Nesta quarta-feira (3/6), a Comissão de Saúde, Promoção Social, Trabalho e Mulher se reuniu com profissionais da área da saúde para discutir os avanços já conquistados no enfrentamento ao coronavírus no Brasil e no mundo, assim como, os desafios que persistem para que a doença seja controlada.
Presente à reunião, o professor de Medicina da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e ex-ministro da Saúde (governo Dilma Rousseff), Arthur Chioro, apresentou um panorama do impacto da pandemia na população brasileira e previsões que demandam maior esforço do Poder Público no combate à doença.
Flexibilização do isolamento questionada
De acordo com Chioro, o país ainda está passando pela fase de progressão da Covid-19, e não há evidências concretas de que o contágio está sendo estabilizado, exceto pelas cidades de Fortaleza, Recife e o estado de Sergipe, na região Nordeste, que começam a apresentar diminuição do impacto. Chioro afirmou que tais tendências não acontecem ainda no estado de São Paulo e, por isso, criticou a decisão do governo em flexibilizar o isolamento.
“Para começar alguma flexibilização é necessário garantir, no mínimo, duas semanas de estabilização segura da doença, assim como tem sido feito em países que tiveram êxito no controle da Covid-19”, declarou o ex-ministro. “Não faz sentido a decisão do governo do estado de São Paulo. Como flexibilizar quando todos os indicadores são contra, quando estamos entrando na fase mais crítica?”, questionou.
Recursos federais, testagem e vacina
Ainda segundo Chioro, a previsão de óbitos no Brasil também é trágica. Ante as 44 mil mortes esperadas caso o contágio do coronavírus fosse controlado, a expectativa atual é que o país tenha 120 mil mortes até o fim da pandemia. “É uma verdadeira tragédia”, disse Chioro. Ele também criticou a falta de transferência dos recursos do Ministério da Saúde para os estados e a baixa testagem da população. “Outros países, como Estados Unidos e Espanha, testam de 10 a 20 vezes mais que o Brasil”, completou.
Questionado pelos parlamentares sobre as perspectivas de vacinas contra a Covid-19, Chioro informou que há 123 iniciativas de criação em todo mundo, duas no Brasil. Pelo menos dez estudos já estão em fase mais avançada, ainda assim, o médico enfatizou que nenhuma vacina será disponibilizada antes de um ano, devido aos protocolos e estudos rígidos necessários para a criação de uma vacina a nível mundial.
O SUS na pandemia
Também presente à reunião, o presidente do Simesp (Sindicato dos Médicos de São Paulo), Eder Gatti Fernandes, apresentou um panorama dos desafios dos profissionais que trabalham no SUS (Sistema Único de Saúde) durante a pandemia. Segundo ele, a rede pública de saúde já estava sucateada antes mesmo do início da crise pelo novo coronavírus. “Falta de equipamentos, de insumos e especialmente de recursos humanos”, descreveu. Fernandes espera que, como legado, a pandemia deixe a valorização e investimento no SUS.
Na avaliação do médico, o Brasil também não possui uma vigilância estruturada para tomar decisões de combate à pandemia. “O isolamento se enfraquece ao longo do tempo, diante da contradição das autoridades sanitárias”, declarou Fernandes, referindo-se ao embate entre estados e o governo federal. O presidente do Simesp disse ainda que falta ajuda aos mais pobres, pois muitos não podem ficar em casa sem renda ou a alimentação básica, e alertou para o grande contágio nas periferias da cidade.
Vice-presidente da Comissão de Saúde, vereador André Santos (REPUBLICANOS), afirmou que, como resultado da pandemia, “haverá uma cobrança para que a saúde seja mais estruturada no país”. Também estiveram presentes na reunião os vereadores Celso Giannazi (PSOL), Gilberto Natalini (PV), Juliana Cardoso (PT), Milton Ferreira (PODEMOS) e Noemi Nonato (PL).
Confira abaixo a íntegra da reunião da Comissão de Saúde