A maioria dos brasileiros acredita que as torcidas organizadas são responsáveis pela violência no futebol. De acordo com pesquisa realizada pela Stochos Sports & Entertaiment, empresa especializada em análise do mercado do esporte, 84,5% das pessoas têm essa percepção. No entanto, explicou o professor do programa de pós-graduação em Comunicação e Cultura da Universidade de Sorocaba, Felipe Tavares Paes Lopes, esse não é o único motivo para os confrontos entre torcedores.
Estudioso do assunto, o docente apresentou nesta quarta-feira (2/3) à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) das Torcidas Organizadas da Câmara Municipal de São Paulo os principais desafios do Brasil para reduzir os índices de violência no futebol.
“A questão é plural. Existe a desigualdade social, a masculinidade que envolve o resistir, que seria por meio do embate corporal, e o aguentar a dor, que seria ver o time sendo rebaixado, por exemplo, e a falta de organização dos eventos”, sinalizou Lopes. Para ele, é necessária uma transformação cultural para acabar com a violência no futebol. “O Brasil, historicamente, aposta na repressão e isso não resolve. É necessário prevenir e reorganizar todo o evento esportivo, por meio de medidas sociopedagógicas”, disse.
O professor citou países europeus como bons exemplos para o Brasil seguir. “A Alemanha tem um projeto que aposta na questão da educação e na mediação de conflitos com educadores e assistentes sociais. Eles oferecem amparo psicossocial e isso aumentou a tolerância das pessoas. Vi um exemplo em que um torcedor estava desempregado e uma das profissionais do projeto o ajudou”, comentou. “A Inglaterra foi outro país que tinha altos índices de violência mesmo tendo muita repressão, isso não evitou o problema. Eles só resolveram a situação quando mudaram essa postura”, comentou Lopes.
Para o convidado da CPI, essas mudanças serão possíveis quando houver essas mudanças e o envolvimento de todos. “A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) deve participar desse processo de transformação porque os organizadores têm uma participação nisso tudo. A Liga Alemã percebeu que se aumentasse a violência, os estádios ficariam vazios. Por isso, a instituição investe no projeto torcedor do país. Fazer a prevenção significa basicamente transformar culturalmente e isso é possível por meio de investimento em educação e assistência social”, explicou Lopes.
O presidente da CPI, vereador Laércio Benko (PHS), gostou dos dados trazidos pelo estudioso do tema. “Esses estudos são fundamentais para os nossos trabalhos e eles demonstram o que a CPI tem defendido que é a de que todos devem estar envolvidos na solução. Mas a CBF finge que o problema não é com ele e acha que apenas a polícia militar e os torcedores é que devem se resolver. A prevenção deve ser feita pelas entidades organizadoras”, disse.