As eleições deste ano, 2018, terão um elemento a mais que poderá redefinir as estratégias políticas e alçar aos cargos públicos “outsiders”. As chamadas “Fake News” (notícias falsas) tão em evidência no cenário político mundial, também são fator preocupante no Brasil, exigindo atenção devido ao dano no desdobramento social.
O necessário debate sobre tema em questão foi ponto central de discussão entre o experiente jornalista, Luís Nassif, fundador do portal de notícias GGN, e o cientista político, Fernando Abrucio. Outra expressão considerada não menos importante nas apresentações de ambos os palestrantes foi a “post-truth” ou pós-verdade.
As duas palavras estão intrinsecamente ligadas. Pós-verdade, aliás, foi eleita em 2016 a palavra do ano pelo dicionário Oxford, que a considera um termo relativo às circunstâncias nas quais os fatos objetivos são menos influentes na opinião pública do que as emoções e as crenças pessoais.
Em um contexto como esse, a proliferação das notícias falsas, ou seja, das “Fake News” encontra caminho propício para a desinformação em tempos de polarização político-ideológica.
O modelo Murdoch de notícias
Segundo Luís Nassif, a história da notícia como produto sempre foi usada pela mídia convencional. Os jornais sérios têm como prioridade dar notícias e os jornais sensacionalistas, que serviram de padrão à mídia brasileira pós-redemocratização, priorizam o que o leitor deseja ler.
A partir da ascensão da internet, todos os modelos de financiamento dos grupos de mídia tradicionais entraram em crise. Nassif afirma que, na tentativa buscar alternativas, foi empregado o modelo Murdoch – em referência ao magnata da mídia norte-americana, no Brasil.
“Na época da campanha eleitoral de Barack Obama, Rupert Murdoch montou uma estratégia de difamação do ex-presidente escudado na liberdade de imprensa. Os veículos de mídia da Fox contavam mentiras e depois replicavam nas redes sociais, pois a ideia era ganhar força política e ser usada contra o governo para impedir a entrada dos concorrentes”, afirma Nassif.
Nassif disse também que as Fakes News não é são o principal problema em si. “A parte maior é que de um lado há o poder avassalador do Facebook , pois a possibilidade de manipulação é muito grande. De outro, há a cartelização da mídia que faz com que todos repitam o mesmo discurso, ou seja, não há contraponto. O terceiro ponto é o risco de usar a Fake News como uma forma de censura, ou seja, quem vai dizer o que é Fake News nas eleições? Isso pode ser um grande álibi para se exercer a censura política nas eleições. O ponto central da democracia é a falta de diversidade da imprensa”, concluiu.
O fator Fake News na sociedade tribal
Há dois anos, a disputa presidencial norte-americana ficou marcada pela grande disseminação das notícias falsas. Recentemente, confirmou-se a intervenção no processo eleitoral pelo fator Fake News, impulsionadas pelo algoritmo do Facebook. Houve também problemas quanto ao Brexit, referendo britânico sobre a saída do Reino Unido da União Europeia.
Segundo o cientista político e professor Fernando Abrucio, a credibilidade da notícia está em jogo nesse mundo de informações completamente descentralizadas. “É preciso ter canais que possam de alguma forma dizer que determinada notícia é factual”, disse.
Abrucio lembrou que no Brasil já tem acontecido isso. “Basta lembrarmo-nos do caso Marielle, já que até um desembargador acreditou nas notícias falsas disseminadas contra a vereadora”, afirmou.
Segundo o professor, temos que ter mecanismos de defesa. “Acho que cabe à imprensa tradicional, mas também a uma série de organismos da sociedade civil que podem servir como “checadores” da informação”, complementa.
“Normalmente a imprensa tradicional não foge dos fatos, mas é preciso apostar nos órgãos denominados de fact-checking – checagem dos fatos – e conversar com gente que pensa diferente de você”, disse Abrucio.
“A Fake News se alimenta do fato de que hoje as pessoas estão cada vez mais tribais. As sociedades transformaram-se num grande tribalismo. Além disso, as pessoas têm menos capacidade de ver a diversidade, o outro. Acredito que a grande proteção está numa formação mais humanista”, concluiu Abrucio.