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CPI da Prevent Senior ouve testemunhas sobre enfermagem e medicina do trabalho na empresa durante a pandemia 

Por: DANIEL MONTEIRO
DA REDAÇÃO

4 de março de 2022 - 14:58
Richard Lourenço | REDE CÂMARA SP

Em reunião extraordinária realizada nesta sexta-feira (4/3), a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Prevent Senior ouviu duas testemunhas, acompanhadas pelo advogado Adriano Scattini, que abordaram a atuação das áreas de enfermagem e medicina do trabalho da operadora de saúde durante a pandemia.

A primeira a ser ouvida foi Valdineia Almeida Santos, que ocupa o cargo de chefe de enfermagem na Prevent Senior desde novembro de 2021. Segundo ela, há na estrutura da Prevent Senior cerca de 4.500 enfermeiros, entre profissionais de nível médio e superior.

Logo no início da reunião, a responsável pelo setor de enfermagem foi confrontada com o depoimento dado por Walter Souza Neto, ex-médico da Prevent Senior, que afirmou à CPI que os enfermeiros eram responsáveis pelos atendimentos nas unidades da operadora, inclusive prescrevendo medicamentos e carimbando as receitas.

Valdineia afirmou desconhecer a prática e destacou que somente a triagem, ou acolhimento, é realizada pelos enfermeiros, inclusive com logins e senhas individuais no sistema interno de prontuários. A partir daí, o atendimento passa a ser realizado por um médico. Além disso, ela destacou haver orientação constante para que os enfermeiros sigam as práticas corretas de utilização do sistema e de acolhimento.

Também confrontada sobre a denúncia de que os enfermeiros utilizariam as mesmas vestimentas de médicos, o que poderia confundir os profissionais e, dessa forma, induzir o paciente a erro no atendimento, a chefe de enfermagem da Prevent Senior novamente disse desconhecer a denúncia e explicou que há diferenciação nas roupas utilizadas.

Questionada, Valdineia afirmou não trabalhar e nem ter contato com o setor de telemedicina da operadora de saúde, uma vez que sua atuação se dá presencial nos hospitais da empresa.

Ela também comentou desconhecer onde eram armazenados e distribuídos os chamados Kit Covid – conjunto de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19 fornecido pela Prevent Senior a pacientes diagnosticados com a doença.

Da mesma forma, disse não ter conhecimento sobre as denúncias de mudanças de CID (Código Internacional de Doenças) nos prontuários, bem como de possível negligência no atendimento a pacientes mais graves com Covid-19, que seriam encaminhados para tratamento paliativo e não receberiam os cuidados adequados para a doença.

Na sequência, foi ouvida a médica Lorena Gigli, responsável pela gestão da medicina do trabalho da Prevent Senior desde o final de 2019. Segundo ela, há 13.886 colaboradores na empresa, sendo que 6.067 (43%) foram infectados pela Covid-19. Ao todo, foram registrados sete óbitos pela doença: um médico, quatro enfermeiros, um piloto e um auxiliar de atendimento. A idade média dos colaboradores gira entre 35 a 45 anos e todos possuem convênio com operadora e foram atendidos pela própria Prevent Senior quando contaminados pela Covid-19.

Questionada sobre uma vistoria realizada pela Covisa (Coordenadoria de Vigilância em Saúde) aos hospitais da empresa, que constatou diversas irregularidades, ela informou que, no princípio da pandemia, haviam muitas dúvidas quanto a como encarar a doença, mas que a empresa buscou preservar seus profissionais e afastou, preventivamente, todos os colaboradores que faziam parte do grupo de risco, gestantes e lactantes.

Quanto à falta de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) apontada na visita, ela disse que logo após a vistoria a empresa investiu na aquisição dos equipamentos, de forma a atender a demanda existente. Confrontada sobre a falta ou eventuais problemas no fornecimento de EPIs após a vistoria da Covisa, Lorena afirmou desconhecer a situação e ressaltou que a empresa investiu, desde o início da pandemia, cerca de R$ 60 milhões em equipamentos de proteção.

