FAUSTO SALVADORI FILHO E GISELE MACHADO
DA REVISTA APARTES
Era uma casa muito engraçada. Não tinha teto, não tinha piso, não tinha nada. As paredes eram tudo o que restava do galpão onde havia funcionado o primeiro supermercado de Cidade Tiradentes, bairro pobre na zona leste de São Paulo. O galpão não passava de uma ruína quando um coletivo de artistas chamado Instituto Pombas Urbanas ocupou o local, em 2004, com a missão de erguer um teatro.
“Como não havia energia, os atores tinham que usar os faróis dos carros para iluminar o galpão à noite”, relembra o ator Adriano Mauriz, 39 anos, um dos moradores do bairro de São Miguel Paulista que, ao lado do diretor Lino Rojas (morto em 2005), fundou há 25 anos o Pombas Urbanas, com o sonho de “transformar a arte num projeto de vida para os jovens das periferias”. Quando se instalaram em Cidade Tiradentes, os atores do grupo sentiram a carência dos moradores por mais opções de arte e lazer que não existiam no bairro. Decidiram que um teatro só não bastava. Era preciso montar um centro cultural, a partir das demandas da população. Foi aí que Adriano começou a ensinar técnicas de circo: perna de pau, monociclo, malabares.