Historicamente algumas doenças se tornaram endêmicas em algumas regiões do mundo, como por exemplo, a varíola. Outras acometeram o planeta com padrões de pandemia, como o sarampo, a malária, o tifo, a febre amarela, a tuberculose até que a humanidade foi surpreendida com a maior de todas: a gripe espanhola.
Temos poucos registros de história da saúde no período antes de Cristo. Apenas a lepra, que aparecia isoladamente, tinha os doentes “isolados” em cavernas ou distantes das cidades, como forma de proteção da sociedade. No ano 165 d.C, o mundo foi vítima de um vírus, primo do sarampo, que matou 5 milhões de pessoas. Foi a Peste Antonina. Em 541 a 544 d.C, a Praga de Justiniano (Peste Bubônica) matou cerca de 25 milhões de pessoas. O nome foi uma forma de invocar “a punição de Deus” pelos seus maus caminhos ao Imperador Justiniano. Era uma bactéria, a Yersina Pestis.
Em 1346 a 1353, a mesma bactéria levou a vida de mais 75 a 200 milhões de pessoas. Foi a Peste Negra. Essa é comumente lembrada em filmes de época. Na ocasião, autoridades portuárias da Itália, determinaram pela primeira vez, que navios oriundos de países com a doença, ficariam obrigatoriamente ancorados por 40 dias até o desembarque. Nasce aqui o termo “quarentena”.
Assim, continua a história. Em 1852 a 1860, a cólera mata mais 1 milhão. Foi a bactéria Víbrio Cholera. Em 1889 a 1890 veio a GRIPE ASIÁTICA, ou também conhecida como Gripe Russa, causada pelo vírus Influenza, H2N2. Foram mais 1 milhão de mortos. Em 1910 e 1911, volta a cólera e mata mais 800 mil pessoas.
Em 1918 a 1920, vem a GRIPE ESPANHOLA. A causa foi o vírus influenza, H1N1. Aqui há uma curiosidade quanto à omissão. Um fato que se repetiu no coronavírus, tem que ser lembrado. Ela surgiu nos EUA, mas o Presidente Wilson, não o relatou para não criar pânico entre a população e soldados no pós-guerra. Como os primeiros casos foram relatados na Espanha, ganhou o nome de GRIPE ESPANHOLA. Em 25 semanas, foram 25 milhões de pessoas mortas, e em 2 anos, entre 50 e 100 milhões no mundo todo. A grande maioria dos mortos era de jovens saudáveis. Aqui, a grande diferença com a Covid-19, onde a maior mortalidade é de idosos e com comorbidades.
A GRIPE ASIÁTICA, retorna em 1956 a 1958, matando 2 milhões de pessoas. Em 1968, a gripe de Hong Kong, causada pelo vírus Influenza, H3N2 faz mais 1 milhão de vítimas. Já recentemente, 1980 a 2012, enfrentamos a HIV/AIDS, com 36 milhões de mortos nesse período. E, de novo, o H1N1, em 2009 e 2010 matou aproximadamente 500 mil pessoas.
Agora, enfrentamos uma pandemia, a do coronavírus ou Covi-19. Surge no final de 2019, também com sua comunicação omitida no início, pelos chineses, e aí, num ambiente de globalização, atingiu o mundo todo numa velocidade nunca antes vista.
Essa doença está escrevendo sua história. Até agora, final de maio de 2020, já temos mais de 350 mil mortos. Colecionamos em menos de 6 meses um extraordinário bombardeio de achismos, posições ideológicas, arrogância, resistências, e nenhuma voz de comando. Desentendimentos e divergências e até mesmo desconhecimento tiraram o brilho até da própria OMS.
Os países, cada um deles tentando encontrar soluções mágicas, e “inventando”. A falta de equipamentos, desde os mais simples como máscaras até os mais complexos como respiradores é incompreensível. Tudo isso por culpa de todos os países inclusive o Brasil, que ao longo das últimas décadas, achou melhor comprar barato de um único país, do que investir nas suas próprias indústrias. Até mesmo o kit para exame molecular para identificar o vírus, o PCR-RT. Um erro estratégico, não considerar a saúde, uma prioridade. Entre as exceções, a Coreia do Sul, Alemanha e raros outros países.
Estamos numa Guerra, com inimigo invisível, desarmados e sem comando. Não há remédio e não temos vacina. Enfrentamos uma tempestade, onde nem todos estão dentro do mesmo barco. E a maioria dos barcos são frágeis. O coronavírus eviscerou em todos os países, o abismo social e as diferenças da mortalidade entre as minorias e os mais pobres. Enfrentamos agora a fome e os problemas econômicos, acompanhados do desemprego e a desesperança.
No pós pandemia, ficarão lições. Não haverá mais economia forte, sem saúde forte e estruturada. Sem sociedade organizada e participativa. Sem valorização de nossas indústrias estratégias na área da saúde. Contaremos milhares de mortos, e também milhares de heróis. A partir daí, voltaremos nossa atenção para os vírus. Nos tornaremos mais disciplinados e atentos com a higiene. E, assim poderemos registrar mais esse momento na história das endemias e pandemias. Quanto aos vírus, eles continuarão existindo e, também se transformarão. Mas, assim como está escrito na história até aqui, eles voltarão!
*Paulo Frange é médico e vereador de São Paulo
Gostei de ler seu artigo , conhecimento nunca e tarde pra um velho como eu e sem cultura , e bom relembrar a verdadeira historia ,