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Câmara Remoto: Como os pais jornalistas têm trabalhado durante a quarentena

Por: DANIEL MONTEIRO
HOME OFFICE

26 de março de 2020 - 13:12

Uma das atividades primordiais do jornalista é investigar fatos de utilidade pública, apurar dados relevantes e divulgá-las à sociedade. É buscar avaliar as informações colhidas, ouvir fontes e, através do rigor profissional na análise do que foi coletado, chegar mais próximo do que poderia ser considerada a verdade.

Ou, como sintetizou Jonathan Foster, professor de jornalismo da Universidade de Sheffield, no Reino Unido: “Se alguém diz que está chovendo e outra pessoa diz que está seco, seu trabalho [do jornalista] não é citar os dois. Seu trabalho é olhar pela janela e descobrir o que está acontecendo”.

Mas, em tempos de isolamento social e trabalho remoto, medidas adotadas pela Câmara Municipal de São Paulo para a contenção do novo coronavírus (Covid-19), como os jornalistas conseguem seguir tais preceitos sem estar em campo? Como é possível olhar pela janela e descobrir qual é a verdade?

Para mostrar como tem sido realizado o trabalho da Rede Câmara durante a quarentena, eu conversei – à distância – com alguns colegas jornalistas da redação para saber como tem sido suas rotinas de trabalho em home office, dificuldades, descobertas e outras curiosidades. Hoje, eu vou contar um pouco sobre como é a rotina daqueles que têm filhos.

COM A PALAVRA, AS MÃES

CAROL

A minha primeira entrevistada foi Carol Câmara. Carol é âncora e uma das editoras do Jornal da Câmara, além de apresentadora de outros programas veiculados na TV Câmara São Paulo. Ela também é mãe de um bebê que acabou de fazer um ano e, desde o início da quarentena, tem trabalhado da própria casa.

Ela, que começou a carreira no jornalismo esportivo e está há quase 15 anos atuando na comunicação do legislativo paulistano, afirma que não viveu situação semelhante à atual. “Nunca me imaginei isolada dentro da minha casa, sem ter contato com a minha mãe ou com minhas irmãs. Eu tenho um bebê de 1 ano e a avó, as tias morrem de saudades. Para amenizar, eu tenho feito muitas videoconferências com amigos, com a família e também para reuniões de trabalho”, destaca.

ROTINA ALTERADA

Sobre a rotina, Carol explica que a dinâmica na produção do Jornal da Câmara foi bastante alterada. “Estamos produzindo basicamente um jornal digital, com os repórteres produzindo conteúdo das suas casas e a veiculação de vídeos que a audiência e outros colaboradores estão enviando. Também temos sempre uma equipe de plantão presencial, com repórter, câmera e editor, para atender as demandas que aparecem na Câmara, como a realização do plenário virtual após a quarentena”, diz.

Nesse período, grande parte das informações veiculadas no Jornal da Câmara têm sido de prestação de serviços, com notas cobertas de informações relativas à limpeza das ruas, coleta de lixo e, principalmente, com atualizações sobre o coronavírus: número de casos no Estado, no município, total de mortes e as medidas tomadas pela prefeitura e pela Câmara. “Está ficando um trabalho bem legal e estamos conseguindo levar muita informação para a população, com tudo o que a Prefeitura e os vereadores têm feito. O esforço é para não deixar a sociedade desinformada”, elogia a jornalista.

Um dos principais desafios para Carol é conciliar o cotidiano de mãe e o trabalho remoto. “Eu nunca tinha feito home office antes. A rotina ainda está um pouco conturbada, meu filho tinha a rotina dele, na escolinha, e meu marido e eu tínhamos a nossa. Agora com ele em casa, temos que respeitar os horários dele. Ainda estamos nos adaptando”, aponta.

Essa adaptação, inclusive, já rendeu umas situações inusitadas. “Por exemplo, já tentei ficar com meu filho durante o trabalho. Enquanto escrevia meus textos e as cabeças das matérias para o jornal, ele mexeu no computador e apagou metade das coisas”, comenta Carol.

Apesar disso, ela avalia como positiva a chance de passar mais tempo com o filho. “De certa forma eu ficava pouco tempo com ele, porque eu saio cedo para trabalhar e o via no final da tarde. Mas, pela manhã, tinha que arrumar as coisas dele para a escolinha e me arrumar, então ele ficava mais tempo com o pai. E depois de buscá-lo na escola, também ficava pouco, pois já era tarde, tinha que dar banho e colocá-lo para dormir. Agora estou podendo curtir mais o meu bebezinho”.

FERNANDA

Minha segunda entrevistada foi a redatora Fernanda Lucena, mãe de um menino de 6 anos. Formada desde 2003, Fernanda também é locutora e, antes de chegar na Câmara de São Paulo, passou por redações de diferentes empresas e órgãos de jornalismo, inclusive outra emissora legislativa, a TV Câmara de Osasco (SP).

Apesar de alguns desafios enfrentados ao longo da carreira, ela destaca que o isolamento social imposto pelo coronavírus é algo inédito em sua vida. “Acho que não é possível criar um paralelo entre o que está acontecendo agora e nenhuma situação que eu, assim como muitas pessoas, possa ter vivido. Ninguém viveu o que estamos vivendo. Acho que a palavra para descrever o que está acontecendo agora é surreal”, ressalta.

