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Abril Azul combate o preconceito ao Transtorno do Espectro Autista 

Por: ANDREA GODOY
DA REDAÇÃO

1 de abril de 2024 - 10:00

Criada pela ONU (Organização das Nações Unidas), a campanha Abril Azul busca trazer visibilidade ao TEA (Transtorno do Espectro Autista) para combater o preconceito e promover a inclusão dos autistas. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) existem cerca de 70 milhões de pessoas autistas no mundo.

O neurologista pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo e membro titular da Academia Brasileira de Neurologia, dr. Vinícius Lopes Braga, recebe vários relatos de famílias de pacientes que sofrem preconceito em função do desconhecimento da sociedade, uma vez que “o autismo não tem cara”, ou seja, não há sinal físico evidente que permita identificar um autista.

“Já tive pais de pacientes parados na rua por pessoas que dizem que eles não deram educação aos filhos ou que tentam educar o filho deles sem saber da questão do transtorno do neurodesenvolvimento. Ou casos de pessoas que tentam conter a criança e acabam piorando a agitação, a crise que ela estava tendo naquele momento. Já tive mãe de um paciente que tentou evitar que a criança corresse para o meio dos carros e pensaram que ela estava agredindo a criança e por isso queriam agredi-la. Depois de informadas elas dizem: – Ah! Eu não sabia, eu não pensei. Mas na verdade, a gente tem que, de antemão, não ter esse preconceito, ter essa empatia e se colocar no lugar do outro”, pondera o dr. Vinícius. Segundo ele, para evitar confusões, as famílias inclusive criam pulseiras e cordões para identificar os pacientes de TEA.

Transtorno tem origem genética

O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento de causa genética que altera o desenvolvimento infantil. “Não é um único gene que determina o autismo, na grande maioria dos casos é uma herança poligênica, uma série de genes que aumentam as chances do indivíduo ter autismo”, explica o neurologista.

O diagnóstico precoce do TEA é essencial para o sucesso do tratamento que vai permitir ao portador desenvolver o máximo do seu potencial e reduzir as comorbidades através do tratamento. O neurologista afirma que quanto mais cedo a condição for identificada maior é o sucesso do tratamento em função da maior neuroplasticidade.

“Quanto mais jovem é o cérebro melhor, pois ele não está com a maturação completa. Isso significa que a capacidade dos nossos neurônios se interligarem, fazerem novas conexões, a capacidade das crianças terem essa plasticidade cerebral e conseguirem mudar e melhorar nesse sentido, é maior. Quanto antes eu faço terapia, maior a chance do meu tratamento ser eficaz, adaptar e fazer com que essa criança tenha boa evolução. Quanto antes eu intervenho, maior a funcionalidade daquela criança e assim ela aprende mais, se desenvolve mais e consegue exercer uma função na sociedade e para ela também”, enfatiza.

Veja como identificar o Transtorno do Espectro Autista

De acordo com o neurologista Vinícius Lopes Braga as principais alterações no neurodesenvolvimento do autista acontecem na comunicação social, padrões e comportamentos restritivos. Ele lembra que se há suspeita é importante os pais não ficarem ansiosos e sim levar a criança a um neurologista para obter um diagnóstico preciso, pois um sinal só isolado não significa que a criança seja autista. Para facilitar a identificação ele deu exemplos bem claros das alterações que podem ser observadas:

Comunicação Social

“É uma criança que não olha nos olhos, evita o contato físico, evita sorrir de volta para o adulto, não imita os gestos, não brinca de esconde-achou, pode apresentar atraso de linguagem. Acontece um atraso da reciprocidade da interação social, essa criança prefere se isolar em vez de brincar com o resto do grupo”, resume o médico.

Padrões repetitivos

“São crianças que gostam sempre do mesmo desenho, do mesmo brinquedo, assistem várias vezes o mesmo vídeo, dentro daquele vídeo o mesmo trecho, sabe as falas decoradas ou crianças que tem uma rotina muito rígida, seguem muitos métodos, qualquer mudança de rotina por menor que seja gera uma frustração e ansiedade importante na criança”, revela.

Comportamentos restritivos

“São crianças que têm alteração também de repetição: então movimentos repetitivos como andar de um lado pro outro, balançar de mãos, crianças que tem repetição sonora, repetem a mesma palavra ou a última palavra que foi dita na conversa. Todos esses são sinais, mas é importante esclarecer que esses sinais precisam de um contexto de estarem juntos, um único sinal isolado não significa que a criança é autista”, destaca.

O autismo tem três níveis de acordo com o suporte necessário

O dr. Vinícius ressalta que os níveis de autismo não são definidos pela gravidade e sim pelo nível de suporte para que possam ser funcionais em sociedade. O nível 1 se define pelo paciente que precisa de pouco apoio, no nível 2 o paciente exige apoio substancial e no nível 3 há um alto grau de dependência, que exige apoio muito substancial.

Ele explica que existe uma confusão em que as pessoas pensam que no nível 1 a criança não precisa de terapia e no 3 a terapia não vai ajudar, mas isso não é verdade. “O nível de suporte foi feito para mostrar qual é o grau de dependência daquele indivíduo para exercer suas funções, suas atividades de vida diária e não para indicar ou deixar de indicar uma terapia. A terapia é para todos conforme a necessidade do paciente”, descreve ao informar que a terapia é importante em todos os casos.

