Um dos principais assuntos das últimas semanas seguiu em debate na Câmara Municipal de São Paulo, na noite de quinta feira (17/5). Mais de 350 pessoas lotaram o Auditório Freitas Nobre, no térreo da Casa Legislativa, para relatar a realidade de quem vive em prédios ocupados na região central da cidade.
Em Audiência Pública realizada pela Comissão Extraordinária Permanente de Defesa de Direitos Humanos e Cidadania, aproximadamente 20 moradores de ocupações e representantes de movimentos sociais usaram a reunião para dar voz ao problema da habitação na capital paulista.
Amadis Maria é vendedora de coco no Parque do Ibirapuera. Ela mora com a filha em uma ocupação, há um ano e meio. “Espero que o Poder Público melhore a vida de quem mora em ocupações”, afirmou.
Sem dinheiro para pagar aluguel, Alexia Gomes foi morar em uma ocupação chamada ‘Ouvidor 63’. No espaço vivem 150 artistas, e todos vivem da arte. “O nosso trabalho é muito bonito, é um trabalho social. Nós precisamos de apoio”, disse ela.
A boliviana Mônica Rodrigues levantou a bandeira dos imigrantes e, há cinco anos, luta por moradia de qualidade em São Paulo. “30% dos moradores do prédio que incendiou e desabou, no Largo do Paissandu, eram estrangeiros. Muitos deles, ainda desaparecidos, não foram lembrados”, argumentou a boliviana.
Representantes de movimentos sociais disseram que as ocupações não podem ser relacionadas como criminosas. “As pessoas não ocupam porque querem. Elas ocupam porque não têm um teto”, afirmou o coordenador da união dos movimentos de moradia de São Paulo, Sidnei Pita.
O vereador e presidente da Comissão dos Direitos Humanos, Eduardo Suplicy (PT), anunciou que vai apresentar um Projeto de Lei para melhorar as moradias. “O importante é pensar em como resolver o problema, que é muito difícil. Hoje houve um encontro de pessoas para pensar o que precisa ser feito para melhorar o diagnóstico sobre as soluções”, constatou Suplicy.
A vereadora e vice-presidente da Comissão, Juliana Cardoso (PT), também participou da Audiência Pública. Ela defendeu os moradores dos prédios ocupados. “Crime é deixar as pessoas morando na rua”, afirmou a parlamentar.
Entre os membros da mesa, o defensor público André Naves falou sobre os moradores do prédio do Largo do Paissandu que ainda não foram relocados para outros locais. “A defensoria pública está pensando e estabelecendo estratégias para, por exemplo, liberar o auxílio ou colocá-los em abrigos. Queremos efetivar o direito de moradia das pessoas”, colocou o defensor público.
Ao fim da Audiência Pública o secretário municipal da Habitação, Fernando Chucre, relatou a preocupação com o assunto. De acordo com Chucre, o desafio para resolver o problema da habitação da capital não é tarefa fácil, 380 mil famílias não têm onde morar no município.
“O grande problema, hoje, é não ter uma política de financiamento que faça frente ao tamanho da carência habitacional do município. Se nós pegarmos o orçamento disponível da habitação municipal, demoraríamos mais de 100 anos para atender o déficit habitacional da cidade de São Paulo”, destacou o secretário.