“ESTOU TRABALHANDO AGORA, NÃO POSSO”

Com experiência em home office, onde já trabalhou com clipping e fazendo plantões aos finais de semana, Fernanda diz que a principal dificuldade é, justamente, fazer com que as pessoas entendam que essa é uma modalidade de trabalho. “As pessoas têm dificuldade de entender que você está trabalhando. A resposta que mais dou atualmente, tanto para o meu filho, quanto para meus pais que estão em isolamento, é: eu estou trabalhando, não posso agora”, afirma a redatora.

Para lidar com a demanda do trabalho e as atividades pessoais e domésticas, Fernanda conta que teve que reajustar a rotina. “Além de jornalista eu sou mãe, pratico atividades físicas e ajudo nas tarefas domésticas. Então tive que reorganizar literalmente tudo: pensar horários, manter a disciplina, estabelecer rotinas para mim, meu filho, que está em idade escolar e têm lições de casa durante a quarentena, e para as tarefas que preciso executar. Tem gente, por exemplo, que acha legal ficar com a ‘roupa de casa’ trabalhando em home office. Eu acho que não é isso que vai mudar seu foco. É preciso criar consciência, para você e para as pessoas que convivem com você, de que naquele horário você está trabalhando”, salienta.

Apesar de não gostar muito de home office e preferir o contato pessoal com os colegas no ambiente de trabalho, Fernanda aponta alguns benefícios de trabalhar em casa. “Em relação à demanda, está sendo tranquilo, pois temos uma equipe coesa e competente na Câmara. Também há a tranquilidade de saber que não estou me expondo, nem expondo minha família ao Covid-19. E, claro, estar trabalhando, sendo produtiva num momento como esse traz segurança”, comenta.

CUIDADOS E OPORTUNIDADES NO ISOLAMENTO SOCIAL

Fernanda avalia que o isolamento social, nesse momento de preocupação com o coronavírus, é uma oportunidade de reflexão interna. “Isso pode ser um convite para repensarmos sobre o que é importante para a gente, repensar nossa rotina e nossa relação com o mundo, pois ninguém vive sozinho numa redoma. Essa situação pode fazer as pessoas despertarem para a necessidade da solidariedade, de ajudar o próximo, de respeito”, destaca.

Por fim, ela faz um alerta. “A população precisa entender agora é que a melhor forma de combater a tensão e ansiedade é com informação de qualidade. Tomem cuidado com o que se recebe via WhatsApp, por exemplo. É preciso criar a cultura de checar o que é dito, antes de compartilhar qualquer informação, para que a situação não fique pior”, pontua a redatora.

Sobre pais

JOTA

Para ver um pouco do outro lado da questão, eu também conversei com o repórter Jota Abreu. Formado em jornalismo em 2006, mas desde 2005 atuando na área, Jota tem experiência em comunicação impressa, fotografia, rádio e televisão, além de ter passado por agências publicitárias e ter feito assessoria de imprensa. Ele também é pai de duas meninas.

Com um currículo cheio, Jota passou por algumas situações peculiares, como ter trabalhado em um jornal de bairro que funcionava na casa do dono da publicação. “Era uma equipe reduzida e a gente tinha que lidar com os cachorros da casa latindo enquanto tentávamos gravar as entrevistas”, comenta descontraído.

TRABALHANDO E CUIDANDO DA FAMÍLIA

Com uma visão otimista da situação, Jota elenca os benefícios de trabalhar em home office. “Minha condição de trabalho em casa é um pouco mais tranquila hoje, se comparado a outros momentos ou lugares onde trabalhei no passado. Por mais que tenha um pouco de barulho das minhas filhas falando, assistindo algo, são coisas que não interferem nem me incomodam. Pelo contrário, o próprio convívio aqui com elas e com minha esposa ajudam a amenizar muito a situação”, afirma.

A relação com as filhas, aliás, é destacada pelo jornalista. “Por mais que eu goste demais dos meus colegas de trabalho, em um ambiente extremamente harmonioso, quando somos pais, possivelmente o que mais queremos é estar com nossas famílias, nossos filhos. E essa é minha realidade aqui. Tenho conseguido isso, dar um pouquinho mais de atenção para minhas filhas, me relacionar, aumentar essa proximidade”, exalta o jornalista.

RITMO INTENSO

Com a experiência de ter atuado em home office outras vezes, Jota ressalta que o planejamento feito pela Câmara auxilia na execução do trabalho. “Cumprimos a mesma carga horária que cumpriríamos trabalhando na Câmara. Eu fico na minha estação de trabalho no meu computador, com o celular do lado acompanhando as mensagens pelos aplicativos e trabalhando através de um sistema remoto que criamos. Assim faço as pesquisas das pautas direcionadas para mim, também apresento sugestões e produzo outros conteúdos, como vídeos. Ou seja, minha rotina em casa tem sido a mesma da Câmara”, diz o jornalista.

As poucas ressalvas que Jota faz em relação ao trabalho remoto são relacionadas à questão técnica da produção de conteúdo. “Na Câmara conseguimos ver o que está acontecendo, temos o suporte técnico, a infraestrutura de estúdios e equipamentos para gravação, acesso à rede interna, cobertura de profissionais de outras áreas, como fotógrafos, além do contato com os colegas de trabalho para tirar eventuais dúvidas. Fora o profissionalismo do ambiente”, pontua.

Por fim, Jota aponta algumas lições que já podem ser tiradas do isolamento social. “Acho que poder passar mais tempo perto das pessoas que gostamos, valorizar momentos que, às vezes, não conseguimos desfrutar sem o isolamento. Além das pequenas liberdades, como fazer uma caminhada, olhar o sol, praticar exercícios físicos ao ar livre e ver a natureza. Quantas vezes a gente deixa isso de lado em nome da correria?”, finaliza.

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