Ao som do Hino Nacional em ritmo de samba e da Internacional Comunista, o militante político Carlos Marighella, depois de 40 anos, foi homenageado com a entrega do Título de Cidadão Paulistano (in memoriam), em sessão solene realizada, na noite de quarta-feira (04/11), no Salão Nobre da Câmara Municipal de São Paulo.
Ao ato, estiveram presentes representantes de vários movimentos políticos e sociais, entre eles o chefe de gabinete do governador José Serra, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), e o ex-ministro da Casa Civil no governo Lula, José Dirceu, além de ex-presos políticos.
A iniciativa da homenagem a Marighella, um dos principais organizadores da luta para a criação de um Estado Socialista e contra as ditaduras de Getúlio Vargas e dos militares a partir de 1964, foi do vereador Ítalo Cardoso (PT).
“Marighella representou uma reação da sociedade civil brasileira ao longo do século XX relutou em não aceitar a chibata da ditadura militar”, destacou Cardoso.
Filho de um imigrante italiano com uma baiana, Carlos Marighella entrou cedo para o Partido Comunista. Foi deputado constituinte em 1945, mas foi cassado quando seu partido se tornou ilegal. Ele chegou a ser preso durante a ditadura militar.
Em 1967, após uma viagem clandestina a Cuba, rompe com o PCB. Viaja pelo país para organizar a Aliança Libertadora Nacional (ALN), que pratica ações de guerrilha urbana. É a ALN que executa, junto com o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), sob o comando de Joaquim Câmara Ferreira, o sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, a ação de maior repercussão internacional da resistência armada à ditadura militar brasileira.
Em 4 de novembro 1969, foi morto à tiros por agentes do Departamento de Ordem Política e Social, Dops.
“Morreu, mas deixou o seu legado e sua história, e, hoje, quando faz 40 anos, estamos nesta Casa de Lei prestando uma homenagem a ele. Nada mais justo que a Câmara Municipal da cidade onde ele estava quando foi assassinado reconhecer seu valor e dar a ele o Título de Cidadão Paulistano in memoriam”, acrescentou Cardoso.
Marighella passou grande parte de sua vida na ilegalidade. Quarenta anos depois de sua morte a homenagem é uma forma de mostrar a toda população brasileira a verdadeira história. “Hoje, passados 40 anos, o que a gente vê é que a Câmara de São Paulo desmitifica completamente essa mentira. E nós estamos muito orgulhosos, porque ao conceder esse título a meu pai também, estamos dizendo que tratava-se de uma pessoa digna, que lutou e devotou sua vida a uma bandeira política muito importante, que é a bandeira da soberania do País, da justiça social, da liberdade”, declarou Carlos Augusto Marighella.
Já o presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Paulo Abrão, disse que “quando mataram Marighella queriam matar o socialismo, a crença na justiça social e na igualdade”. E mais: “Quiseram também que o esquecêssemos, e o estigmatizaram como inimigo do povo.”
Aloysio Nunes Ferreira, que foi integrante do grupo, não falou durante a cerimônia, mas citou Antonio Candido, ao afirmar que Marighella simboliza a “rebelião contra a tirania”.