Eles ainda são minoria, mas muito engajados. E esperam convencer cada vez mais competidores a entrarem para o time do ativismo no esporte.
Embora ainda não haja uma pesquisa ampla sobre o número de atletas veganos, já existe uma sensação nítida de que o movimento de esportistas avessos a alimentos de origem animal está crescendo no País, principalmente entre os mais jovens.
É o caso do lutador de Jiu-jitsu Wellington Alex. Aconselhado por uma amiga, abandonou há oito meses os antigos hábitos à mesa para se tornar um adepto convicto do veganismo. Contrariando os que apostavam em uma queda de rendimento, hoje ele se orgulha de ter ido além das próprias expectativas.
“Eu mesmo tinha preconceito, mas por falta de informação. Mas com o veganismo consegui ser campeão mundial na minha categoria (até 57,5 kg), disse.
Wellington se refere ao título conquistado em Abu Dhabi no fim de abril, quando ainda tinha pouco mais de um mês de experiência com a nova dieta. Questionado sobre as dificuldades de adaptação, ele foi enfático. “O veganismo funciona pela ética e compaixão. Ao entender isso, mudei do dia para a noite e nunca mais senti vontade de comer nada que comia antes”.
O discurso do jovem lutador se encontra com a principal linha argumentativa do movimento vegano: a de que a mudança alimentar passa, sobretudo, por valores éticos e morais, priorizando o respeito às outras formas de vida.
Em contraponto aos vegetarianos, os veganos recusam qualquer coisa que envolva os animais, incluindo roupas, cosméticos e até medicamentos.
A necessidade cada vez maior de difundir essa mensagem motivou um encontro nesta sexta-feira (10/11), na Câmara Municipal de São Paulo. O evento ‘Esporte e veganismo: Mitos, verdades, ética e performance’ foi realizado em alusão ao Dia Mundial Vegano, comemorado em 1º de novembro.
De acordo com um dos organizadores e vice-presidente do Instituto Surya Solidária, Marcio Alexandre Gomes Moreira, o objetivo foi mostrar que é possível ter uma saúde muito boa e um rendimento esportivo satisfatório com alimentação isenta de origem animal.
“Viemos aqui falar para as pessoas, para a comunidade, sobre a importância de uma boa alimentação e de que forma isso influencia no desempenho de um atleta, seja amador ou profissional”.
O nutricionista Eduardo Corassa, escritor e palestrante, é crudívero há 11 anos. Ou seja, se alimenta apenas de frutas e vegetais crus. Para ele, apesar da carência de estudos científicos mais extensos, já é possível afirmar que a dieta sem origem animal é completamente benéfica.
“A gente sabe por dados clínicos que uma dieta vegana é mais rica em nutrientes e menos patogênica, porque tem menos toxinas e nutrientes não desejados, como o excesso de colesterol, gordura saturada e substâncias associadas a doenças crônicas degenerativas. Além disso, veganos também tendem a comer mais frutas e vegetais”, afirmou.
Ainda de acordo com o nutricionista, a adaptação do organismo a uma mudança definitiva na dieta costuma ocorrer sem problemas.
“Algumas pessoas podem passar por alguma dificuldade mais na questão social ou de compreensão da dieta. Mas o que a gente sabe é que o aumento no consumo de frutas e vegetais reduz a fadiga muscular, melhora a recuperação e acelera a retomada da taxa basal de respiração e batimento cardíaco. Então, pelo que observo entre atletas, a adaptação só vem com benefícios”, afirmou.
Corassa lembrou, no entanto, que a única recomendação para quem decidir trocar a alimentação convencional pela vegana é a suplementação de vitamina B12, mas dependendo de cada caso e sob orientação de um profissional.
O evento, realizado na Sala Sérgio Vieira de Melo (1º SS), teve o apoio do gabinete do vereador Alessandro Guedes (PT).