O tratamento é multidisciplinar conforme avaliação individual

O tratamento para o paciente de TEA requer uma avaliação individual para apurar os sintomas e necessidades. A partir disso uma equipe multiprofissional vai atuar seja com fonoaudiologia, fisioterapia, psicomotricidade, psicologia, entre outras terapias conforme cada quadro exigir. “Não existe uma receita de bolo para tratar o autista. Os métodos Denver e ABA são os que têm maior nível de evidência científica para atuar sobre o comportamento do paciente e ajudar”, afirma o médico.

Ele fala que em alguns casos é necessário aliar as terapias ao tratamento medicamentoso visando dois objetivos principais: quando a pessoa precisa do remédio para conseguir se engajar nas terapias e quando existem comorbidades associadas.

“O autismo pode ter associação com quadros como ansiedade, TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), deficiência intelectual, depressão. Também pode haver questões comportamentais mais graves de agressividade, irritabilidade que acabam levando risco ao próprio paciente e pessoas do seu entorno. Nesses casos o medicamento é necessário. Então de uma forma geral, todos os pacientes com TEA vão precisar do tratamento multiprofissional e alguns, não todos, vão precisar de tratamento medicamentoso”, pondera.

O resultado obtido com o tratamento varia de acordo com o nível de suporte, a resposta do tratamento, o profissional que está acompanhando o caso e o apoio da família, terapeutas e da sociedade. “E existe o quanto a criança tem de neuroplasticidade para o quanto vai conseguir. Eu sei que a gente tem que tentar  sempre atingir o maior potencial daquela criança. Tem pacientes com qualidade de vida boa que trabalham, são arrimo de família, mas tem dificuldades  como por exemplo com restrição alimentar. Identificar os potenciais de cada pessoa é muito importante”, afirma.

Hipersensibilidade a estímulos

O autista pode ter uma sensibilidade aumentada com ruídos, barulhos, ficar incomodado em meio a muitas pessoas e alguns estímulos de toque também. São restrições sensitivas que precisam ser vistas e acolhidas, buscando adequar o ambiente.

“Há crianças que não gostam de vestir roupas com etiquetas, certos tipos de roupas, tem restrição alimentar em função de estímulos gustativos e por isso precisam de acompanhamento com nutricionista, terapeuta ocupacional para adequar a dieta, para conseguir desenvolver o hábito e se alimentar com uma diversidade maior de alimentos”, conta dr. Vinícius.

Por que está aumentando o número de pessoas autistas?

O neurologista Vinícius Lopes Braga falou sobre o aumento inegável dos casos de TEA. Quando a doença foi descrita em 1970 a proporção era de um caso para cada dez mil pessoas. Em 1999, subiu para um caso a cada 500 indivíduos e em 2022 há um paciente autista para cada grupo de 36 pessoas menores de 8 anos de idade.

Ele avalia que existem vários fatores para a alta prevalência; a subnotificação anterior, diagnósticos errados e fatores de risco como exposição a tóxicos e idade materna e paterna mais avançada. “Mas existe um fator muito importante que é a diminuição do preconceito e mais informação”, destaca. “Muitos pacientes antes não eram diagnosticados e iam para hospitais psiquiátricos ou não faziam terapias e nunca se desenvolviam e não conseguiam ser vistos pela sociedade, ficavam trancafiados em suas casas”, completa.

Autistas têm altas habilidades?

Alguns filmes trazem personagens autistas como Rain Man (1988), interpretado por Dustin Hoffman e com Tom Cruise no elenco. Na história o autista Raymond pode calcular problemas matemáticos com grande velocidade e precisão.

O dr. Vinícius explica o que é verdadeiro e o que é mito em histórias assim. “Alguns pacientes com TEA podem ter essa associação com altas habilidades, mas não como no filme. Uma minoria terá as duas comorbidades: TEA e alta habilidade. A visão do gênio que é bom em tudo não é bem assim. Algumas pessoas com transtorno de alta habilidade têm coeficiente de inteligência superior à média populacional e se destaca, mas nem sempre ele vai ter para todas as áreas do conhecimento e não quer dizer que ele não tenha limitações”, conta.

O neurologista explica ainda que a pessoa não vai ser super inteligente em tudo. Às vezes ela é boa em matemática, mas tem uma inteligência emocional ruim, a linguagem pode não ser tão bem desenvolvida. Como pode ter aquele com alta habilidade em linguagem e letras, mas que tem outros impactos associados e o paciente com alta habilidade pode ter muito sofrimento com a dificuldade de se adequar com pessoas da sua idade e muitas vezes achar a turma desinteressante e os papos dos colegas da mesma idade chatos, porque estão muito básicos para o nível dele.

“Na aula ele termina os exercícios antes, dando impressão que é um aluno que não está gostando da aula, que não está nem aí, mas, ao mesmo tempo, também ele não se adequa com grupos mais velhos, porque ainda não viveu as experiências das fases de maturidade de cada idade. Muitas vezes é um paciente de 9 anos que com os coleguinhas da mesma idade acha o papo muito simples, mas também não consegue conversar com os de 12, 13 que tem nível acadêmico semelhante, mas já estão pensando em namorar ou em outras coisas de maturidade social que o de 9 ainda não tem”, exemplifica.

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