Para especialista, MP do ensino médio é uma forma de disfarçar o déficit de professores licenciados no ensino básico
GIOVANNA FORCIONI
DO PROJETO REPÓRTER DO FUTURO
Professores que dão aulas em disciplinas nas quais não têm formação específica são uma realidade na rede pública de ensino do país. Censo divulgado em março deste ano, pelo Ministério da Educação (MEC), revelou que 38,7% dos profissionais não cumprem todos os requisitos desejáveis para lecionar.
A falha estrutural no processo de formação se deve, segundo o especialista Celso Napolitano, à desvalorização da carreira, aos baixos salários e à falta de reconhecimento. ”Precisa ter um redesenho dessa profissão, até em termos de investimento em educação, para poder atrair pessoas que tenham vocação, apetrechos e formação necessários para atuar na sua área”, afirma o Presidente da Federação dos Professores do Estado de São Paulo (FETESB) e diretor do Sindicato dos Professores de São Paulo (SINPRO/SP).
O MEC divide os mais de 200 mil educadores que precisam de complementação em seus estudos em 4 categorias: não possuem licenciatura, mas sim bacharelado; possuem licenciatura em outra área; possuem graduação em áreas correlatas; ou possuem apenas diploma do ensino médio.
Ana Paula Franco, professora de Biologia na Escola Estadual Bairro De Monte Serrat, faz parte da terceira categoria. Formada em nutrição, ela considera ter pleno conhecimento sobre o assunto e nega ter dificuldades em lecionar para alunos do Ensino Médio do colégio de Itupeva, no interior de São Paulo. “Como meu curso é da área de saúde e eu fiz formação pedagógica em Biologia, não há muita dificuldade. ”
Apesar de muitos professores se considerarem aptos para as funções que exercem, o governo federal garantiu a abertura de 105 mil vagas em cursos de formação para aqueles que se interessarem. As aulas acontecerão no período de férias escolares e cada profissional poderá se candidatar apenas àquelas correspondentes à disciplina que leciona.
O que muda com a reforma do ensino médio
Anunciada pelo governo de Michel Temer, a reforma do ensino médio em tramitação no Congresso pode trazer alterações nas estatísticas sobre a realidade dos profissionais da educação no ensino básico.
A flexibilização do currículo proposta pelo projeto busca acabar com a noção de disciplina e instituir cinco grandes áreas de conhecimento: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica. Esse novo conceito pedagógico permite que os alunos escolham sua trajetória de assuntos estudados e enfatizem a formação de competências.
Os tópicos conceituais obrigatórios ainda serão determinados pela Base Nacional Comum Curricular, que deve ser concluída até 2017, mas críticas às propostas da medida provisória já são apresentadas. Napolitano, por exemplo, acredita que o plano do governo federal é apenas uma forma de “tapar o sol com a peneira”.
O projeto, ainda em análise, argumenta que alguém pode atuar como professor se tiver ‘notório saber’ sobre determinado assunto. “Ao dizer que não precisa mais ter disciplina, mas sim áreas do conhecimento, o déficit de professores qualificados não vai existir mais”, explica o presidente da FEPESP, que critica o fato de que muitos profissionais, mesmo sem formação, poderão ocupar as salas de aula, utilizando-se do vago conceito.
O Portal da Câmara publica semanalmente os melhores textos de alunos que participam do projeto ‘Repórter do Futuro’ – uma parceria da Oboré (Projetos Especiais em Comunicação e Arte) com a Escola do Parlamento da Câmara Municipal, como uma maneira de estimular a excelência jornalística dos futuros profissionais do setor.