos maior do que a esperada após a vacinação representa uma estimativa dos especialistas.
Por fim, um terceiro estudo concluiu que a Coronavac continua a ser efetiva na prevenção da Covid-19 na cidade de Manaus, no Amazonas, onde há o predomínio da variante P.1 do novo coronavírus. A pesquisa foi coordenada pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) com participação da USP e outras universidades brasileiras, além de órgãos públicos do Amazonas e instituições de pesquisa do Brasil e da Espanha.
Os resultados preliminares foram obtidos com 67 mil profissionais de saúde que receberam a primeira dose da vacina em Manaus. O estudo calculou uma redução de 50% do risco de contágio, só com a primeira dose da vacina, o que os pesquisadores apontam como sinal de que a vacinação precisa continuar, mesmo com o aumento da transmissão da variante P.1. Os resultados da pesquisa estão descritos em um artigo publicado como preprint (versão prévia de artigo científico) no site medRxiv em 7 de abril.
MAIS SOBRE O NOVO CORONAVÍRUS
De acordo com o boletim diário mais recente publicado pela Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo sobre a pandemia do novo coronavírus, na última segunda-feira (12/4) a capital paulista totalizava 24.216 vítimas da Covid-19.
Havia, ainda, 767.782 casos confirmados de infecções pelo novo coronavírus. Desde o início da pandemia, 1.153.793 pessoas haviam recebido alta após passar pelos hospitais de campanha, da rede municipal, contratualizados e pela atenção básica do município.
Abaixo, gráfico detalhado sobre os índices da Covid-19 na cidade de São Paulo.
Em relação ao sistema público de saúde, nesta terça-feira (13/4) a taxa de ocupação de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) destinados ao atendimento de pacientes com Covid-19 na região metropolitana de São Paulo é de 84,3%.
Já na última segunda (12/4), o índice de isolamento social na cidade de São Paulo foi de 40%. A medida é considerada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e autoridades sanitárias a principal forma de contenção da pandemia do novo coronavírus.
A aferição do isolamento é feita pelo Sistema de Monitoramento Inteligente do Governo de São Paulo, que utiliza dados fornecidos por empresas de telefonia para medir o deslocamento da população e a adesão às medidas estabelecidas pela quarentena no Estado.
AÇÕES E ATITUDES
Pesquisadores do Instituto de Medicina Tropical da USP (Universidade de São Paulo), em colaboração com o Serviço Especial de Saúde de Araraquara (SP), validaram a testagem molecular da saliva como método eficiente para diagnóstico da Covid-19 em crianças sintomáticas.
No artigo a respeito do tema, que encontra-se disponível na plataforma medRxiv e ainda sem revisão por pares, os pesquisadores destacam que foi obtida a mesma performance diagnóstica, com sensibilidade de aproximadamente 90%, para amostras de saliva e esfregaço [swab] de nasofaringe.
Para o estudo, foram investigadas 50 crianças que procuraram atendimento em Unidade Básica de Saúde com sintomas leves relacionados à Covid-19. Os pesquisadores coletaram amostras e secreção nasofaríngea e de saliva e submeteram ambas ao teste de RT-PCR, considerado padrão-ouro para o diagnóstico da doença. Do total, dez crianças apresentaram resultados positivos para o novo coronavírus. A análise também mostrou que o diagnóstico por amostras de saliva mostrou-se tão eficaz quanto o diagnóstico por esfregaço de nasofaringe.
O resultado valida uma forma de testagem em larga escala muito mais simples e menos invasiva – especialmente desejável no contexto pediátrico. Segundo os autores da pesquisa, o uso da saliva para diagnóstico da Covid-19 em crianças abre uma perspectiva de entendimento de como a circulação do SARS-CoV-2 se dá nessa faixa da população, ainda mais com a reabertura de escolas. Eles apontam que a obtenção da amostra é tão simples que, dependendo da idade, pode inclusive ser adotada a autocoleta.
O estudo foi coordenado por Paulo Henrique Braz-Silva, professor da Faculdade de Odontologia, e Camila Malta Romano, pesquisadora do Laboratório de Investigação Médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina – ambos também vinculados ao IMT-USP –, e contou com apoio da FAPESP (Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo).
*Ouça aqui a versão podcast do boletim Coronavírus