A Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente realizou, nesta sexta-feira (11/10), na Câmara Municipal de São Paulo, Audiência Pública para discutir um acordo de cooperação para a construção do Boulevard da Diversidade, junto ao complexo Cidade Matarazzo, nas imediações da avenida Paulista.
O boulevard integra um empreendimento que dará novo uso a edificações históricas, como a Maternidade Condessa Filomena Matarazzo, que será transformada em hotel seis estrelas e abrigará, no entorno, um complexo de lojas e restaurantes. Além do boulevard, o acordo visa a requalificação da região próxima, nas alamedas das Flores e Rio Claro, no trecho das ruas São Carlos do Pinhal e Itapeva, em uma área total de aproximadamente 10 mil metros quadrados.
O projeto do boulevard, orçado em R$ 130 milhões, inclui passagem subterrânea, em um trecho de cerca de 100 metros de extensão da rua São Carlos do Pinhal, para o tráfego de carros e ônibus, liberando assim a parte superior, em nível com a Paulista, para instalação do boulevard verde, integrado à área do complexo Cidade Matarazzo, composto por hotel, centro comercial e cultural.
Segundo a arquiteta urbanista responsável pelo projeto, Adriana Levisky, a obra tem o objetivo de valorizar o pedestre. “Do ponto de vista do projeto em si, ele essencialmente busca dar protagonismo ao cidadão, ao pedestre. Também pretende fazer uma deferência à cidade de São Paulo, valorizar uma região ultrassimbólica, com valor afetivo e turístico enormes para quem vem visitar a capital”, disse a arquiteta.
A intervenção foi defendida por moradores locais, presentes à audiência. “Nossa rua, a alameda Rio Claro, será a mais impactada, porque ela vai virar uma rua sem saída. Essa mudança diminuirá o tráfego de veículos e impactará na diminuição, por exemplo, dos acidentes. Isso traz mais tranquilidade aos moradores”, afirmou o engenheiro Sérgio Roberto Pinto Teixeira.
Moradora da área, a arquiteta Dirce Carrion destacou o caráter inovador do boulevard. “Um empreendimento deste porte, que se preocupa com a questão da sustentabilidade e do interesse público, que cria um espaço tão raro em São Paulo de convivência, de circulação, democrático, que não visa confinar as pessoas, em contraponto com uma cidade tão árida, ele traz benefícios não só aos moradores, mas também para a população em geral”, avaliou Dirce.
No entanto, nem todos os participantes da audiência concordam com o empreendimento. “Como edifícios comerciais, que estão encravados na intervenção, somos afetados de forma diferente dos edifícios residenciais. E, diferente de outras pessoas, não fomos consultados sobre a construção do boulevard, o que nos estranha, porque nossa anuência é importante e está no decreto de mobilidade da cidade”, disse Fernando Dentes, representante de dois edifícios próximos.
Representando moradores da avenida Paulista e entorno, Rafaela Galletti questionou a ausência de dados concretos relacionados às consequências da obra. “Temos muitas dúvidas em relação ao projeto, como os impactos nos moradores ou se existem estudos demográficos que permitam fazer essa integração com a obra. Temos dúvidas quanto à necessidade do túnel e do efeito que causará nas ruas afetadas, em diferentes situações”, pontuou Rafaela.
Condições para implantação
A criação do Boulevard da Diversidade, cujo término das obras está previsto para 2020, foi proposta pela Associação São Paulo Capital da Diversidade, que apresentou, após chamamento aberto pela prefeitura, as condições para implantação do projeto e o gerenciamento do espaço por 30 anos.
Para o presidente da associação, Jaques Brault, a participação popular na audiência foi positiva. “Os elogios falaram sobre a forma do projeto e os benefícios para a região. Já as críticas giraram em torno, principalmente, da forma de comunicação com a sociedade. É normal, em uma intervenção importante como essa, que haja críticas. Mas hoje realizamos mais um debate e continuaremos o diálogo com a população de São Paulo”, afirmou Brault, que anunciou a criação de uma página na internet para divulgar informações relevantes.
Na avaliação do vereador José Police Neto (PSD), propositor da audiência, o debate desta sexta-feira mostrou que é preciso haver mais diálogo entre a associação e os moradores. “A Câmara se colocou como mediadora desta discussão, trazendo o Executivo, os empreendedores e a sociedade. Não me parece haver divergência na vontade de fazer uma cidade melhor, para os pedestres, com espaços de encontro. A questão é como fazer e como encontrar a solução para o problema que a cidade já tem”, disse Police.
Também participou da Audiência Pública o vereador Souza Santos (REPUBLICANOS).