Moradores, ativistas e técnicos discutiram nesta quinta-feira (17/9), durante Audiência Pública semipresencial realizada pela Comissão de Administração Pública, a retirada de árvores no Jardim Têxtil para construção de parte da linha 2 do Metrô na capital. Foi consenso entre os participantes a necessidade de reformulações no projeto da obra.
No dia 17 de agosto, os moradores e comerciantes da região do Complexo Rapadura, no Jardim Têxtil, que fica na região da Subprefeitura Aricanduva/Formosa/Carrão, foram notificados pelo Metrô de São Paulo e pelo Consórcio Linha 2 – Verde, sobre a realização de supressão de árvores nativas e intervenção em área de preservação permanente.
Na notificação, consta a informação sobre autorização da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) que o corte atingiria a Praça Mauro Broco, um espaço considerada como um parque, devido à extensa área verde. De acordo com o documento existe a previsão da supressão de 118 árvores de espécie nativas, 232 árvores de espécies exóticas e 05 árvores em estado fitossanitário mortos, totalizando 355 indivíduos arbóreos. O procedimento estava previsto para acontecer nos dias sequentes, mas foi suspenso depois da mobilização da população. Em reunião com os moradores, o Metrô também teria recalculado a quantidade de árvores para 145.
O vereador Gilson Barreto (PSDB), autor do requerimento, presidiu a audiência. Ele disse que tem dialogado com o Metrô que justificou ausência no encontro, pois a Comissão encaminhou questionamentos ao Ministério Público que, por sua vez, já está em tratativas com o Metrô. Por essa razão, o setor jurídico do Metrô recomendou aguardar a resposta do MP. Barreto disse que, hoje, o assunto não é mais limitado a alguns mandatos, e agora é uma questão pertinente a todo o parlamento de São Paulo.
O vereador Toninho Vespoli (PSOL) participou da audiência e afirmou que o Metrô deve estar estudando algum tipo de saída, por saber que não foram cumpridos todos os protocolos necessários. “Todos querem o Metrô, mas é preciso observar o impacto que terá para a cidade e para as residências”, apontou.
A vereadora Edir Sales (PSD) declarou que seu mandato também está acompanhando a questão com atenção e que o assunto merece o apreço. “Precisamos do metrô, porém, não podemos desfazer do verde na região”, disse. O vereador Fernando Holiday (PATRIOTA) e o vereador Zé Turin (REPUBLICANOS) também acompanharam a audiência.
Amanda Oliveira, assessora do vereador Gilberto Natalini (sem partido), tem estudado o processo e afirmou que existem várias incongruências técnicas. “O Meio Ambiente é sempre a primeira moeda de troca mais barata. A população não quer o corte das árvores e precisa ser ouvida”. Ela ainda questionou sobre estudo dos impactos na fauna, especificamente sobre os pássaros.
Leandro Silva chamou atenção para obras paralisadas do Metrô em outras linhas, para evitar que ocorra o mesmo, e que não seja feito o que chamou de devastação. Marivaldo da Silva Machado, da pastoral Fé e Política da Paróquia São João Batista, classificou como descaso o Metrô não participar.
Adriana Gonçalves Brito quis saber sobre a falta de opções de esporte, já que as quadras esportivas do espaço precisarão ficar interditadas durante as obras, previstas para durar 5 anos. José Carlos Raimundo demonstrou preocupação com o modelo dos trens que serão usados por conta da poluição sonora no bairro.
A moradora Marta Cavalcante de Barros alertou para o fato de que a supressão foi suspensa, mas não foi cancelada. Ela também se preocupa com a segurança das casas. Para Paula Gomes de Oliveira, os recentes incêndios no Pantanal e na Amazônia demonstram que a retirada, seja de 100 ou 300 árvores, é um crime.
Valter Perez cobrou que o Metrô cumpra as promessas feitas na imprensa, como a de que medidas de manejo e compensação só serão definidas depois das reuniões com moradores.
Cleber Silva Junior, integrante do Fórum Pró-Metrô Linha 6, sugeriu o uso de uma área próxima para substituir o parque. O espaço citado trata-se de uma fábrica abandonada que tem dívidas com a União.
Felipe Moutinho, doutor em biologia e conselheiro do Cades (Conselho Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável) Aricanduva disse que o órgão quer participar das discussões. Ele pediu que os compromissos que o Metrô firmou com os moradores em reuniões sejam feitos por escrito.
Rodolfo Barbosa pediu pela criação de protocolo de garantias de segurança e preservação do sossego dos moradores, principalmente sobre o horário de funcionamento do canteiro de obras.
Já Domenico Tremaroli, diretor de Avaliação de Impacto Ambiental da Cetesb, garantiu que o Metrô cumpriu as etapas de liberação, mas sabe que, depois das reuniões, serão realizadas alterações e que a Cetesb vai precisar refazer os ajustes nos impactos quanto nas medidas compensatórias.
Outros participantes da audiência pública foram Olívia Arruda, Daniel Salvador Ferrari, Edson da Silva Peralta, Marlei Cristina, Edna de Souza Rebouças, Paulo Dantas de Araújo, Galileu Domingues de Brito Filho, entre outros.
A ausência do metrô nesta audiência pública evidencia sua intenção de dialogar e esclarecer os moradores. Essa intenção é nula. A população e o meio ambiente são absolutamente descartáveis para o Metro SP.