Em relação ao tempo de afastamento dos colaboradores, a responsável pela medicina do trabalho ressaltou que a Prevent Senior segue as diretrizes estabelecidas pelo Ministério da Saúde, cujos prazos foram alterados desde o início da pandemia. Além disso, a empresa também realiza o acompanhamento clínico desses colaboradores, avaliando seu estado geral e só os liberando para voltar ao trabalho quando estiverem plenamente recuperados.

Questionada sobre a prescrição do Kit Covid aos colaboradores que contraíram a Covid-19, ela afirmou ter sido atendida na Prevent Senior e utilizado esses medicamentos quando infectada, em março de 2021. Contudo, destacou não ter recebido na empresa um kit previamente montado com os remédios, mas sim uma receita com a prescrição desses medicamentos, que foram posteriormente adquiridos.

Posicionamento dos vereadores

Autor do requerimento convidando Valdineia Almeida Santos a prestar informações, o vereador Milton Ferreira (PODE) se mostrou decepcionado com o depoimento. “A gente esperava um depoimento mais conclusivo mas, em nossas perguntas, ela foi evasiva. E a gente percebe que eles já vêm com algumas prerrogativas, com advogado do lado, alguns com habeas corpus. Então, eles se sentem confortáveis em não responder o que a gente pergunta. Então, minha avaliação é de que nós tivemos muito pouco êxito nesse requerimento para ela vir esclarecer”, comentou Ferreira.

Relator da Comissão, o vereador Paulo Frange (PTB) também abordou o depoimento da responsável pela enfermagem da Prevent Senior. “O que me estranhou é que ela não deixou claro o trabalho da enfermagem nesse aspecto [acolhimento do paciente], principalmente no que tange a distribuição dos Kit Covid na época, se era feito pela enfermagem, se era feito por alguém que dispensava, por exemplo, uma farmácia na unidade, ou se era feita pelo próprio médico dentro da unidade de atendimento. Então, realmente ficou vazio, como o doutor Milton deixou claro, ficou faltando informação”, acrescentou Frange.

Durante os depoimentos, novamente os irmãos Eduardo e Fernando Parrillo, sócios da Prevent Senior, foram citados como figuras centrais no organograma e na tomada de decisões da empresa, inclusive durante a pandemia.

Para o presidente da CPI, vereador Antonio Donato (PT), é essencial que ambos prestem esclarecimentos à Comissão. “Aqui, antes de tudo, é um espaço para o contraditório. As acusações já foram feitas, nós ouvimos várias aqui de pacientes, de parentes, de médicos, e do que a gente já pôde apurar. Então é o espaço de defesa deles. É estranho que eles não utilizem o espaço de defesa. Então a gente espera que eles venham aqui para poder argumentar e apresentar a versão deles, para que a gente possa fazer um relatório mais equilibrado possível”, disse Donato.

“E eu saliento, ressalto isso: é um espaço para que eles apresentem as razões deles, porque nós temos várias convicções muito próximas de estarem formadas, por tudo o que a gente ouviu aqui. Mas a gente quer ouvir todo mundo para que não seja, eventualmente, proposto o indiciamento de alguém sem ter sido ouvido. Evidente que, por tudo o que a gente ouviu, é natural que a gente proponha o indiciamento deles. Mas a gente quer ouvi-los”, concluiu o vereador.

Demais depoimentos

Esperado para depor nesta sexta-feira, o médico Guilherme Garlip não compareceu sob a alegação de já ter sido escalado para um plantão médico nesta sexta. Ele se colocou à disposição para comparecer no próximo dia 10 de março e prestar esclarecimentos à Comissão.

Requerimentos

Além dos depoimentos, os membros da CPI da Prevent Senior aprovaram dois requerimentos com pedidos de informação à operadora de saúde e para a realização de uma reunião técnica da Comissão.

A reunião desta sexta-feira foi conduzida pelo presidente da CPI da Prevent Senior, vereador Antonio Donato (PT). Também participaram o vice-presidente da Comissão, vereador Celso Giannazi (PSOL), o relator dos trabalhos, vereador Paulo Frange (PTB), e o vereador Milton Ferreira (PODE).

Confira a íntegra dos trabalhos no vídeo abaixo:

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