O mês de outubro é mundialmente conhecido pela campanha de conscientização para o controle de câncer de mama, e não é à toa. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), são dois milhões de novos casos todos os anos, com uma taxa anual de 600 mil óbitos. Além de ser um dos mais comuns, é o tipo de câncer que mais mata mulheres.
Desde a criação do movimento, no início da década de 1990, o Outubro Rosa, talvez, não tenha enfrentado um desafio como o deste ano em particular: alcançar uma população que está tentando sobreviver a uma pandemia, e que foi duramente impactada pelas medidas de isolamento social por conta do novo coronavírus.
Diagnóstico e tratamento na pandemia
Os primeiros meses da quarentena foram críticos para a identificação e tratamento de pacientes com algum tipo de câncer no Brasil. De acordo com um levantamento da SBCO (Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica) e da SBP (Sociedade Brasileira de Patologia), pelo menos 50 mil pessoas deixaram de ter um diagnóstico da doença entre os meses de março a abril, período que também registrou uma redução de 70% das cirurgias de câncer.
Ainda segundo o levantamento, a rede pública de saúde de São Paulo registrou uma queda no número de biópsias, que não passou de seis mil nos meses de março a abril, enquanto o mesmo período de 2019 chegou a registrar mais de 22 mil exames.
Fatores como o cancelamento de cirurgias não urgentes, e o próprio receio das pessoas de se contaminar ao procurar um hospital, ajudam a justificar esses números. De acordo com a médica oncologista do IUCR (Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica) e do Hospital A.C. Camargo, Andréa Gadêlha Guimarães, a baixa procura por exames considerados de prevenção — como mamografia e papanicolau — foi expressiva no começo da pandemia.
“A queda inicial preocupa porque isso retarda o diagnóstico, e é uma doença que não espera, tem sua característica de agressividade e diagnósticos mais tardios têm resultados, infelizmente, piores”, explicou Guimarães.
Boa parte das pacientes, que já tinha o diagnóstico de câncer de mama e estava em tratamento, como quimioterapia, não abandonou os procedimentos clínicos durante a pandemia, explicou a oncologista Andréa Gadêlha Guimarães. Mas optar pela continuidade não foi uma tarefa fácil para muitas dessas mulheres.
“Houve um acréscimo de estresse com todo o receio relacionado à fragilidade do momento, do ponto de vista físico e psíquico, e isso se somou à ansiedade e ao medo de contrair mais um vírus que pudesse comprometer a saúde em si e o tratamento”, esclareceu.
Desigualdade de gênero
As mulheres, o público-alvo da campanha Outubro Rosa, enfrentam inúmeros problemas sociais, que foram ampliados durante a pandemia: sobrecarga de afazeres domésticos, vulnerabilidade social e econômica e maior exposição à violência doméstica, fatores que escancaram a desigualdade de gênero no país e que interferem em qualquer rotina de cuidado com a saúde.
Uma pesquisa realizada pelo Datafolha, no mês de junho, mostrou que a percepção sobre o trabalho doméstico na pandemia aumentou para 63% das mulheres entrevistadas. No âmbito da segurança pública, elas ficaram ainda mais expostas aos seus agressores, e esse novo contexto reflete nos números: foram cerca de 29.117 boletins de ocorrência de violência doméstica registrados entre os meses de abril a junho deste ano, de acordo com dados da Polícia Civil do Estado de São Paulo.
Para a médica oncologista Andréa Gadêlha Guimarães, a pandemia potencializou situações que já sobrecarregavam as mulheres de alguma forma e, com as consequências das medidas impostas, elas absorveram também outras responsabilidades. “Muitas mulheres tinham a ajuda de alguém, só que inúmeras pessoas foram dispensadas do serviço, então essa mulher assumiu a parte do trabalho também”, argumentou Guimarães. “Consequentemente, a parte de cuidados para si ficou em um segundo plano”, avaliou.
Cuidados e prevenção
O Brasil deve ter mais de 66 mil novos casos de câncer de mama este ano, de acordo com estimativas do INCA (Instituto Nacional de Câncer). Com o diagnóstico precoce, as chances de uma mulher se curar da doença são de pelo menos 90%. Mas como encarar um ambiente hospitalar em plena pandemia?
Segundo a oncologista Andréa Gadêlha Guimarães, a procura por exames de rotina nos últimos meses têm aumentado, o que significa que é seguro retomar os cuidados com a saúde, tanto para prevenção como para tratamento. “Os hospitais têm se cercado de todos os cuidados, minimizando qualquer tipo de contaminação dentro do ambiente hospitalar, desde o uso de máscara, álcool, e o distanciamento”, relatou.
Consultas periódicas com o ginecologista e a realização da mamografia, a partir dos 40 anos, são essenciais para evitar surpresas indesejáveis no futuro, aponta a médica. A mulher, independente da fase, também deve estar sempre atenta aos sinais do seu corpo. “Inchaço na mama, mudança de coloração, retração do mamilo, saída de secreção pelo mamilo; ao toque, a percepção de um nódulo. Isso são sinais e sintomas de que ela deve procurar um médico”, reforçou a oncologista.
Manter hábitos saudáveis, como o controle de peso, alimentação equilibrada e atividades físicas também são fundamentais, tanto para prevenir, como também para quem já foi diagnosticada com câncer de mama.