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Pesquisadores da USP descrevem possível mecanismo de escape imunológico da variante sul-africana do novo coronavírus

Por Daniel Monteiro | 03/05/2021

Liderado por pesquisadores da FM-USP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), um grupo de cientistas acredita ter encontrado o mecanismo que possibilita à variante sul-africana do novo coronavírus – também conhecida como B.1.351 – escapar dos anticorpos gerados em infecções anteriores pela cepa ancestral do vírus.

O estudo, que ainda precisa ser confirmada por novos experimentos, foi publicado na plataforma medRxiv, e está em processo de revisão por pares, mas pode abrir caminho para o desenvolvimento de vacinas eficazes tanto contra a variante que emergiu na África do Sul, já presente no Brasil, quanto a originária de Manaus (P.1.), bem como as suas predecessoras.

Por meio de simulações computacionais, o grupo estudou a proteína-chave do novo coronavírus, conhecida como spike. Ela é a responsável por se ligar ao receptor existente nas células humanas (a proteína ACE-2) e viabilizar a infecção.

Os resultados sugerem que uma das mutações existentes na ponta da spike da variante sul-africana – caracterizada pela troca do aminoácido lisina por asparagina – pode resultar na ocorrência de um fenômeno bioquímico conhecido como glicosilação, que muda a feição da proteína viral e impede a ligação dos anticorpos. Já na variante P.1., a lisina é substituída por uma treonina, que não sofre glicosilação.

Segundo os autores do estudo, no desenvolvimento de uma vacina, hoje, é preciso escolher o que será mais eficaz contra o vírus, incluindo as variantes. No caso do novo coronavírus, das três mutações que ocorrem na P.1. e na B.1.351, duas são exatamente iguais. Portanto, é possível que uma vacina que tenha como foco a variante sul-africana seja eficaz também contra a P.1. e contra o vírus ancestral. Mas vacinas contra essas duas últimas provavelmente serão menos eficazes contra a variante sul-africana.

O trabalho é resultado de um projeto apoiado pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e coordenado por Jorge Elias Kalil Filho, professor da FM-USP e coordenador do Laboratório de Imunologia do InCor (Instituto do Coração), que também assina o artigo. O grupo liderado por Kalil trabalha no desenvolvimento de uma vacina contra a Covid-19. O projeto é apoiado pela FAPESP e pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos).

MAIS SOBRE O NOVO CORONAVÍRUS

De acordo com o boletim diário mais recente publicado pela Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo sobre a pandemia do novo coronavírus, nesta segunda-feira (3/5) a capital paulista totalizava 27.515 vítimas da Covid-19.

Havia, ainda, 1.054.654 casos confirmados de infecções pelo novo coronavírus. Desde o início da pandemia, 1.234.238 pessoas haviam recebido alta após passar pelos hospitais de campanha, da rede municipal, contratualizados e pela atenção básica do município.

Abaixo, gráfico detalhado sobre os índices da Covid-19 na cidade de São Paulo.

Crédito: Prefeitura de SP

Em relação ao sistema público de saúde, até o fechamento deste boletim, os dados oficiais disponíveis apontavam que no último domingo (2/5) a taxa de ocupação de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) destinados ao atendimento de pacientes com Covid-19 na região metropolitana de São Paulo era de 76,3%.

Já no último domingo (2/5), o índice de isolamento social na cidade de São Paulo foi de 47%. A medida é considerada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e autoridades sanitárias a principal forma de contenção da pandemia do novo coronavírus.

A aferição do isolamento é feita pelo Sistema de Monitoramento Inteligente do Governo de São Paulo, que utiliza dados fornecidos por empresas de telefonia para medir o deslocamento da população e a adesão às medidas estabelecidas pela quarentena no Estado.

ATUAÇÃO DO MUNICÍPIO

Na última sexta-feira (30/4), o Hospital Dia Campo Limpo recebeu uma miniusina de oxigênio para aumentar a produção do insumo e abastecer os leitos da unidade, localizada na Zona Sul da capital.

Esta é a sétima usina entregue pela administração municipal em menos de 30 dias e a terceira só na última semana. Ao todo, a cidade de São Paulo contará com 19 miniusinas produtoras de oxigênio.

Outras duas geradoras deverão ser instaladas na região nos próximos dias, nos Hospitais Dia Cidade Ademar e M’Boi Mirim I, que receberá sua segunda unidade. Além disso, outras duas usinas em funcionamento na capital estão no Hospital Municipal Capela do Socorro e na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Jabaquara, inaugurada no dia 20 de abril já com o equipamento gerador de oxigênio.

As usinas entregues no Hospital Municipal Central Sorocabana, no dia 24 de abril, e esta semana no Hospital Dia Flávio Gianotti, no dia 27 de abril, e no Hospital Dia Tito Lopes, no dia 29 de abril, estão em fase de implantação. Quando uma miniusina é entregue, ela passa por um processo de instalação e início de produção que dura, em média, três dias.

AÇÕES E ATITUDES

Pesquisadores brasileiros deram os primeiros passos no sentido de entender por que algumas pessoas são naturalmente resistentes à infecção pelo novo coronavírus. O trabalho se baseou na análise do material genético de 86 casais em que apenas um dos cônjuges foi infectado pelo novo coronavírus, embora ambos tenham sido expostos.

O estudo foi divulgado na plataforma medRxiv e seus resultados – que ainda estão em processo de revisão por pares – sugerem que determinadas variantes genéticas encontradas com maior frequência nos parceiros resistentes estariam associadas à ativação mais eficiente de células de defesa conhecidas como exterminadoras naturais ou NK (do inglês natural killers).

Esse tipo de leucócito faz parte da resposta imune inata, a primeira barreira imunológica contra vírus e outros patógenos. Quando as NKs são acionadas corretamente, conseguem reconhecer e destruir células infectadas, impedindo que a doença se instale no organismo.

A hipótese dos autores do estudo é de que as variantes genômicas mais frequentes nos parceiros suscetíveis levariam à produção de moléculas que inibem a ativação das células NK. Contudo, isso é algo que ainda precisa ser validado por meio de estudos funcionais.

*Ouça aqui a versão podcast do boletim Coronavírus

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