A discussão sobre a construção do Boulevard da Diversidade, junto ao complexo Cidade Matarazzo, nas imediações da avenida Paulista, foi tema de uma Audiência Pública realizada nesta segunda-feira (11/11), por solicitação da Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente.
A obra deve ser realizada por acordo de cooperação entre a Prefeitura de São Paulo e a “Associação São Paulo Capital da Diversidade”, com investimento exclusivo de capital privado para implantação do espaço de convivência e passagem de pedestres, além de túnel em desnível para veículos.
O orçamento previsto para o boulevard é de R$130 milhões.
Esse dinheiro deve ser usado para construir uma passagem subterrânea de aproximadamente 100m de extensão da rua São Carlos do Pinhal, com a intenção de ligá-la à área do complexo Cidade Matarazzo, composto por hotel, centro comercial e cultural.
O empreendimento dará novo uso a edificações históricas, como a Maternidade Condessa Filomena Matarazzo, que será transformada em hotel 6 estrelas e abrigará, no entorno, um complexo de lojas e restaurantes.
A intenção também é requalificar a região próxima, com intervenções na alameda Rio Claro, que se tornará uma via sem saída, e mais um trecho da rua Itapeva, em uma área de cerca de 10 mil m2.
Prós e contras
Primeiro a se manifestar, o advogado Fernando Koin Kruise, representante de 2 edifícios empresariais do entorno, contestou a necessidade da intervenção nas imediações.
E questionou o processo burocrático para apresentação de documentação e da declaração de obra de interesse público. O advogado também criticou a redução de vagas de estacionamento e pontos de táxi.
Já o presidente da Associação São Paulo Capital da Diversidade, Jacques Brault, disse que o empreendimento tem a intenção de melhorar o espaço, favorecendo a diversidade de uso:
“Estamos aqui para defender um projeto de requalificação para a região, com promoção de cultura, meio ambiente, segurança pública, entre outros, sem nenhum custo para o cidadão paulistano”, afirmou Brault.
A arquiteta e urbanista Adriana Levinsky, responsável pelo projeto, garantiu que o processo tem obedecido, desde 2016, os trâmites legais necessários para avaliação de impactos urbanos, ambientais e de tráfego, nos órgãos competentes:
“Passamos por todas as esferas para alcançar o grau de consistência da proposta, incluído todo o embasamento técnico e jurídico”, explicou a arquiteta.
Adriana também ressaltou o caráter de melhoria da segurança das imediações, pois considera que a ocupação de espaços com atividades evitaria o uso indevido. Entre outros benefícios apontados estão:
1. O plantio de mais de 400 árvores
2. A redução da poluição sonora
3. A drenagem de águas pluviais.
Condomínios residenciais
Representando moradores de condomínios residenciais, Gustavo Paterzani elogiou o projeto e sua finalidade de renovar o uso do espaço público. Criticou, porém, a passagem subterrânea:
“A convivência e todos os benefícios apresentados do bom uso do espaço já existem na região da Paulista. Existem soluções técnicas mais rápidas e baratas para a passagem em nível de pedestres, sem a necessidade do túnel”, apontou Gustavo.
Marta Lilian Porta, presidente da Associação de Moradores do Bairro da Consolação e Adjacências, cobrou transparência:
“Se está tudo certo, não há motivo para haver a demora para trazer as informações claras às pessoas que serão impactadas, que são especialmente os moradores do entorno”, disse Marta.
Morador da região dos Jardins, José Eduardo Moura elogiou o empreendimento pelo desempenho social, urbanístico e principalmente ambiental da iniciativa:
“A valorização de imóveis para mais um espaço de incentivo ao empreendedorismo e a melhoria de área verde para a convivência e passagem de pedestres são grandes benefícios”, defendeu Moura.
Rodrigo Candin, morador da rua São Carlos do Pinhal, reclamou que ficou sabendo há muito pouco tempo do projeto, tendo sido informado por funcionários que preparam o local da obra:
“Não vejo com bons olhos a obra, respeito os profissionais que estão aqui, mas não vejo a menor necessidade do túnel para nós”, afirmou Candin.
Roberto Toffoli, que trabalha na área de preservação do patrimônio histórico do Complexo Matarazzo, ressaltou a importância de que, numa época em que o investimento do Estado está cada vez mais escasso, as pessoas aprendam a contar com as contribuições da iniciativa privada.
Para o empresário Ricardo Almeida, as pessoas contrárias à iniciativa ainda não tiveram acesso às informações sobre o empreendimento:
“É preciso haver equilíbrio nas informações para todo mundo tirar as dúvidas, e não haver equívocos sobre a intenção deste projeto”, disse Almeida.
Maurício Lousada, morador da alameda Rio Claro, disse que a ideia é boa e irretocável, de maneira geral, mas que os detalhes ainda não estão claros:
“Se houvesse um diálogo mais sério e respeitoso, talvez nem fosse necessária essa Audiência Pública”, opinou.
Representante de um condomínio residencial das redondezas, Sérgio Teixeira contestou as críticas, alegando que há anos os moradores recebem convites para tirar dúvidas:
“Quem atendeu aos convites está sabendo há dois ou três anos, no mínimo. No meu condomínio, todos são a favor porque estamos substituindo um trecho de rua por jardim, aumentando a área verde. E principalmente porque a alameda Rio Claro vai ter apenas trânsito local, mais tranquilo, o que causará valorização dos nossos imóveis”, afirmou.
O representante da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), Érico Zamboni, disse que não haverá prejuízo para o trânsito. E apontou uma melhora relativa para os pedestres. Sobre impacto do desvio do trânsito, especialmente nos dias em que a avenida Paulista está interditada, a CET está fazendo simulações nessas ocasiões.
O vereador Gilberto Natalini (PV) reiterou, porém, as reclamações de falta de transparência durante o processo:
“Considero que as obras para preservação e para dar um novo uso são positivas para a requalificação daquele ambiente. Ouvi com muita atenção todas as opiniões, a favor e contra. Todas as pessoas precisam ser respeitadas, pois se trata da vida delas impactadas diretamente”, disse Natalini.
Já o vereador José Police Neto (PSD) lembrou que aquela é considerada a área mais importante do ponto de vista cultural e urbanístico da cidade de São Paulo, de acordo com o Plano Diretor:
“Ali a gente tem cultura permanente, por conta da população da cidade, que leva cultura para lá e garante essa diversidade. Porém, se o projeto não conseguiu convencer a todos, é porque ele talvez não esteja pronto”, considerou Police.
“A proposta que eu faço é que possamos avançar no debate do projeto em reuniões técnicas, para que sejam discutidos os pontos específicos apontados aqui como pendentes da aprovação de todos”, ponderou o parlamentar.
O vereador Souza Santos (REPUBLICANOS), que presidiu a audiência, solicitou ao subprefeito da Sé, Francisco Roberto Arantes Filho, uma reunião técnica com 3 representantes a favor e 3 contrários ao projeto, mediada pelo Poder Executivo, com a participação dos vereadores.
A reunião ficou pré-agendada para o dia 21/11. O subprefeito também disse que todos os documentos do processo estão disponíveis para consulta na subprefeitura.