Vacinação em São Paulo deve priorizar periferia, aponta pesquisa
A vacinação contra a Covid-19 na cidade de São Paulo deve priorizar bairros periféricos para otimizar a imunização coletiva, já que nessas regiões estão as populações mais afetadas pela doença. É o que aponta uma pesquisa do Instituto Pólis realizada a partir do mapeamento de hospitalizações e óbitos pela doença na capital paulista ao longo de todo o ano passado.
Dessa forma, o estudo indica que vacinar grupos etários prioritários – como os idosos – em regiões específicas das cidades seria uma estratégia mais eficiente do que uma distribuição que desconsidera a geografia da pandemia. Atualmente, a estratégia da Prefeitura leva em conta idade e profissão, e também vacina grupos indígenas e quilombolas, mas não considera critérios de risco de morte por região.
O levantamento identificou quais áreas da cidade registraram sobremortalidade, ou seja, regiões em que o número de mortes observadas é maior que o de mortes esperadas, considerando a distribuição etária local em relação ao perfil demográfico geral do município.
Com base nessa informação, os pesquisadores destacaram que o planejamento da imunização e as ações de vigilância e controle epidemiológico não podem ignorar os efeitos desiguais da pandemia sobre a população e é fundamental que fatores como raça e a localização da mortalidade sejam entendidos como elementos-chave nas ações de combate ao novo coronavírus.
Os dados também mostraram que a população negra, que mora principalmente em áreas de vulnerabilidade social, são os que mais morrem de Covid-19. Em 2020, morreram 52% mais homens negros do que brancos e 60% mais mulheres negras do que brancas em decorrência da Covid-19. O levantamento utilizou o método de padronização, que possibilita que duas populações de diferentes composições etárias sejam comparadas.
A principal diferença foi observada entre os idosos negros, que morrem quase duas vezes mais em relação à população total nessa faixa etária. Além disso, a sobremortalidade é maior entre negros do que entre brancos em 74 dos 96 distritos administrativos da capital paulista.
Um estudo anterior do Pólis, com base nos dados do primeiro semestre, já havia identificado essa maior vulnerabilidade de pessoas negras à morte por Covid-19. Na ocasião, os pesquisadores haviam afirmado que as condições de vida gerais da população negra são, em média, piores do que as da população branca – como renda, grau de instrução, tipo de trabalho e vínculo empregatício – o que contribui para que ela seja mais vulnerável.
De acordo com a pesquisa, a população idosa de distritos como Sapopemba, Brasilândia, Freguesia do Ó, Iguatemi e Jardim Helena deve ser priorizada na aplicação das vacinas, já que, além do maior número de mortes de idosos, essas áreas apresentam sobremortalidade de pessoas negras e têm alta concentração espacial de óbitos gerais.
Os autores do estudo ressaltam que a utilização de critérios territoriais para a imunização, concentrando as vacinas disponíveis em determinadas zonas, deve criar as chamadas bolhas de imunidade de forma mais rápida. Essas bolhas se comportariam como barreiras físicas à circulação do vírus, com potencial de reduzir a taxa de contágio nas cidades como um todo, além de imunizar alguns segmentos populacionais por inteiro, ainda que localmente.
Nesse sentido, a pesquisa do Pólis destaca que regiões mais centrais, que somam 4,33% de habitantes com 75 anos ou mais em relação ao total do município, registraram 2,81% dos óbitos entre idosos com essa mesma idade em São Paulo. Por outro lado, a porção norte do distrito de Sapopemba, por exemplo, na zona leste, onde residem apenas 0,97% da população mais idosa da capital paulista, é onde estão 1,46% das mortes totais de pessoas com 75 anos ou mais.
A avaliação dos autores do estudo é de que vacinar somente por critério de faixa etária não garante a imunização da população mais atingida pela pandemia e atrasaria a proteção de toda a sociedade. Ainda segundo a análise, a territorialização da estratégia de vacinação não deve substituir o plano de imunização vigente, mas complementar os critérios por idade.
MAIS SOBRE O NOVO CORONAVÍRUS
Segundo dados mais recentes sobre a pandemia do novo coronavírus publicados pela Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, nesta terça-feira (23/2) a capital paulista contabilizava 18.352 vítimas da Covid-19.
