A discussão em torno do fomento às políticas públicas para travestis e transexuais foi tema de audiência pública na noite desta quinta-feira (19/5), promovida pelo vereador Toninho Vespoli (Psol). A iniciativa também partiu do CAIS (Associação Centro de Apoio e Inclusão Social de Travestis e Transexuais), que reivindica, entre outras coisas, o fim da intolerância contra esta população, que segundo ela, muitas vezes termina em assassinato.
“Nós já vimos e estamos acompanhando muita violência sendo cometida contra a população de travestis e transexuais do município de São Paulo. E queremos que o município tenha um olhar real sobre nossas demandas por proteção social”, afirmou Renata Peron, que preside a entidade.
De acordo com Vespoli, os crimes contra travestis e transexuais são contabilizados de maneira equivocada e, na verdade, são ainda mais alarmantes do que apresentam os gráficos oficiais. “Os dados não são verdadeiros, porque às vezes o crime é por conta da transfobia, homofobia e lesbofobia, mas isso acaba não aparecendo. Fica [registrado] como furto, latrocínio ou sei lá o que mais. Mesmo o Brasil já sendo, por exemplo, o país com o maior número de travestis assassinados, isso ainda é muito mascarado”, pontuou o parlamentar.
“O Brasil é o país que mais mata travestis no mundo, quatro vezes mais que o segundo colocado, que é o México, então não é uma estatística da qual a gente tem que se orgulhar. As pessoas fazem muita piada, os serviços públicos não estão preparados para receber essa população. Mas existem iniciativas, da prefeitura de São Paulo, do Rio de Janeiro, algumas iniciativas que começam a responder e atacar esse cenário”, disse Alessandro Melchior, coordenador de Políticas LGBT da prefeitura de São Paulo.
O representante do Executivo apontou ainda no debate algumas iniciativas que em sua opinião devem ser colocadas em prática em caráter emergencial. “Retomar a oportunidade de vida para essa população a partir da escolaridade de uma maneira emergencial, então, como colocar pessoas que foram expulsas das escolas e por consequência expulsas do emprego e de uma série de mecanismos de socialização de volta para a escola e de maneira estrutural, como preparar as escolas para acolher e impedir que essa população seja expulsa desses espaços”, disse. Segundo ele, sem um alicerce, dificilmente se construirão políticas públicas que se sustentem na prática.
Sobre os avanços, especificamente na cidade de São Paulo, o vereador Toninho Vespoli destacou o programa Trans Cidadania, implantado pelo prefeito Fernando Haddad, que visa promover os direitos humanos e a cidadania, além de oferecer condições e trajetórias de recuperação de oportunidades para travestis e transexuais em situação de vulnerabilidade social. Melchior foi além e considera a iniciativa uma das melhores do mundo.
“É a maior política de inclusão de travestis e transexuais do mundo. É um programa que tem R$ 3 milhões de orçamento para 2016, mais do que qualquer política LGBT no Brasil, só esse programa de política localizada”, finalizou.