25 de Março: memória da rua dos árabes
KORAICHO, Rose. 25 de MARÇO: memória da rua dos árabes: história da rua 25 de Março, São Paulo do fim do século XIX ao início do século XXI. S.l: o autor, 2004.
A DENOMINAÇÃO
A Rua 25 de Março é um marco na história do Brasil e teve nomes diversos, sucessivamente: rua Várzea do Glicério, rua das Sete Voltas, rua de Baixo, rua Baixa de São Bento e, no final do século XIX, rua 25 de Março.
Nasceu na beira no rio Tamanduateí, no Beco das Sete Voltas. Em meados do século XIX, quando o rio foi retificado, abriu-se, ao seu lado, o traçado da futura Rua de Baixo que, ligaria a Ponte do Carmo ao Porto de São Bento (depois chamado de Geral); passou então a se chamar Baixa de São Bento, pois se localizava abaixo do Mosteiro de São Bento. Era o primeiro local urbanizado da cidade baixa. Oficializou-se em 1865 o nome de 25 de Março.
OS ÁRABES E O COMÉRCIO
Sírios e libaneses, em sua maioria, que desembarcaram no Brasil no final do século XIX, fixaram-se na região da 25 de Março. Sua sobrevivência dependia do comércio mascate. Recebiam mercadorias a crédito e iam para o interior ou subúrbios da cidade para mascatear.
A Várzea do Carmo dominava a paisagem da região: era alagadiça e, com o seu loteamento, vários compradores da colônia árabe aproveitaram os preços baixos e construíram suas residências e lojas na 25 de Março. As mercadorias ali comercializadas — tecidos, vestuários, armarinhos — vinham de carroça até o Ipiranga e por meio fluvial até a rua 25 de março. Havia ali um porto para barcos, o Porto Geral, que hoje dá nome à Ladeira Porto Geral. Posteriormente, as mercadorias subiram a serra pela estrada de ferro Santos-Jundiaí e os clientes vinham diretamente de trem para comprar suas mercadorias. Saíam dali também mercadorias vendidas por atacadistas para o interior do Estado. Com o tempo, a rua tornou-se o maior shopping a céu aberto da América Latina.
O MASCATE
“Eles apareciam uma vez por mês. Carregando malas e caixas que chegavam a pesar de 40 a 60 quilos presas aos ombros com tiras de couro, anunciavam suas mercadorias por meio da matraca, um instrumento de percussão. Das caixas saíam (…) um bem arrumado sortimento de alfinetes, dentaduras, cosméticos, óculos, novelos de lã, tesourinhas, pentes, colarinhos e punhos duros, botões de madrepérola, agulhas, gravatas, meias, fitas rendas e tantos outros produtos, que suas demonstrações poderiam ser comparadas ao espetáculo de um mágico tirando maravilhas da cartola. Sobre o armário iam dispostas algumas peças inteiras de fazenda, (…), lençóis, poucos vestidos já prontos ou apenas alinhavados, pijamas. E na curva do braço livre um ou dois guarda-chuvas, de acordo com o tempo.” (p.62)