Estamos num momento crucial do enfrentamento da pandemia, começando o relaxamento da quarentena. Durante quase três meses, segundo o sistema de monitoramento do Governo do Estado, com base na movimentação dos aparelhos de celular, a maior parte da população da cidade de São Paulo ficou em casa. Os índices giraram em torno dos 50% de adesão, chegando muitas vezes a 60%.
Considerando que se monitoram os celulares, não as pessoas, pode-se dizer que a maioria ficou em casa. Pode parecer pouco, mas não é. Estamos falando de uma metrópole de 12 milhões de habitantes, muitos dos quais perderam a renda, tudo isso num ambiente político absorvido por uma polêmica desnecessária, alimentada pela falsa dicotomia entre saúde e economia – ora, uma não existe sem a outra.
O fato é que se cumpriu uma quarentena de quase 90 dias. O debate sobre se está ou não na hora de abrir está superado. Pessoas precisam trabalhar, empresas precisam funcionar. São quase três meses de atividade interrompida. Muita gente está no limite de suas forças para suportar a paralisação.
Cabe agora confiar na responsabilidade e na capacidade de pessoas e empresas. Tenho participado diariamente de reuniões entre diversos segmentos para debater a reabertura: construção civil, imobiliárias, shoppings, restaurantes, organizadores de eventos, comércio de rua, varejistas, escritórios de advocacia, clubes sociais.
Nessas articulações, o que mais constato é um enorme senso de compromisso e responsabilidade por parte dos envolvidos. Existe, claro, um sentimento de urgência, afinal, para muitos empreendedores a paralisação das atividades os colocou à beira de um colapso. Mas todos têm a consciência clara do desafio que precisam enfrentar para garantir a segurança de seus colaboradores e de suas famílias, no fim das contas, de toda a sociedade. Ninguém ignora os riscos, todos se comprometem em reduzi-los para proteger também o emprego e a renda dos paulistanos.
Sim, há medo e dúvidas. Vai funcionar? Vai haver uma segunda onda? Quando as escolas voltam? Como garantir a retomada sem creches e escolas públicas? Ninguém tem respostas definitivas. Tudo é novo e a realidade de cada cidade é única. Aos poucos estamos construindo uma saída para São Paulo, com planejamento, cautela e atenção.
A quarentena nos deu condições de iniciar essa retomada. Se infelizmente o nível de isolamento não foi suficiente para impedir a morte de mais de cinco mil pessoas na capital, deu tempo para que o sistema de saúde fosse reforçado. Em menos de três meses, a Prefeitura ampliou os leitos de UTI em mais de 130%, passando de 507 para 1183. A Câmara Municipal também fez a sua parte. Aprovamos a liberação de recursos, transferimos dinheiro do Legislativo para a saúde, cortamos em 30% os salários e as verbas de gabinete dos vereadores. Hoje, a cidade está mais bem preparada.
Não podemos nos descuidar do monitoramento, e o cuidado com a saúde é obrigatório. Mas a hora é de avançar com a economia, seguir em frente, com fé em Deus e confiança nas pessoas.
*Artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo em 17 de junho de 2020
* Eduardo Tuma é vereador pelo PSDB e presidente da Câmara Municipal de São Paulo