Há, ainda, 620.993 casos confirmados de infecções pelo novo coronavírus e 780.184 casos suspeitos sob monitoramento. Até esta terça, 891.660 pessoas haviam recebido alta após passar pelos hospitais de campanha, da rede municipal, contratualizados e pela atenção básica do município.
Abaixo, gráfico detalhado sobre os índices da Covid-19 na cidade de São Paulo.
Em relação ao sistema público de saúde na Grande São Paulo, a atualização mais recente destaca que, nesta terça (23/2), a taxa de ocupação de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) destinados ao atendimento de pacientes com Covid-19 é de 69,3%.
Considerado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e autoridades sanitárias a principal forma de contenção da pandemia do novo coronavírus, o isolamento social na cidade de São Paulo, na última segunda (22/2), foi de 38%.
Os dados são do Sistema de Monitoramento Inteligente do Governo de São Paulo, que utiliza dados fornecidos por empresas de telefonia para medir o deslocamento da população e a adesão às medidas estabelecidas pela quarentena no Estado.
ATUAÇÃO DO MUNICÍPIO
Somando quem já recebeu a primeira e a segunda aplicação, a campanha de vacinação contra a Covid-19 na cidade de São Paulo já passou de 592 mil doses aplicadas. Segundo dados oficiais do município, até a última segunda-feira (22/2) 68.897 pessoas haviam tomado a primeira dose da vacina e 123.592 já haviam recebido a segunda aplicação, totalizando 592.489 doses aplicadas.
A parcial ainda indica que já são 68.402 idosos entre 85 e 89 anos vacinados com a primeira dose e 3.073 com a segunda. Entre os idosos com mais de 90 anos, 44.532 já tomaram a primeira dose e 3.787 a segunda. A imunização na capital começou no dia 19 de janeiro.
Seguindo os critérios dos programas Estadual e Nacional de Imunização, nesta fase da campanha o Programa Municipal de Imunização realiza a segunda aplicação nos profissionais de saúde da linha de frente, idosos que vivem nas Instituições de Longa Permanência, pessoas com deficiências abrigadas em instituições sociais e indígenas aldeados da capital.
AÇÕES E ATITUDES
Nesta terça-feira (23/2), o Instituto Butantan iniciou o envio das novas remessas de doses da vacina contra o novo coronavírus ao Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde. No total, serão 5,6 milhões de doses no período de 5 de fevereiro a 5 de março, 65% a mais do volume previsto inicialmente.
O Butantan distribuiu, nesta terça-feira, 1,2 milhão de doses. A remessa do imunizante enviado nesta terça faz parte do lote de vacinas envasadas no Butantan com matéria-prima enviada pela Sinovac Life Science, da China.
Na próxima quarta-feira (24/2), serão entregues mais 900 mil frascos da vacina. Para 25, 26 e 28 de fevereiro ainda está prevista a liberação de 600 mil doses diárias. Desta forma, até o próximo domingo (28/2), será fornecido um total de 3,9 milhões de doses ao Programa Nacional de Imunizações.
Já no início de março o Instituto Butantan vai disponibilizar mais 1,7 milhão de vacinas para a imunização do país, com a previsão de remessas de 600 mil doses no dia 02/03, de 500 mil em 04/03 e de mais 600 mil para 05/03. Na soma total, serão 5,6 milhões de frascos a partir desta terça até 5 de março.
O Butantan já havia distribuído, no dia 5 de fevereiro, 1,1 milhão de doses. Assim, no período de um mês (entre 05/02 e 05/03), o instituto fornecerá o total de 6,7 milhões de vacinas. Somadas ao lote de 8,7 milhões entregues em janeiro, já são 15,4 milhões de doses.
Segundo acordo firmado entre o Butantan e o Ministério da Saúde, até 30 de abril serão disponibilizadas 46 milhões de doses da vacina para vacinação em todo o país e, até 30 de agosto, mais 54 milhões de doses do imunizante, totalizando 100 milhões de doses da vacina.
*Ouça aqui a versão podcast do boletim Coronavírus